É interessante, para não dizer outra coisa, como se fazem referências ao mercado no Brasil. Em especial os políticos tratam a entidade chamada mercado como algo oposto aos interesses da sociedade e, em particular, o consideram um ente absolutamente distante dos clamores das faixas menos abastadas da população.
O mercado é uma figura abstrata que emana da inteiração dos indivíduos nos seus movimentos buscando a satisfação de suas necessidades, ou seja, bens e serviços. Portanto, o mercado é um tipo de manifestação dos indivíduos, em outras palavras é uma expressão da própria sociedade. Apelando à lógica deve-se perguntar como a sociedade pode se opor a ela própria?
Talvez alguém possa dizer que o problema é que o mercado exprime os anseios das classes mais favorecidas. Não deixa de ser verdade, entretanto, esse não é um problema do mercado e sim do que lhe dá origem: a própria sociedade. Dito de outro modo, é consequência das opções e arranjos políticos estabelecidos pelo conjunto dos indivíduos.
Desse modo, é um erro colocar o mercado como inimigo: se a bolsa tiver que cair, paciência. Se o dólar subir, paciência. O complemento a esse tipo de pensamento é: o importante são as pessoas. Porém, como as pessoas podem não serem afetadas em virtude das próprias escolhas?
É insensatez negar os fatos. Independentemente da vontade, as forças de mercado atuam. Pode-se negar o quanto quiser, porém, dois mais dois sempre resultará quatro. Posicionamentos de lideranças que ameaçam a estabilidade econômica amplificam as incertezas e antecipam a ocorrência de situações ainda mais difíceis para toda a sociedade.
Uma licença para gastar é compreensível, devido às enormes adversidades hoje enfrentadas. Mas, como qualquer dona de casa previdente, o governo que assume deveria deixar claro como e quando esses gastos agora necessários serão compensados por reduções de modo a equilibrar o orçamento. A dona de casa sabe que, se não agir dessa forma, a situação ficará muito pior, incluindo irremediavelmente o comprometimento de sua credibilidade como gestora.
Não ter em conta a importância da condução de uma política fiscal e monetária responsável é apostar na mentira. Contudo, como se sabe a mentira é doce no começo, mas muito amarga no final.