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Navio que naufragou no gelo há mais de 100 anos é localizado

Navio do explorador britânico Ernest Shackleton ficou preso no gelo em 1915, e sobreviventes se alimentaram de focas e pinguins em uma épica história de sobreviência

Endurance

O veleiro se perdeu em janeiro 1915 durante uma tentativa fracassada de fazer a primeira travessia da Antártida | Foto: Divulgação

A acidificação dos oceanos e o derretimento das geleiras colocam em risco a manutenção do destroços do navio Endurance, mais de um século depois de o lendário navio ficar preso no gelo e afundar na Antártica. Quem afirma é o arqueólogo marinho Mensun Bound, responsável pela expedição que descobriu os restos da histórica embarcação.

Segundo o arqueólogo, a proteção do veleiro não está garantida devido às ameaças combinadas. Uma terceira ameaça são os piratas tecnológicos, que utilizam tecnologia robótica submarina para roubar peças da embarcação. Ele cita também o risco de derretimento das camadas de gelo que escondem a descoberta.

A expedição pela Antártida encontrou os destroços do navio Endurance, embarcação que naufragou em 1915 durante uma tentativa inédita de travessia da região. A estrutura foi localizada em bom estado a 3 mil metros de profundidade e a seis quilômetros de onde originalmente se estimava que estivesse.

Há mais de cem anos, a viagem liderada pelo explorador britânico Ernest Shackleton ficou mundialmente conhecida após o périplo da tripulação pela sobrevivência em condições extremas. A localização da embarcação foi divulgada nesta quarta-feira, 9, pela equipe que realiza a expedição de localização, o Endurance22.

As filmagens mostram o navio em boas condições, com seu nome claramente visível na popa. Segundo o New York Times, a busca pelo naufrágio, que custou mais de US$ 10 milhões, foi financiada por um doador que preferiu manter o anonimato.

Tentativas anteriores de localizar os destroços de madeira, com 44 metros e três mastros, cuja posição geográfica foi registrada por seu capitão Frank Worsley, falharam por causa das condições hostis do Mar de Weddell, na Antártida, coberto de gelo.

A missão Endurance22, organizada pelas Malvinas Maritime Heritage Trust, usando veículos subaquáticos avançados e equipados com câmeras de alta definição e scanners, rastreou os restos da embarcação.

As filmagens mostram o navio em boas condições, com seu nome claramente visível na popa | Foto: Divulgação

Os submersíveis movidos a bateria vasculharam o fundo do mar duas vezes por dia, por cerca de seis horas de cada vez. Eles usaram o sonar para escanear uma faixa do fundo do mar liso, procurando por qualquer coisa que se elevasse acima dele.

Após a localização, o equipamento foi trocado por câmeras de alta resolução e outros instrumentos foram usados para fazer imagens e varreduras detalhadas.

Iniciada em fevereiro a partir da Cidade do Cabo, a expedição – liderada pelo explorador polar britânico John Shears, operada a partir do navio quebra-gelo sul-africano Agulhas II – descobriu que o Endurance estava a seis quilômetros da posição registrada, em 1915, por seu capitão, Frank Worsley.

Nos termos do Tratado da Antártida – pacto de seis décadas destinado a proteger a região – o naufrágio é considerado um monumento histórico. Os submersíveis não tocaram na embarcação. As imagens e digitalizações serão usadas como base para materiais educativos e exposições em museus. Um documentário sobre o navio também está sendo planejado.

O veleiro de três mastros se perdeu em janeiro 1915 durante uma tentativa fracassada de Shackleton de fazer a primeira travessia terrestre da Antártida. Ele tentou cruzar a Antártida, em uma travessia de 2.900 quilômetros através do continente gelado, do Mar de Weddell ao Mar de Roos, passando pelo Polo Sul.  Sob seu comando, os 27 homens da embarcação queriam ser os primeiros a cruzar a Antártida a pé. (AE)

Após naufrágio, os tripulantes caminharam pelo gelo marinho, se alimentando de focas e pinguins |Foto: Divulgação

O navio saiu de Londres, na Inglaterra, em 1914, um ano antes do naufrágio, em direção à baía do Mar de Weddell, ponto de partida da expedição para tentar cruzar o continente. Isso foi perto do fim do que ficou conhecido como a era heróica da exploração da Antártida, que incluiu caminhadas do norueguês Roald Amundsen, que em 1911 foi o primeiro a chegar ao Polo Sul, e de Robert Falcon Scott, um britânico que só chegou um mês depois e morreu no caminho de volta.

Esmagada pelo gelo espesso das águas marinhas, a embarcação Endurance ficou presa a menos de 160 quilômetros de seu destino, ficando à deriva. Ela foi perfurada pelo gelo e, dez meses depois, em novembro de 1915, afundou.

Os tripulantes caminharam pelo gelo marinho, se alimentando de focas e pinguins. Depois, Shackleton e alguns tripulantes remaram cerca de 1.300 quilômetros no bote salva-vidas James Caird até as ilhas Geórgia do Sul, no Atlântico Sul, onde encontraram ajuda em uma estação baleeira.

Na quarta tentativa de resgate, Shackleton conseguiu retornar para buscar o restante da tripulação na Ilha Elefante em agosto de 1916, dois anos depois da sua Expedição Imperial Transantártica ter deixado Londres.

Embora não tenham alcançado o objetivo,  a tripulação conseguiu se salvar, fato considerado como uma das grandes histórias de sobrevivência humana. Eles enfrentaram dois invernos no gelo sem nenhuma morte. Shackleton nunca chegou ao Polo Sul ou além, mas sua liderança no resgate de toda a sua tripulação e suas façanhas fizeram dele um herói na Grã-Bretanha.

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