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Sidney Klajner

Sidney Klajner

Cirurgias ortopédicas na era da robótica

Tecnologia robótica para ortopedia é recente, mas, à medida que as ferramentas ganham escala, elas tendem a ficar acessíveis

Robótica na ortopedia

Na ortopedia, o cirurgião fica ao lado do paciente e manipula o braço robótico diretamente | Foto: Getty Images

Depois de joelho e quadril, agora são os procedimentos de coluna que se beneficiam da precisão assegurada pelos sistemas robóticos. Como um valioso aliado do cirurgião, o robô permite intervenções ainda menos invasivas e mais assertivas.

Embora já fosse usada há mais tempo em outros países, a robótica ortopédica estreou no Brasil há cerca de três anos. Começou com as cirurgias para colocação de próteses (artroplastias) do joelho e do quadril. Mais recentemente, chegou a vez dos procedimentos para a coluna – no Einstein, o primeiro foi realizado em abril.

Ao contrário das plataformas robóticas mais conhecidas, que podem ser usadas para intervenções de diferentes especialidades (urologia, cardiologia, ginecologia etc.), as de ortopedia são específicas. A nossa organização, por exemplo, tem o robô Rosa para cirurgias do joelho, o Mako para joelho e quadril e o Mazor para coluna.

Em comum, essas tecnologias aportam algo extremamente valioso em procedimentos ortopédicos: precisão. Em uma cirurgia de joelho ou de quadril, o corte preciso dos ossos para implantação da prótese que substituirá as articulações desgastadas ou a colocação da prótese na angulação correta fazem toda a diferença para os resultados. Em uma artroplastia de quadril, por exemplo, se a cúpula (componente acetabular) onde a cabeça do componente femoral será encaixada não estiver na posição correta, a prótese vai ter um desgaste mais rápido e há até o risco de luxação, obrigando a uma nova cirurgia.

Nas cirurgias de coluna, o robô é usado atualmente nas artrodeses, que é a fixação de vértebras em quadros de instabilidade. Nesses casos, o principal papel do robô é auxiliar o cirurgião no processo de passagem dos parafusos que fazem a fixação. Precisão é fundamental, pois o pedículo vertebral, porção óssea que conecta o corpo vertebral (parte da frente da coluna) com as estruturas detrás, fica muito próximo de vasos sanguíneos importantes e de raízes nervosas associadas à mobilidade e à sensibilidade dos membros inferiores. Segundo o Dr. Mario Lenza, gerente médico da Ortopedia Einstein, a expectativa é que, em breve, o robô esteja apto para ser utilizado em outros problemas de coluna, como na ressecção de hérnia de disco e na correção da estenose (estreitamento) do canal lombar.

Em qualquer procedimento ortopédico robótico, o processo começa com o planejamento cirúrgico, feito pelo ortopedista e equipe com base em imagens de tomografia ou radiografias. As informações (via de acesso, cortes, angulação etc.) são incluídas no software do robô. Na hora do procedimento, sensores são instalados no campo cirúrgico e câmeras do sistema robótico captam imagens do corpo do paciente. Casando esses dados, o robô ajuda o cirurgião a fazer exatamente o que estava previsto no planejamento.

O robô não opera e, no caso da ortopedia, nem mesmo temos o cirurgião sentado à frente de um console, dando comandos que movimentam os braços robóticos como ocorre em procedimentos de outras especialidades. No caso da ortopedia, o cirurgião está ao lado do paciente e manipula o braço robótico diretamente.

Pela precisão, procedimentos ortopédicos robóticos são ainda menos invasivos, diminuindo o tamanho das vias de acesso e com menos agressão a tecidos e partes moles. Para o paciente, além de qualidade e segurança da intervenção, isso significa menos sangramento, menos dor no pós-operatório, menos risco de infecções e menos tempo de internação. Além disso, com o planejamento e precisão de cortes nas artroplastias robóticas de joelho e quadril, é possível

reduzir a quantidade de materiais levados ao centro cirúrgico para implantar a prótese, reduzindo custos com esterilização, processamento e transporte desses itens. A curva de aprendizado do cirurgião também é menor, como mostrou um estudo do Einstein realizado com a base de dados do Hospital de artroplastias de joelho convencionais e robóticas. O trabalho foi publicado no Computational and Structural Biotechnology Jounal.

Problemas ortopédicos de coluna, quadril e joelho afetam drasticamente a qualidade de vida das pessoas, com dores constantes e uma série de limitações. Dos recursos de imagem às técnicas cirúrgicas, os avanços têm elevado a outro patamar o cuidado aos pacientes que precisam de cirurgia. A robótica necessita das imagens e dos recursos de navegação cirúrgica para funcionar. No entanto, não muda a técnica, apenas agrega a ela o diferencial da precisão. Para o cirurgião é uma aliada. Para o paciente, é qualidade e segurança maximizadas.

A tecnologia robótica para ortopedia ainda é recente. Mas, à medida que ganham escala, as ferramentas tendem a ficar acessíveis e são incorporadas por mais hospitais. No Einstein, o propósito de levar mais acesso a uma saúde de qualidade direciona nossas ações de forma ampla, escalando as tecnologias aplicadas nas unidades privadas também às públicas.

Alocamos, por exemplo, um robô no Hospital Municipal Vila Santa Catarina – Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho, em São Paulo, que é gerido pelo Einstein. Com a plataforma, instalada no Centro de Alta Tecnologia em Diagnóstico e Intervenção Oncológica Bruno Covas da unidade, foi possível realizar cirurgias robóticas para o tratamento de diferentes tipos de câncer, doenças do aparelho digestivo e cirurgias bariátricas. Então, pensando na equidade em saúde, por que não sonhar com um tempo em que também a recente robótica ortopédica possa ter seus benefícios ampliados e democratizados? Esse é um sonho inspirador, que pode transformar a saúde no Brasil.

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Sidney Klajner é Cirurgião do Aparelho Digestivo e Presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Possui graduação, residência e mestrado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, além de ser fellow of American College of Surgeons. É coordenador da pós-graduação em Coloproctologia e professor do MBA Executivo em Gestão de Saúde no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Einstein.

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