Chegamos a 2021 ainda em um contexto de pandemia. Este cenário, que no princípio muitos achavam que seria passageiro, acabou se estendendo e fazendo com que a sociedade tivesse de se reinventar.
Com isso, muitos temas, há muito cobrados, foram trazidos para a ordem do dia. Um dos assuntos inegavelmente é o ESG, sigla de Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança) traduzido para o
português.
Quando há um ano Larry Fink, CEO da BlackRock, enviou uma carta aos CEOs das principais empresas globais dizendo que o seu grupo evitaria fazer investimentos em empresas de elevado risco de sustentabilidade, estaria longe de imaginar o que teríamos pela frente em 2020.
A pandemia não atenuou esta mensagem, pelo contrário, acelerou-a e
deverá influenciar as lideranças empresariais por muitos anos.
Ficou claro que precisamos modificar a relação da humanidade com o planeta. Questões como a preservação da Amazônia e Pantanal, por exemplo, deixaram de ser “debate de ambientalistas” e passaram a ser uma preocupação global.
Da mesma forma, a intenção da China em adotar políticas e medidas mais vigorosas para atingir o pico das emissões de dióxido de carbono antes de 2030 e a neutralidade em carbono antes de 2060 é recebida com bons olhos pelo planeta.
A União Europeia também anunciou os seus objetivos de atingir a neutralidade climática até 2050 em conformidade com o acordo de Paris.
Outro ponto que reforça a importância global dada ao tema, foi a intenção do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em colocar a política ambiental com papel central em seu mandato, elevando o assunto para outro patamar.
É importante ter em mente que a tarefa não se deve resumir apenas aos governantes, mas envolve também a sociedade civil.
E as empresas? Elas devem fazer algo diferente, poderiam adotar novas práticas?
A verdade é que a sustentabilidade ocupa espaço em comunicados de empresas já há algum tempo, mas muitas vezes, estas encaram a agenda
ESG com um certo cinismo e até resistência, com a ideia de que estamos perante a mais uma moda, mais um avanço do politicamente correto, e no final, o que realmente continuará a importar será o lucro e a rentabilidade.
Seria isso mesmo? Estou convicto que não. O ESG não é uma moda passageira, é um assunto sério que tem que ser encarado com todo o empenho e certamente ganhará mais peso na definição sobre destino de
investimentos de fundos de equity ou de dívida.
As empresas que merecerem aportes terão que conquistar sua credibilidade globalmente. E este nível só poderá ser alcançado com uma comunicação clara e com ações concretas, sempre com a ideia de que se trata de um
desafio para maratonistas e não para sprinters.
Apesar das regulamentações, como o Sustainability Accounting Standards Board (SASB), que lançou 77 normas contábeis específicas do setor, as empresas continuam sendo as responsáveis pela qualidade e veracidade dos dados que divulgam publicamente.
E é neste momento que o ESG deve mostrar-se de fato efetivo, e a divulgação dos relatórios de sustentabilidade, por exemplo, têm grande importância.
No caso da EDP, começamos por iniciativa própria a informar nossas ações, pois os princípios de sustentabilidade fazem parte da cultura da companhia há muito tempo. Com isso, utilizamos nossa experiência e adotamos essa prática por entender que os dados demonstram preocupação com a atuação
da empresa e impactos que vão além do aspecto financeiro.
Seguir melhores práticas de divulgação é necessário, mas é importante assumir compromissos futuros. Isso nos levou a assumir publicamente várias posturas.
Um exemplo disso é o compromisso com o Business Ambition for 1,5ºC – Our Only Future, junto à Organização das Nações Unidas, para reduzir emissões a fim de garantir que o aquecimento global não exceda 1,5°C.
O ESG também precisa olhar para dentro da empresa e em direção à sociedade, com a adoção de políticas afirmativas entre colaboradores e as comunidades onde está inserida.
E cada vez mais, os investidores irão valorizar e tomar decisões de negócios baseados em premissas de cuidado com o meio ambiente e pessoas, muito além de questões apenas financeiras. Em vez de falar em lucro, preferimos falar em lucro com qualidade.
A pandemia colocou enormes desafios à nossa sociedade e um impacto ainda imprevisível para a economia de 2021. No entanto, acreditamos que as preocupações ambientais e sociais vieram para ficar e precisam ser medidas e supervisionadas por uma Governança efetiva.
É ela quem vai ajudar a ampliar a visão dos investidores. Diante deste cenário, o ano de 2021 marcará o início de uma nova década, onde o ESG tem que estar no topo da agenda de todos os decisores políticos e empresariais.