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Agência Estado

Antes que seja tarde

Elites precisam focar nos problemas centrais do País como a desigualdade, a violência urbana, o racismo e outros igualmente graves

Desigualdade social

Desigualdade estampada na favela Paraisópolis, em São Paulo: questão social precisa estar nas prioridades do País | Foto: Getty images

O Brasil move-se  a partir do consenso – ou do confronto – entre três grandes matrizes: o corporativismo, o clientelismo e o patrimonialismo. Cada uma dessas matrizes embute um conjunto de regras e costumes que se desdobram em outros “ismos”. Com essas três grandes forças em marcha – impulsionadas pelo entrechoque ou pelo acordo –, o Brasil avança empurrado pelas circunstâncias, pelo acaso e pelos interesses que predominam em dado momento.

O primeiro eixo, o corporativismo, aqui é entendido como a defesa exacerbada dos interesses das corporações profissionais em detrimento do bem comum. O corporativismo resulta muitas vezes em salários exorbitantes acompanhados de mordomias e benefícios com os quais a imensa maioria dos brasileiros nem sequer sonha. O corporativismo transforma o aparato estatal em fator de benefício próprio e não do cidadão.

O segundo eixo reside no patrimonialismo, que é a ausência de limites claros entre o que é público e o que é privado, o que pode ser traduzido pelo uso dos bens públicos para atender a interesses privados. Um exemplo óbvio são as famigeradas “rachadinhas”, prática em que parlamentares confiscam parte do salário de seus funcionários de gabinete. Outros exemplos são mordomias, férias estendidas, recessos e até financiamentos com condições especiais em bancos públicos.

O terceiro eixo é representado pelo clientelismo, prática em que a ação política se desenvolve em torno de uma clientela privilegiada tendo em vista a troca de favores. O clientelismo transforma a política em um balcão de negócios que se materializa no conhecido “toma lá, dá cá”. A troca de apoios, no clientelismo, é operada tendo por base atender interesses específicos e não o bem comum.

O sistema político brasileiro avança por meio de espasmos onde os que detêm o poder e o privilégio atuam para minimizar as perdas impostas à sociedade. Outras vezes, tais atrasos e desvios nas ações são tolerados porque as forças corporativistas, clientelísticas e patrimonialistas têm recursos suficientes para modular o acesso de partidos e grupos ao poder. Ao tolerar os eixos do mal, ou mesmo se aliar a eles para conquistar poder, temos políticas públicas que terminam por ser protecionistas e excludentes, reafirmando a existência dos privilégios.

Como quebrar os eixos do mal? A resposta não é simples. Primeiro, e acima de tudo, isso depende de vontade, o que não está claro que exista. Muitos se beneficiam desse modus operandi e se adaptam ao seu funcionamento. De modo geral, as elites observam o arranjo de poder e embarcam na canoa que lhes parecer mais promissora. E esse é um comportamento generalizado.  E quando menciono as elites não são apenas aquelas estigmatizadas ou identificadas apenas por riqueza. Mas todas que exercem liderança em setores patronais, profissionais e de trabalhadores, bem como a imprensa e a academia e, ainda, a sociedade civil. 

Outro caminho é a reflexão serena e aprofundada sobre o que é a política. A partir da certeza de que não existem respostas fáceis. Por fim, sem uma tomada de posição das elites que resulte em uma participação mais focada nos problemas que nos estapeiam diariamente – como a desigualdade, a violência urbana, o racismo, entre outros –, os avanços no Brasil prosseguirão pontuais e circunstanciais.

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