No Brasil, a atividade econômica deverá acomodar neste semestre, após a forte expansão na primeira parte do ano. Os primeiros seis meses foram beneficiados por medidas pontuais, como o pagamento de precatórios atrasados no final do ano passado, e pela antecipação de despesas do governo, como o décimo terceiro salário de beneficiários do INSS.
Essas medidas não devem repetir no semestre corrente, arrefecendo a expansão da renda disponível das famílias. Além disso, o aumento da curva de juros no mercado futuro nos últimos meses deverá esfriar o ritmo de crescimento da concessão de crédito e contribuir para uma acomodação da demanda doméstica nos próximos trimestres.
Assim, estimamos expansão do PIB real de 2,9% em 2024.
As contas externas permanecem saudáveis. O saldo comercial continua robusto e acumulou superávit de US$ 91 bilhões nos doze meses encerrados em agosto, com aumento do volume exportado de commodities.
A conta corrente apresentou déficit de 1,8% do PIB no período, patamar confortável. A inflação continua bem-comportada. O IPCA-15 variou apenas 0,13% em setembro, acumulando 4,1% em doze meses.
As principais métricas de núcleos tiveram desempenho benigno, como os serviços subjacentes e serviços intensivos em mão de obra. Esse último apresentou alta de 3,6% no trimestre encerrado em setembro, considerando os dados com ajuste sazonal e anualizados, abaixo da média do período 2017-19.
No entanto, o risco de curto prazo está relacionado ao clima, com a elevação da tarifa de energia elétrica através do sistema de bandeiras e a possibilidade de impacto nos preços de alimentos.
Projetamos IPCA de 4,3% ao final deste ano.
No âmbito fiscal, o resultado primário do setor público consolidado acumulou déficit de 2,3% do PIB nos últimos doze meses, incluindo o elevado pagamento de precatórios atrasados e compensações a Estados e municípios em dezembro do ano passado.
Excluindo esses dois efeitos pontuais, o déficit fiscal seguiu em torno de 1,4% do PIB no período. A contenção de despesas e o efeito de medidas de receitas na segunda parte do ano devem levar o resultado primário para -0,7% do PIB até o final do ano, valor próximo da meta ajustada à ajuda ao Rio Grande do Sul e às queimadas.
O Banco Central do Brasil (BCB) elevou a taxa Selic para 10,75% a.a. em setembro, conforme esperado pelos economistas. A autoridade monetária justificou o aumento dos juros no seu comunicado pela “resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas”.
Considerando nossa expectativa de arrefecimento do consumo das famílias neste semestre, acreditamos que o Banco Central optará por promover um moderado ciclo de ajuste da taxa Selic para 11,50% a.a..