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Claudio L. Lottenberg

Com inclusão de adolescentes, vacinação ganha impulso

Vacinar jovens é a única forma de garantir segurança sanitária no futuro

Vacina em adolescente

Estudos recentes mostram que as vantagens de vacinar adolescentes superam em muito as eventuais possibilidades de riscos à saúde | Foto: Getty Images

Após quase um ano e meio de pandemia e sete meses de vacinação contínua, a imunização de adolescentes contra a Covid-19 se tornou realidade no Brasil. O estado de São Paulo iniciou a vacinação desse grupo neste mês, dando prioridade a jovens de 16 e 17 anos com deficiência, comorbidade ou, no caso das meninas, sejam gestantes ou puérperas.

No dia 30 de agosto, a capital estendeu a vacinação para adolescentes sem doenças preexistentes. O Rio de Janeiro também já deu início à cobertura vacinal dos jovens.

São passos importantes nas políticas de imunização desses dois estados, que agora estão em consonância com os pioneiros nacionais nesta iniciativa – Mato Grosso do Sul, Maranhão, Acre e Amazonas.

Até agora, o destaque na imprensa vinha sendo o progresso alcançado na imunização dos adultos – pouco mais de 60% dos brasileiros maiores de 18 anos já tomaram ao menos uma dose da vacina. O Brasil, no entanto, é um país jovem: esse contingente de pessoas corresponde a 54% da população total. A parcela da população do país já completamente imunizada (seja com duas doses, seja com dose única) não chega a um terço do total (cerca de 28%).

No início dos trabalhos de vacinação, os adolescentes ficaram em segundo plano pela escassez de imunizantes e por terem um sistema imunológico mais robusto — o grupo de zero a 20 anos de idade corresponde a menos de 1% das mortes por Covid-19 no Brasil. Além disso, ainda não havia dados suficientes que atestassem a segurança de se aplicar vacinas em pessoas dessa faixa etária.

Desde então, a situação mudou. A despeito de impasses políticos e logísticos, a imunização ganhou impulso e a média móvel de doses aplicadas a cada dia chegou a 1,7 milhão, a mais alta desde o início da campanha. É verdade que esse número poderia ser ainda mais alto: o Sistema Único de Saúde (SUS) tem estrutura para aplicar até 2,4 milhões de doses diárias. Mas o cenário é mais positivo que o do final de março, quando essa média não chegava a 500 mil aplicações por dia.

Estudos recentes têm mostrado que os benefícios de vacinar os mais jovens superam os possíveis riscos. Um desses estudos, publicado no “The New England Journal of Medicine”, acompanhou adolescentes de 12 a 15 anos que receberam a vacina da Pfizer.

Os efeitos colaterais decorrentes do uso do imunizante (por exemplo, dor no local da injeção, fadiga e dor de cabeça – os mesmos sentidos pelos adultos) foram transitórios e leves em sua maioria, segundo os pesquisadores. Mundo afora, países como EUA, Reino Unido, Portugal, Israel, Alemanha e Espanha já incluíram os adolescentes em suas campanhas de vacinação – entenderam que essa é a única forma de garantir segurança sanitária no futuro.

Jovens com idades entre 12 e 17 anos correspondem a 8,5% da população (segundo o IBGE) e há muitas razões pelas quais a imunização desse grupo é crucial e deve ser encarada como prioridade nos próximos meses. A primeira é a disseminação da variante delta, que tem se dado de forma preocupante: na cidade do Rio de Janeiro, até meados de agosto, ela havia sido identificada em 56% dos novos casos de Covid. A imunização dos jovens ajudará a reduzir o ritmo de transmissão da variante delta – que tem sabotado o controle da pandemia mesmo nos países ricos.

Nesse contexto, o afrouxamento precoce das regras sanitárias em muitos estados, somado à percepção de segurança de algumas pessoas vacinadas apenas com a dose inicial do imunizante, tem incentivado comportamentos irresponsáveis, com potencial para fazer o país retroceder no combate ao vírus.

Outro fator relevante é a reabertura das escolas em boa parte do país. Mesmo com a adoção de todos os protocolos adequados — uso de máscara, distanciamento, higienização das mãos —, a falta de imunização entre as crianças e jovens em idade escolar pode elevar o risco de contágio.

A adolescência é o período em que formamos nossa identidade a partir do convívio com as pessoas que nos cercam: aceitamos ou recusamos rótulos e convenções, começamos a formular pensamentos complexos, assumimos nossas primeiras responsabilidades reais. A pandemia atrasou esse processo fundamental em mais de um ano.

Com a demora na vacinação, é compreensível que os jovens sintam que estão ficando para trás. Para além das consequências imediatas na sua saúde mental — ansiedade, depressão, desatenção, irritabilidade —, há uma perda latente e irreversível, em aprendizado, em convívio social, em oportunidades. Cabe aos nossos governantes tomar consciência disso e acelerar a imunização dos adolescentes brasileiros.


Claudio L. Lottenberg é mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), presidente do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

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