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Claudio Felisoni de Angelo

A justiça que vem dos bits e bytes

Enquanto a inflação oficial do País medida pelo IPCA acelera, a escalada de preços na internet sobe a um ritmo lento, evidenciando um ambiente mais justo de compra

Close de mulher comprando online com cartão de crédito

De janeiro a junho, enquanto o IPCA no período subiu 5,5%, o E-Flation, índice criado pelo Ibevar sobre a inflação da interntet, ficou abaixo de 1% | Foto: Getty Images

Ao que parece o mês de julho deve apresentar um recuo dos preços, isto é, uma deflação. Esse resultado se deve a redução da alíquota do ICMS sobre combustíveis. Embora a taxa de juros venha sendo majorada atingindo 13,25% em junho é incerto o impacto desse movimento para frear os preços. De qualquer modo, como se afirmou, em julho se espera queda do IPCA.

Deve-se observar, entretanto, que nos últimos seis meses, de janeiro a junho, o IPCA acumulado registrou um percentual de pouco mais de 5,5%. A inflação, evidentemente, tem impactos amplos sobre toda a economia. Entretanto, no que diz respeito especificamente ao mercado de consumo a aceleração dos preços atua como um imposto porque retira poder de compra, ou seja, corrói a renda real das famílias. Tal imposto se configura também como um tributo regressivo. Dito de outro modo, onera mais quem ganha menos. Portanto, mitigá-la é economicamente e socialmente essencial para o País.

O IPCA é o principal referencial do movimento dos preços na economia brasileira. Porém, vem ocorrendo, há bastante tempo, mudanças estruturais significativas, particularmente no mercado de consumo. Tais alterações foram obviamente enormemente exacerbadas durante o período pandêmico. Mais especificamente, os ambientes presenciais e virtuais vêm se superpondo velozmente.

Nesse ponto vale aqui citar o E-Flation índice de inflação na Internet criado pelo Ibevar e a plataforma V+. Todo índice baseia-se em uma cesta de produtos e serviços. A cesta do E-Flation é composta por 35 produtos classificados como duráveis e semiduráveis.

Recentemente foi divulgado pela Broadcast o E-Flation no período de Janeiro a Junho. O que se observou? Nesses meses o E-Flation mostra uma flutuação bastante grande: 1,72% (Janeiro), 2,71% (Fevereiro), -0,5% (Março), -1,3% (Abril), -1,92% (Maio) e 0,27% (Junho).

Em que pese a variabilidade do índice a variação acumulada dos preços dada pelo E-Flation nesse período foi de 0,8%. É interessante notar que nesse indicador a flutuação dos preços é bastante influenciada pelos movimentos do câmbio. Apesar dessas pressões e das restrições da oferta em função da desarticulação dos canais de abastecimento, o indicador se alterou pouco. Enquanto o IPCA no período subiu 5,5% o E-Flation ficou abaixo de 1%. Cabe uma pergunta: por que isso aconteceu?

Claro que são cestas diferentes, contudo, era de se esperar que em razão do que se apontou acima se registrasse um indicador dos movimentos dos preços na Internet bem maior. Ocorre que os custos de informação na rede, isto é, a facilidade de comparação de preços é muito grande. Essa condição instiga a concorrência e obriga as empresas a absorver impactos nos custos por meio de redução da margem de lucro.

Mas, essa não é a única conclusão que se pode tirar examinando os resultados apontados pelo E-Flation. A superposição das lojas físicas e virtuais é cada vez maior. Uma tendência certamente irreversível. Então embora muitas outras causas pressionem o movimento dos preços, pode-se dizer que de fato o comércio eletrônico, conforme mostrado, atenua as pressões altistas da inflação, contribuindo para que padrões sociais mais justos se estabeleçam.


Claudio Felisoni de Angelo é professor e coordenador de Projetos da FIA Business School, ligada à Fundação Instituto de Administração da USP. Preside o conselho Laboratório de Finanças e Programa de Administração de Varejo da FIA. É professor titular do Departamento de Administração de Empresas da FEA/USP e presidente do IBEVAR - Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo.

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