O momento atual do futebol brasileiro é propício para uma grande virada na sua gestão. A transformação do futebol como negócio no Brasil sofria até agora da carência de um modelo orientado exigido pelo mercado financeiro.
Durante muito tempo o mercado financeiro ficou afastado do futebol brasileiro. Com os avanços na transparência e boas práticas de gestão corporativa, os clubes em sua maioria publicaram balanços melhores. Mas não necessariamente ampliaram seu modelo de gestão, orientada por indicadores financeiros e em uma linguagem para fundos de investimento, bancos e investidores institucionais.
Com a criação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e a chegada deste segmento mais exigente ao futebol houve um choque de realidade. Os clubes em geral publicam seus balanços com baixa transparência e em uma linguagem simplista, na comparação com as exigências do mercado de capitais, por exemplo.
Bancos como BTG Pactual e XP desembarcam no futebol e logo se deparam com clubes ainda em um modelo analógico e de baixa complexidade empresarial. A Sports Value vem estudando e apresentando inovações na forma de olhar os números financeiros e identificar os insights que valem milhões em vendas, valor de marca e fan engagement.
Clubes voltaram a faturar, mas dívidas são altas
Segundo estudo da Sports Value publicado em maio (aqui), os top 20 clubes do Brasil atingiram faturamento de R$ 7 bilhões em 2021, uma recuperação de 28% em relação aos R$ 5,4 bilhões de 2020, em valores atualizados pela inflação.
O futebol brasileiro está subaproveitado, a projeção é que em um modelo de Liga Profissional pode alcançar os R$ 14 bilhões em receitas em 5 anos, desde a sua criação.
As dívidas atingiram R$ 9,8 bilhões e vão muito além das dívidas fiscais com o governo federal. Há enorme endividamento bancário com outros clubes por contratações e contingências com atletas e funcionários antigos.
Saída é gestão por indicadores e foco no investidor
O mundo do futebol vai evoluir muito com a adoção da SAF. Um novo modelo de administração financeira será implementado e cada vez mais os torcedores vão se acostumar com análises mais profundas e indicadores mais complexos para seus clubes.
Os fundos de investimento que adquirem clubes pelo mundo implementaram uma visão de performance do investimento. Não é apenas ter um balanço atendendo as exigências mínimas. Para atrair investimento os clubes terão que apresentar dados passados em alto nível de transparência e notas explicativas, sem falar na periodicidade trimestral, pauta ESG e lucrativa operação digital.
E as projeções financeiras futuras sempre muito fundamentadas em dados de crescimento real, adaptação aos momentos de crise e, especialmente, na análise da lucratividade efetiva do negócio.
Antes as empresas e investidores tinham que se adaptar ao mundo do futebol. Com a SAF tudo mudou e serão os clubes que migrarão para o modelo pautado pelos fundos de investimento.