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Ilton Caldeira

Alternativas para conter o ímpeto inflacionário

A inflação virou um pesadelo nos Estados Unidos, onde a população não está acostumada a conviver com as fortes oscilações de preços

Inflação nos EUa

No acumulado em doze meses até junho o indicador da inflação nos EUA está em 9,1%, maior nível em 41 anos | Foto: Getty Images

A inflação atingiu um patamar arriscado nos Estados Unidos, ameaçando romper uma barreira psicológica, flertando com a casa de dois dígitos. No acumulado em doze meses até junho o indicador está em 9,1%, maior nível em 41 anos. Alimentos, incluindo refeições fora de casa, moradia e, claro, combustíveis são os principais itens a pressionar para cima o índice de preços.

A reação do Federal Reserve, banco central americano, evidencia o quão atrasada está a autoridade monetária em relação ao cenário econômico. Novas elevações da taxa de juros nos próximos meses são a unanimidade da vez.

Um mercado de trabalho pujante complica os planos do Fed para desacelerar a economia. A taxa de desemprego segue historicamente baixa: 3,6%. Existem 5,9 milhões de desempregados para 11,3 milhões de empregos; quase duas vagas para cada profissional em busca de trabalho.

Mas um documento elaborado por membros do Becker Friedman Institute for Economics, que serve como um centro de análise e pesquisa de ponta em toda a comunidade econômica da Universidade de Chicago, aponta que o desafio pode ser menos assustador do que parece.

De acordo com os autores, o aumento do trabalho remoto poderia tornar a tarefa do Fed menos complexa. Isso ocorre porque a conveniência de trabalhar em casa, evitando grandes deslocamentos e refeições fora de casa, deixariam os trabalhadores mais dispostos a aceitar aumentos salariais menos expressivos.

Isso, em tese, poderia contribuir para moderar custos operacionais e reduzir impulsos de repasse de despesas mais elevadas aos consumidores, com preços mais altos em produtos e serviços.

Os autores do estudo apontam que um maior estímulo ao trabalho remoto poderia reduzir o crescimento salarial em 2 pontos percentuais ao longo de dois anos, com um alívio de US$ 206 bilhões aos empregadores. Uma soma que em parte deixaria de ser repassada aos clientes.

As projeções foram realizadas tendo como base o valor de US$10,3 trilhões pagos em salários aos trabalhadores americanos em 2021.

Os defensores da proposta argumentam que o impacto das medidas poderia trazer alguma ajuda nos esforços do Fed de reduzir a inflação sem lançar a economia em uma forte recessão.

O trabalho remoto adotado no auge da pandemia tem sido uma bênção para as pequenas cidades dos Estados Unidos. Muitos profissionais aproveitaram o custo de vida dessas comunidades, níveis mais baixos de estresse e violência urbana e investiram nessa opção.

Essas regiões se beneficiaram com expressivo aumento de renda, dos valores das propriedades e um fortalecimento dos negócios locais. Mas existem preocupações sobre quanto tempo essa tendência poderá durar, caso as empresas exijam que as pessoas voltem aos escritórios e às grandes cidades.

Na outra ponta, contrários ao estímulo ao trabalho remoto, milhares de pequenos negócios e restaurantes em metrópoles como Chicago, São Francisco e Nova York olham essa proposta como uma ameaça existencial. Alguns setores têm feito pressão junto a autoridades nessas cidades para que medidas de incentivo ao trabalho presencial sejam elaboradas e implementadas.

Os que defendem uma volta em massa ao escritório argumentam também que a inovação e a produtividade podem ser prejudicados com equipes trabalhando remotamente.

Já os empregadores que consideram maior flexibilidade das equipes temem perder seus principais talentos caso exijam uma presença física mais constante. Além disso, muitas empresas viram na adoção do trabalho remoto uma oportunidade para trabalhar melhor a agenda ambiental, defendendo menos deslocamentos para a redução de emissões de poluentes.

Em meio ao debate e diferentes visões uma coisa está clara: a inflação virou um pesadelo em um país onde a população não está acostumada a conviver com as fortes oscilações de preços. Resta saber se os formuladores de políticas econômicas conseguirão, no curto prazo, ajustar a dose do remédio e preparar o terreno para um pouso suave.

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Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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