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Claudio L. Lottenberg

Atualizações periódicas serão o caminho das vacinas

Pesquisa sobre o “imprinting imunológico” orientará o debate para a evolução da imunização

Vacinas

Serão necessários ajustes finos nas próximas versões das doses de reforço contra o Sars-Cov-2 | Foto: Getty Images

As vacinas existem desde o século 18, e vêm sendo aperfeiçoadas desde então. Surgiram como forma de combater a varíola, mas existe hoje uma ampla variedade de doenças a que se pode aplicá-las. A Covid-19 é, talvez, a mais recente. Mas há poucas coisas que, tendo sido criadas há tanto tempo, tenham chegado a nós tal como foram criadas. As vacinas evoluíram ao longo de suas histórias, porque os vírus e doenças também sofreram mutações.

Vimos, desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia (em 11 de março de 2020), surgirem diversas variantes do vírus Sars-Cov-2, com nomes de letras gregas (Alfa, beta, Gama, Delta, Ômicron, Mu e Lambda), e não há nenhum motivo que leve a crer que as variações deixarão de ocorrer. Pelo contrário: enquanto o vírus continuar a circular, aumentam as chances de que mais variantes surjam.

Essas mudanças exigem atualizações das vacinas. Isso porque, segundo especialistas, a variante Ômicron contém tantas mutações que a proteção oferecida pela vacina acaba sendo contornada. O que de modo algum é motivo para julgar as vacinas, em seus estado atual, ineficazes. Os casos graves e as internações no Brasil, por exemplo, diminuíram sensivelmente – os gráficos da OMS mostram isso de maneira indiscutível, mesmo considerando-se a alta nos casos de infecções e óbitos que vem ocorrendo desde abril deste ano. Mas as infecções leves, as reinfecções – há pessoas que já foram infectadas de novo até duas vezes, desde que contraíram o vírus pela primeira vez. Também não sabemos ainda a sazonalidade do vírus, justamente por ser muito novo. Nem como o vírus afeta cada pessoas numa reinfecção.

As vacinas, no futuro, terão assim que levar em conta o chamado “imprinting imunológico” – expressão bastante técnica para a “marca” que a doença deixa em nosso sistema imune. Diante da possibilidade de que variantes venham a surgir carregadas de novas mutações, não haverá em nosso organismo, mesmo os já alguma vez infectados ou vacinados, memória de como se combateu a doença anteriormente. Numa comparação um tanto arrojada, a vacina precisa ser atualizada, como alguns apps em nossos celulares também precisam, de tempos em tempos.

Uma evidência disso saiu de um estudo do Imperial College (do Reino Unido), publicado em junho no periódico especializado Science, que mostrou que as pessoas infectadas pela variante Ômicron não gerou qualquer reforço maior no sistema imunológico das pessoas “marcadas” por variantes anteriores. Serão necessários ajustes finos nas próximas versões das doses de reforço contra o Sars-Cov-2. A FDA (agência federal de saúde dos EUA, responsável por aprovar alimentos e remédios no país) inclusive já pediu aos laboratórios que adaptem os imunizantes às subvariantes BA.4 e BA.5 da Ômicron.

A Covid-19 não será erradicada em nenhum cenário futuro que se possa tomar como mais provável. O que é mais plausível é que campanhas anuais de vacinação contra a doença se tornarão comuns, e a cada ano a vacina poderá vir com mais elementos de variantes incorporados, de modo a aumentar a proteção. Também é preciso lembrar que, apesar de todo o corpo de conhecimento já desenvolvido, há ainda muito por se descobrir sobre a Covid-19 quanto aos seus efeitos de longo prazo.

E também sempre será ocasião de lembrar que medidas de proteção continuam a ser benéficas. Pode parecer que máscaras e higienização constante das mãos se tornaram desnecessárias, quase excentricidades, dado o grau de “normalidade” a que o dia a dia parece ter voltado. Não é o caso: a Covid-19 continua a circular e quanto mais livremente o fizer, mais chances haverá de mutações e variantes surgirem. Usar máscara em ambientes fechados, ter álcool-gel sempre por perto e lavar as mãos com constância são práticas e hábitos que faríamos bem em conservar – ao menos até que a luta contra a doença esteja ainda mais a nosso favor.

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Claudio L. Lottenberg é mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), presidente do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

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