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Ilton Caldeira

Consumo e impactos no meio ambiente

Todos somos parte integrante da cadeia econômica, e podemos ajudar o planeta revisando hábitos simples de consumo e de descartes conscientes

consumo e ambiente

Consumidores são responsáveis por mais de 60% das emissões mundiais de gases de efeito estufa e por até 80% do uso global de água | Foto: Getty Images

A Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP26, chegou ao fim em 12 de novembro na Escócia. Apesar da mobilização e das boas intenções elencadas durante o evento, as reuniões ocorridas em Glasgow devem ser analisadas como um ponto de partida.

Para analistas, autoridades e especialistas em questões ambientais ficou claro que apenas com ações mais ambiciosas será possível, de fato, reduzir as emissões responsáveis pelo aquecimento global.

Mas o que eu tenho a ver com isso?, pode se perguntar o cidadão comum, distante de Glasgow.

Todos nós somos parte integrante das cadeias econômicas e de consumo. Também podemos ajudar o planeta, a começar pela revisão de hábitos simples de consumo e praticando descartes mais conscientes.

É comum olharmos para países e setores como a indústria e agricultura sendo os atores óbvios que mais afetam o meio ambiente. Mas se examinarmos nossas próprias demandas de consumo o retrato será um pouco diferente. Nessa perspectiva, algumas pesquisas mostram que os consumidores domésticos são, de diversas formas, o maior dreno do planeta, o que torna o quadro bastante diferente para as análises de impacto ambiental.

Estudos desenvolvidos na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia mostram que os consumidores são responsáveis por mais de 60% das emissões mundiais de gases de efeito estufa e por até 80% do uso global de água.

Outro padrão a ser analisado em termos de impactos no meio ambiente é que quanto mais rico é um país, mais seus habitantes consomem e maior é o impacto de cada pessoa no planeta. As nações ricas comem mais carne, laticínios e alimentos processados, o que causa um grande impacto sobre os recursos naturais e hídricos.

Por esse quesito, os Estados Unidos, como maior mercado consumidor em escala global, apresentam o pior desempenho, com uma pegada de carbono extremamente alta. Mas o que mais salta aos olhos, e lança luz sobre problemas ainda mais severos, é o fato de que o Brasil, mesmo não sendo um país rico e desenvolvido, apresenta um índice percentual de consumo das famílias muito parecido com o verificado nos EUA.

Dados do Banco Mundial apontam que o consumo das famílias nos Estados Unidos representa 68% do Produto Interno Bruto (PIB). Já no Brasil esse índice é de aproximadamente 65% do PIB nacional. Pela definição técnica, a despesa de consumo final das famílias é o valor de mercado de todos os bens e serviços, incluindo produtos duráveis como carros, máquinas de lavar e computadores domésticos adquiridos pelas famílias.

No entanto, é necessário contextualizar que os consumidores enfrentam preços diferentes em diferentes países. E que o poder de compra de mil dólares nos EUA é bem diferente no Brasil em virtude dos preços praticados para produtos e serviços semelhantes.

Nesse caso uma análise pelo PIB per capita com base na paridade do poder de compra (PPP, na sigla em Inglês) pode se verificar um pouco mais adequado para efeito de comparação. Em 2020, o PPP nos Estados Unidos era de US$ 60.162,91, enquanto que no Brasil era de US$ 14.059,37.

Independente dessas análises comparativas, o que mais choca e revela uma tremenda disparidade de renda é que no Brasil cerca de 20% da população responde por 80% de tudo que é consumido em produtos e serviços. Isso por si só sinaliza que a agenda ambiental é extremamente urgente, assim como a agenda social. Precisamos caminhar com foco nessas duas questões se queremos garantir uma sociedade mais digna e mais justa, com impactos positivos e prosperidade para todos.


Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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