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Marcus Nakagawa

Marcus Nakagawa

A COP26 e o bônus dos executivos

Empresas no mundo e no Brasil já têm bonificação de executivos ligada a indicadores ESG, movimento crescente e necessário para minimizar riscos aos investidores, melhorar a reputação e prevenir o greenwashing

Prédios espelhados com árvores em baixo e pessoas andando, em movimento, alusivo à COP26

A Willis Towers Watson, juntamente com a Climate Governance Initiative, publicou um guia de como colocar a questão climática de uma forma estratégica na empresa e nas estruturas da remuneração dos executivos | Foto: Getty Images

No começo do mês de novembro foi realizada, em Glasgow, na Escócia, a importante Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) sob o lema “Unindo o mundo para enfrentar as mudanças climáticas”. Várias empresas e membros do governo de cerca de 200 países se uniram mais uma vez para discutir o Acordo de Paris, que tem a meta de limitar o aquecimento global em menos 1,5ºC. 

Depois de duas semanas intensas de negociação e muitas atividades de organizações ambientais e sociais de todos os lugares do mundo, com direito a encenação de ativistas com máscaras de presidentes de vários países sendo presos, chegou-se ao livro de regras que era esperado por todos. Agora, os países envolvidos na COP devem apresentar um relatório sobre os andamentos dos compromissos assumidos. Com isso, saberemos quem está cumprindo, ou não, as promessas feitas ao mundo. E os ministros do meio ambiente dos países se reunirão anualmente para debater as metas climáticas de curto prazo que devem ser atingidas até o ano de 2030.

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Nesta Conferência, muito se falou de greenwashing, o termo usado para a “pintura” verde de um produto ou serviço, ou seja, uma sustentabilidade “fake”. No caso da COP, ativistas acusaram países de falsas promessas e dados ardilosamente trabalhados, que são menores que a realidade. E quando a questão foi o carvão, a palavra utilizada foi “redução” gradual do uso do carvão e dos combustíveis fósseis. Os ambientalistas e cientistas colocaram que o ideal seria o abandono, ou seja, parar de utilizar as fontes não renováveis que emitem os gases de efeito estufa. Porém, países como a Índia, cuja matriz energética depende destes tipos de energias de fontes “sujas”, colocaram que a fonte existente ainda é fundamental para combater a pobreza.

Um outro ponto foi o fundo de responsabilidade para a destruição climática, ou seja, o fundo em que os países que mais emitem e emitiram gases de efeito estufa, ao longo do ano, sejam responsáveis por ressarcir os países que estão sofrendo com a emergência climática. Como sabemos, algumas ilhas e cidades estão tentando sobreviver às catástrofes climáticas cada vez mais frequentes. Este Fundo de Perdas e Danos ainda terá que ser discutido nos próximos anos. E na questão do mercado de carbono, as brechas do famoso Artigo 6 foram fechadas, criando, assim, regras para que os países negociem os créditos de carbono entre si. Porém, ainda faltam alguns elementos operacionais para deixar a operação mais clara.

Entretanto, o mais importante foi o acordo bilateral entre a China e EUA, os maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo. Eles se comprometeram com uma série de ações importantes nesta década, como aplicar as leis de proibição de importações ilegais, colaborar para a maximização dos benefícios sociais para uma transição para uma energia limpa, trabalhar juntos nas áreas-chave relacionados à economia circular, como o design verde e o uso de recursos renováveis, entre outras.

Foram muitos acordos que demonstram uma certa evolução da humanidade se compararmos às atrocidades que já realizamos nestes últimos séculos. Mas, um ponto que pode afetar diretamente o Brasil e as empresas aqui existentes foi que mais de 30 instituições financeiras que controlam cerca de 8,7 trilhões de dólares em ativos se comprometeram a não investir mais em empresas ligadas ao desmatamento. E uma semana depois da COP26 a União Europeia apresentou uma proposta para proibir a importação de produtos agrícolas associados ao desmatamento. Sendo que, nesta mesma semana, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão do governo federal, anunciou que o desmatamento na Amazônia teve a maior taxa em 15 anos (o levantamento é preliminar e será confirmado no primeiro semestre de 2022).

Acompanhando todo este movimento global para a emergência do meio ambiente, a Willis Towers Watson, juntamente com a Climate Governance Initiative (CGI), publicou um interessante guia de como colocar a questão climática de uma forma estratégica na empresa e nas estruturas da remuneração dos executivos. No documento Executive Compensation Guidebook for Climate Transition, a empresa evidencia o princípio de Incentivo para que os conselhos garantam que os bônus e incentivos estejam alinhados para promover a prosperidade de longo termo da empresa e que considerem incluir as questões climáticas nas metas, além de indicadores dos executivos.

Neste Guia, existe um infográfico que mostra uma efetiva governança buscando esta transição incluindo gestão, transparência, métricas e incentivo para as questões climáticas. Para chegar neste documento, as organizações autoras pesquisaram 89 membros de conselhos de empresas de vários setores em 14 países. Muitas empresas no mundo e no Brasil já possuem a bonificação de seus executivos ligada às questões das mudanças climáticas e outros indicadores de ESG. Um movimento cada vez mais crescente e necessário para minimizar os riscos para os investidores, melhorar a reputação e tomar muito cuidado com o greenwashing.

Walk the talk: fazer o que se fala e divulga é só o básico para qualquer empresa. Coerência para o que se promete e para o que se cumpre é o que muitas empresas e países ainda precisam fazer.


Marcus Nakagawa é professor da ESPM e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental

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