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Henrique Freire

Henrique Freire

A consolidação do ESG no início de uma nova década

Chegamos a 2021 ainda em um contexto de pandemia. Este cenário, que no princípio muitos achavam que seria passageiro, acabou se estendendo e fazendo com que a sociedade tivesse de se reinventar. Com isso, muitos temas, há muito cobrados, foram trazidos para a ordem do dia. Um dos assuntos inegavelmente é o ESG, sigla de […]

Chegamos a 2021 ainda em um contexto de pandemia. Este cenário, que no princípio muitos achavam que seria passageiro, acabou se estendendo e fazendo com que a sociedade tivesse de se reinventar.

Com isso, muitos temas, há muito cobrados, foram trazidos para a ordem do dia. Um dos assuntos inegavelmente é o ESG, sigla de Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança) traduzido para o
português.

Quando há um ano Larry Fink, CEO da BlackRock, enviou uma carta aos CEOs das principais empresas globais dizendo que o seu grupo evitaria fazer investimentos em empresas de elevado risco de sustentabilidade, estaria longe de imaginar o que teríamos pela frente em 2020.

A pandemia não atenuou esta mensagem, pelo contrário, acelerou-a e
deverá influenciar as lideranças empresariais por muitos anos.

Ficou claro que precisamos modificar a relação da humanidade com o planeta. Questões como a preservação da Amazônia e Pantanal, por exemplo, deixaram de ser “debate de ambientalistas” e passaram a ser uma preocupação global.

Da mesma forma, a intenção da China em adotar políticas e medidas mais vigorosas para atingir o pico das emissões de dióxido de carbono antes de 2030 e a neutralidade em carbono antes de 2060 é recebida com bons olhos pelo planeta.

A União Europeia também anunciou os seus objetivos de atingir a neutralidade climática até 2050 em conformidade com o acordo de Paris.

Outro ponto que reforça a importância global dada ao tema, foi a intenção do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em colocar a política ambiental com papel central em seu mandato, elevando o assunto para outro patamar.

É importante ter em mente que a tarefa não se deve resumir apenas aos governantes, mas envolve também a sociedade civil.

E as empresas? Elas devem fazer algo diferente, poderiam adotar novas práticas?

A verdade é que a sustentabilidade ocupa espaço em comunicados de empresas já há algum tempo, mas muitas vezes, estas encaram a agenda
ESG com um certo cinismo e até resistência, com a ideia de que estamos perante a mais uma moda, mais um avanço do politicamente correto, e no final, o que realmente continuará a importar será o lucro e a rentabilidade.

Seria isso mesmo? Estou convicto que não. O ESG não é uma moda passageira, é um assunto sério que tem que ser encarado com todo o empenho e certamente ganhará mais peso na definição sobre destino de
investimentos de fundos de equity ou de dívida.

As empresas que merecerem aportes terão que conquistar sua credibilidade globalmente. E este nível só poderá ser alcançado com uma comunicação clara e com ações concretas, sempre com a ideia de que se trata de um
desafio para maratonistas e não para sprinters.

Apesar das regulamentações, como o Sustainability Accounting Standards Board (SASB), que lançou 77 normas contábeis específicas do setor, as empresas continuam sendo as responsáveis pela qualidade e veracidade dos dados que divulgam publicamente.

E é neste momento que o ESG deve mostrar-se de fato efetivo, e a divulgação dos relatórios de sustentabilidade, por exemplo, têm grande importância.

No caso da EDP, começamos por iniciativa própria a informar nossas ações, pois os princípios de sustentabilidade fazem parte da cultura da companhia há muito tempo. Com isso, utilizamos nossa experiência e adotamos essa prática por entender que os dados demonstram preocupação com a atuação
da empresa e impactos que vão além do aspecto financeiro.

Seguir melhores práticas de divulgação é necessário, mas é importante assumir compromissos futuros. Isso nos levou a assumir publicamente várias posturas.

Um exemplo disso é o compromisso com o Business Ambition for 1,5ºC – Our Only Future, junto à Organização das Nações Unidas, para reduzir emissões a fim de garantir que o aquecimento global não exceda 1,5°C.

O ESG também precisa olhar para dentro da empresa e em direção à sociedade, com a adoção de políticas afirmativas entre colaboradores e as comunidades onde está inserida.

E cada vez mais, os investidores irão valorizar e tomar decisões de negócios baseados em premissas de cuidado com o meio ambiente e pessoas, muito além de questões apenas financeiras. Em vez de falar em lucro, preferimos falar em lucro com qualidade.

A pandemia colocou enormes desafios à nossa sociedade e um impacto ainda imprevisível para a economia de 2021. No entanto, acreditamos que as preocupações ambientais e sociais vieram para ficar e precisam ser medidas e supervisionadas por uma Governança efetiva.

É ela quem vai ajudar a ampliar a visão dos investidores. Diante deste cenário, o ano de 2021 marcará o início de uma nova década, onde o ESG tem que estar no topo da agenda de todos os decisores políticos e empresariais.


Henrique Freire é Vice-Presidente financeiro(CFO) da EDP Brasil desde 2015. Licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, com MBA na Universidade Nova Lisboa. Atuou nas áreas de finanças corporativas e fusões e aquisições em grandes instituições financeiras e consultorias.

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