A propensão do mundo empresarial a assimilar modismos em seu modus operandi, nas mais diversas formas de expressão, vem colocando em risco tanto o propósito como a eficácia da comunicação corporativa. Na prática, muitas companhias não se dão conta, mas, quando se manifestam, interna e externamente, em seus discursos e narrativas – escritas e faladas – esses processos exógenos de aculturação forçada da linguagem causam danos institucionais preocupantes para sua imagem e reputação.
Dentre eles destacam-se, de um lado, a possível distorção do uso e da compreensão dos significados do repertório linguístico das empresas, em conformidade com os valores e pressupostos da cultura organizacional. De outro, cria-se uma barreira cognitiva contra o aprendizado da língua nativa, cuja sintaxe nem sempre é respeitada em suas interações com terceiros. Às vezes, ignoram-se as mais comezinhas ferramentas que estruturam sua morfologia, tais como o uso correto de verbos, sujeito, objeto, pronomes, concordância etc., por desconhecimento de certas regras gramaticais ou falta de alerta dos corretores automáticos.
Tal habilidade é essencial frente aos desafios da interatividade e empatia demandadas pelas competências comportamentais para a diversidade. Em outras palavras, dominar a forma correta de falar e escrever, inclusive do Português, também constitui fator de produtividade e de competitividade, evitando-se os chamados ruídos da comunicação, conforme a abordagem deste artigo.
Sem querer remar no contrafluxo da dinâmica cultural da linguagem, parece oportuno chamar a atenção para as consequências negativas do farto volume de signos e estrangeirismos que vêm sendo incorporados, de forma acrítica, ao jargão corporativo de empresas brasileiras. Em parte, esse fenômeno cultural é fruto da globalização e, mais recentemente, da transformação digital.
Seus impactos cognitivos contribuem, às vezes, para a formatação de uma espécie de contracultura, cujo modo de falar colocado em prática destoa do vocabulário usual e das regras da língua materna. Por outro lado, comprometem também uma das funções primordiais da comunicação, ou seja, “levar uma mensagem a Garcia”.
Para que não pairem dúvidas sobre o objeto deste artigo, destaco como exemplo dos comentários acima referidos, o uso frequente da expressão soft skills em contextos difusos. Muitas vezes, inclusive, sua tradução não condiz com uma linguagem de maior alcance pedagógico e interacionista.
O assunto em questão diz respeito a competências comportamentais. Contudo, ao optar por uma versão em Inglês, o discurso institucional perde a oportunidade de disseminar os fundamentos de uma habilidade top como parte da educação continuada dos quadros de pessoal.
Adicionalmente, tornou-se recorrente, em determinados campos da atividade profissional, particularmente no RH e marketing, cultuar um habitus linguístico eivado de significados pouco conhecidos ou de domínio restrito. Entre esses, destacam-se conteúdos sintetizados em palavras como propósito, conexão, inspiração, interação, compartilhamento etc.
Como todos nós sabemos, a linguagem é também um fenômeno sociocultural sujeito a inflexões variadas no tempo e no espaço. Em consequência dessa polissemia, reflete a dinâmica, as inquietações e as ideologias que estruturam o discurso e as práticas relacionais, inclusive o falar no interior das organizações.
Por conta dessas singularidades, observa-se que alguns vocábulos que em determinados momentos mantiveram status privilegiado no léxico corporativo, caíram em desuso ou perderam o encantamento junto à cultura de negócio. Basta relembrar palavras como qualidade, reengenharia, mandatório etc., que antes eram in e agora são off.
Voltando ao ponto de partida, a pergunta que não quer calar é a seguinte: será que a assertividade da comunicação está de fato garantida, quando as narrativas de perfil corporativo privilegiam códigos linguísticos “fechados”, preservando feudos e práticas relacionais autocráticas?
Ser prolixo quase nunca traduz eficazmente o significado do que se pretende verbalizar. Não raro, até enfatiza o não dito e desvia o real sentido dos conteúdos que se busca disseminar, contrariando a teoria e as boas práticas de comunicação. Ambas ensinam que a clareza, objetividade e a precisão da mensagem devem dar condições a que o receptor apreenda, em toda sua essência, o que foi comunicado pelo emissor.
Em uma sociedade cada vez mais complexa, “vasos comunicantes” e aparentemente invisíveis, que operam via redes, abrem espaço para narrativas que, não raro, valorizam mais a forma do que a qualidade do conteúdo. Assim, por não ter o charme de idiomas mais globalizados, nossa rica língua portuguesa acaba sendo vilipendiada e empobrecida.
A priori, imagens, metáforas e símbolos constituem uma espécie de diferencial “competitivo” da linguagem de homens e mulheres em suas relações dialógicas, dentro e fora das empresas. Mas para que a comunicação corporativa seja também dialógica, terá que ser orientada e alinhada a determinados princípios na relação entre atores e sujeitos.
Neste sentido, impõe-se como necessário priorizar a busca incansável e permanente da sintonia fina entre emissor e receptor. E que esse percurso seja protagonizado pelo que nossa “Última flor do Lácio” tem de melhor, parafraseando o poeta Olavo Bilac, ao se referir às virtudes da língua portuguesa.