Mocktails: entenda a moda dos drinques sem álcool
Mudança de comportamento levou a indústria de bebidas a criar versões mais leves ou não alcoólicas de carros-chefes como o gin
09/10/2021Para os bartenders tradicionais, o conceito pode até soar como sacrilégio. Mas depois da onda de laticínios sem lactose, carne sem proteína animal e massas sem glúten, os drinques sem álcool, ou mocktails, ganham espaço no coração do consumidor e começam a mudar o comércio e a indústria de bebidas.
A Diageo, maior fabricante de bebida alcoólica do mundo comprou a Seedlip, uma produtora de água aromatizada para substituir o gin.
É água, vende como água, não tem um pingo de álcool e pode ser encontrada em duas versões: a Gerden 108, feita de ervas, e a Spice 94, de especiarias. Custa em média R$ 180 a garrafa.
O inglês Beefeater, um dos rótulos de gin mais conceituados da mixologia, é encontrado por cerca de R$ 100. Seu teor alcoólico é de 47%
Não por outro motivo, a Pernod Ricard desenvolveu versões light (27% de álcool) e sem álcool do Beefeater.
Existem ao menos 42 marcas de ‘destilados sem álcool’ na Inglaterra e outras 29 nos Estados Unidos. Mais de 20 começaram a produção em 2021. Em geral, as versões sem álcool são mais caras que as tradicionais.
Bares sóbrios
A verdade é que não falta público. Em Nova York, Tóquio e até em Londres os sober bars, que não servem absolutamente nenhuma opção alcoólica, têm se multiplicado.
O público médio é jovem e pesquisas de consumo mostram que, entre zennials, o desejo de cuidar da saúde e de evitar a ressaca estão no topo das razões da escolha por esses locais.
O Getaway, na Big Apple, se especializou em servir garrafas e latas das pequenas e médias produções de vinhos, cervejas e “gins zero” sem nem uma gota de etanol. E tem também as criações próprias, como o mocktail Rosemary Latte, à base de syrup de alecrim, um charope feito ali mesmo.
O bar Low tem no menu apenas cinco, que vendem como água para quem consegue reserva.
Um dos favoritos dos londrinos lembra um pub e tem cardápio vegano. O Library Bar, no Hyde Park, parece um bar típico da capital inglesa do período entre guerras. Mas é tudo de mentirinha.
Assim como o cenário, os mocktails imitam perfeitamente coquetéis tradicionais, como o Genuine & Tonic, que leva, de genuína, a água tônica inglesa. No mais, água aromatizada com pimenta no lugar do gin.
Mocktails ainda convivem com coquetéis no Brasil
Nas capitais brasileiras os bares de coquetelaria tradicional aumentam as opções de não alcoólicos no cardápio.
O Negroni, em São Paulo, especializado na mistura que dá nome à casa, tem uma série de versões alcool free da mistura clássica, como o Do Padre (cranberry, suco de uva integral, limão siciliano e água com gás), a R$ 32.
O Venga!, no Rio de Janeiro, também cria versões virgens de drinques tradicionais com tanta perfeição que é preciso marcar o copo de mesas compartilhadas com consumidores de álcool.
Mas ainda poucos se arriscam como André Berti, que excluiu todas as opções etílicas do cardápio de seu Jazz Restaurante, na Vila Mariana, em São Paulo.
O empresário não se arrepende: com público 70% pertencente à geração zennial, o bar fatura por mês uma média de R$ 150 mil reais servindo cervejas, vinhos e drinques sem nenhum álcool. E nunca terminou uma noite tendo que lembrar cliente do horário de fechamento do salão.