A economia brasileira apresentou desempenho positivo no início do ano, apesar das medidas de isolamento social adotadas nos últimos meses. Essas boas notícias não podem ser extrapoladas para o médio prazo, afinal ainda temos vários desafios pela frente.
O indicador de atividade do Banco Central cresceu 2,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre do ano passado, com ajuste sazonal. O IBGE divulgou crescimento de 2,8% da produção de serviços e recuo de apenas 0,4% da indústria.
O empenho na produção não foi acompanhado pelo consumo das famílias. As vendas de varejo caíram 3,9% e o consumo de serviços despencou 6,3% no trimestre passado. Também existem sinais de queda do investimento das empresas.
A discrepância entre a expansão da produção e a retração da demanda sugere um ciclo de recomposição de estoques pelas empresas. Esse processo não deve ser persistente, afinal estoque implica recursos parados.
Existem alguns desafios que impedem um elevado otimismo com a atividade para o restante do ano, a saber:
- Redução substancial do poder de compra das famílias, em resposta à redução do auxílio emergencial e ao forte aumento da inflação de produtos essenciais (alimentos, combustível e energia).
- As famílias estão utilizando 31% da renda para pagamento de juros e amortização de dívida passada, patamar historicamente elevado. Isso deve desacelerar o ritmo de concessão de crédito nos próximos trimestres.
- Muitas empresas enfrentam dificuldade de repassar o aumento do custo de produção gerada pela alta recente do preço das commodities ao consumidor final. Isso prejudica a margem operacional e, consequentemente, deteriorará a intenção de novos investimentos.
- O nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro Oeste está em apenas 32%, o pior patamar para o mês de maio desde 2001. Importante lembrar que estamos apenas começando o período de seca, o que gerou a necessidade de acionamento das usinas térmicas, inclusive aquelas com custo maior. Não podemos descartar a necessidade de alguma medida de racionalização do consumo de energia elétrica no segundo semestre.
Nível reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro Oeste.
Fonte: ONS e Safra.
Diante da forte pressão no preço da energia elétrica, aumentamos nossa projeção de inflação para 5,6% neste ano. Para o próximo ano, esperamos que a moderação do preço de commodities e a expansão moderada da atividade tragam o IPCA para 3,6%, apenas ligeiramente acima do centro da meta.
As surpresas positivas do primeiro trimestre devem ser comemoradas, mas não podem ser extrapoladas. Os desafios enumerados acima sugerem expansão moderada da atividade nos próximos trimestres, especialmente após as fracas águas de março.