A soma de um Moro mais um Doria, aos valores de hoje, pode dar quase um Bolsonaro. Se confirmados os números das pesquisas mais recentes, a aprovação do presidente da República terá caído a inéditos 19% (Atlas), enquanto o ex-juiz da Lava Jato parece ter crescido cerca de 3 pontos percentuais, chegando a algo em torno de 11% ou 12%. O governador de São Paulo, que acaba de vencer as prévias tucanas e viverá alguns dias de exposição, pode, quem sabe, chegar perto de 5% nas próximas pesquisas. Margem de erro (ao menos 2%) para lá, margem de erro para cá, Sergio Moro e João Doria juntos, se tiverem 15%, estariam em empate técnico com Jair Bolsonaro.
Política, porém, não é matemática, e quando se trata de eleições os números têm vontade própria. O sonho de boa parte dos defensores da terceira via é a união dos dois candidatos do campo da direita – que hoje contam com as simpatias do mercado e da mídia. Eles próprios alimentam essa possibilidade, trocando gentilezas, rapapés e promessas futuras.
Observadores experientes de cenários eleitorais não apostam na hipótese. Até porque ninguém garante que os votos de um e de outro se somarão. Nessa visão, Moro e Doria só vão se unir numa chapa única se estiverem, ambos, com desempenho pífio nas pesquisas, estacionados num só dígito, sem sinais de curvas ascendentes. Mas se o ex-juiz, por exemplo, confirmar uma suposta tendência de crescimento nesse momento – e mostrar que ela não é apenas consequência da superexposição midiática dos últimos dias – dificilmente desistirá da candidatura para ser vice de um sujeito que está com metade de sua pontuação nas pesquisas.
Doria, por sua vez, não nadou tanto, fazendo de tudo para vencer as prévias tucanas, para morrer na praia da vice numa chapa encabeçada por Sergio Moro, dizem aliados. Ao contrário. Por trás da aproximação com o ex-ministro, o governador de São Paulo tentará mesmo é roubar os pontos que Moro parece ter ganhado após sua filiação ao Podemos. Afinal, os dois correm na mesma faixa da centro-direita conservadora, disputam os votos dos bolsonaristas arrependidos e de antipetistas empedernidos.
A sonhada soma pode acabar em subtração, pois o governador de São Paulo vai botar seu trator para funcionar. Para começar, vai cobrar o mesmo tratamento dado ao ex-juiz pela mídia mainstream e por integrantes do mercado financeiro, que estão chamando Moro para conversar. Para Doria, a Faria Lima é um território seu.
As operações nesse campo vão, naturalmente, repercutir na equação da centro-esquerda. Uma eventual união Doria-Moro, com a perspectiva de tirar a segunda vaga do segundo turno de Bolsonaro, pode atingir em cheio outro candidato do segundo pelotão – Ciro Gomes, que hoje disputa com Moro o terceiro lugar nas pesquisas.
Se o candidato do PDT cair para quarto ou quinto, pode provocar um efeito de “voto útil”, que beneficiria majoritariamente o ex-presidente Lula, que passaria a ter chances de vencer o pleito no primeiro turno.
Os movimentos à direita envolvendo Moro e Doria podem também estimular o petista a dar o que seus companheiros mais próximos estão chamando de “salto triplo carpado” da eleição: concretizar a aliança com o ex-governador Geraldo Alckmin, que seria o vice em sua chapa. Seria uma composição também improvável, por “n” razões.
Mas os dois estão articulando uma aproximação que, com vice ou sem vice, daria a Lula importante espaço ao centro – e não só para ganhar a eleição, mas sobretudo para governar.