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‘Investimento é chave para o crescimento’, diz Levy

Em entrevista ao jornal Valor, o economista Joaquim Levy fala sobre a importância dos investimentos para o crescimento econômico

A volta do emprego tem de ser a prioridade número um, mas para isso é preciso que haja investimentos, afirma Joaquim Levy | Foto: Reprodução

Quando o dólar vai começar a cair? Na opinião do ex-ministro Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra, a desvalorização do real frente ao dólar reflete o cenário de baixo nível de investimentos que o Brasil enfrenta.

Ele fez a análise em entrevista ao jornalista Carlos Alberto Sardenberg para o jornal Valor, sobre as projeções econômicas para o 2° semestre de 2021.

“O equilíbrio da moeda se dá pelo interesse, em ultima instância, dos investidores na economia. Em geral, os países que apresentam uma moeda mais fraca estão recebendo menos investimentos. Se você tem grandes investimentos, o dinheiro entra e fortalece a moeda. Se a percepção de investimentos melhorar, as empresas vão trazer dólares para investir. Os exportadores também vão deixar menos dinheiro lá fora. O investimento é a chave”, disse Levy.

Ele disse acreditar que o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 5% este ano.

“A volta do emprego tem de ser a prioridade número um, mas para isso é preciso que haja investimentos. É preciso que haja atratividade para os investimentos”, disse.

Levy destaca que houve avanços no ambiente de negócios, como o novo Marco do Saneamento, o que ajuda a atrair investimentos.

“Quando se olha os investimentos das empresas, ele está muito contido. Ainda existe muita cautela, há o risco hídrico e será preciso mais alguns meses para ter certeza de como vai ficar a situação”, comentou.

Levy defende investimentos em energia verde

Levy defende os investimentos em sustentabilidade como uma das oportunidades para a economia brasileira nos próximos anos.

“Investimentos em energia eólica e solar para produzir hidrogênio, por exemplo, são uma excelente forma de atrair investimentos. O mundo inteiro tem interesse em investimentos voltados para a produção de energia limpa. Tenho certeza de que se houver iniciativas nessa área isso pode ajudar a valorizar a nossa moeda, e o Brasil está bem posicionado para aproveitar essas oportunidades”, afirmou.

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O ex-ministro também defendeu a necessidade de reduzir a burocracia e adotar outras medidas para melhorar o ambiente de negócios.

Ele citou o projeto de lei de regulamentação do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões, destinado a impulsionar negócios com crédito de carbono – compensação financeira para quem adota práticas de emissões mínimas de gases poluidores da atmosfera e de preservação ambiental.

O projeto de Lei nº 528/2021 foi apresentado pelo deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM).

"Todas as empresas estão interessadas e trabalhando para investir em energia verde, e precisamos de um marco regulatório para permitir que isso aconteça", afirmou.

A decisão sobre a tecnologia do 5G também foi citada como um fator que deve atrair investimentos.

Inflação e juros em alta

Sobre o crescimento daqui para a frente, Levy acredita que o ritmo depende de um conjunto de fatores a serem superados, alguns que precedem a pandemia.

Com relação ao cenário de inflação, ele explica que a alta decorre da retomada muito rápida da economia após a crise após o início da pandemia, o que dificulta a oferta de bens e serviços em acompanhar a demanda crescente.

"Boa parte do crescimento tem a ver com aumento de estoques. No ano passado, mudou o tipo de consumo e alguns setores tiveram dificuldade de acompanhar a demanda. Isso provocou uma inflação de commodities no mundo inteiro. Os preços já estão parando de subir, mas não se sabe quando vão cair. No Brasil, no caso do arroz, o preço até caiu um pouco. Outros pararam de crescer".

"O Brasil teve uma recuperação forte, graças à injeção de quase R$ 1 trilhão na economia. Esse impulso se dissipou em parte pelos aumentos de preços, mas a economia continua crescendo. Também tivemos um fenômeno que foi a alta das commodities, que elevou muito a receita com exportações. Com essa combinação, a economia está rodando quase que como estava antes da pandemia, mas de forma ainda muito desigual entre setores".

Os preços administrados, como a gasolina e a energia, estão pressionando inflação, destacou o ex-ministro.

No caso do petróleo, os preços podem parar de subir, mas a pressão na energia elétrica ainda deve continuar ao longo do ano. Mesmo que as condições hídricas melhorem, ainda vai haver reflexos em 2022, na opinião dele.

"Por isso as taxas de juros devem continuar subindo mais rápido. A Selic deve chegar em dezembro a 7% em 12 meses, talvez até um pouco acima. É provável que a inflação esteja ao redor de 4% ou um pouco mais no fim do ano, o que exige uma taxa de juros mais salgada. Significa que o salário mínimo também deve subir e puxar inflação para 2022".

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