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Maroni João da Silva

De olho no que ocorre fora dos portões das empresas

Passada a fase crítica da pandemia, a empresa que não se deu conta de que são as pessoas que fazem a diferença, não assimilou corretamente o aprendizado do lockdown

Recursos Humanos

O discurso corporativo tem que se mostrar sempre coerente com as práticas relacionais e de negócios da empresa | Foto: Getty Images

Foi-se a época em que a produtividade do trabalho dependia só da relação direta entre patrões e empregados. Em tempos de diversidade, a competitividade tornou-se uma equação mais plural, cuja solução não depende só de números.

A matemática continua válida, claro, mas deixou de ser a bola da vez, como indicador quantitativo de desempenho. Entraram em campo variáveis qualitativas e, sobretudo, decisivas para motivar o time na busca da vitória.

Para começar, além de rever sua conduta com o RH, a empresa terá que gerir a cultura organizacional de olho no que acontece dentro e fora de campo, pois nenhuma companhia opera no vácuo; ela integra um universo sociocultural maior.

Recomenda-se, igualmente, evitar bola fora pintando o cenário institucional com cores que destoam da realidade social. Por exemplo, conflito é conflito mesmo e faz parte do esquema, lembrando que time bem treinado é capaz de driblar divergências e compartilhar boas jogadas.

A metáfora do jogo pode ser usada também como inspiração para que todos sejam motivados a vestir a camisa da empresa, se comprometendo a entregar resultados. Contribui inclusive para reforçar a sinergia entre turnos, a exemplo dos acertos de posições de jogadores, liderados pelo treinador ou capitão, nos intervalos de cada certame.

Por outro lado, dentro ou fora da empresa, a comunicação corporativa deve funcionar como ponta de lança. Seu papel neste caso é servir de contraponto aos efeitos tóxicos de boatos difundidos pela rádio peão, por exemplo.

O discurso corporativo tem que se mostrar sempre coerente com as práticas relacionais e de negócios da empresa. Para isso, deve expor com objetividade e transparência as crenças e valores que norteiam o propósito da organização, em qualquer circunstância.

Tais atitudes são cruciais para desconstruir narrativas que não expressam corretamente determinados fatos internos ou externos que possam contaminar negativamente o clima organizacional. Elas têm o poder de moldar o pensamento e a percepção dos funcionários no que diz respeito à defesa de interesses pessoais e coletivos.

Ressalte-se que a mentalidade competitiva é de extrema importância para a alavancagem de uma cultura inovadora de negócios. Mas o sucesso dessa estratégia depende, sobretudo, de como a empresa se movimenta, protagonizando ações socioculturais inspiradoras e eficientes, sem ignorar o que ocorre fora de seus portões.

Fatores adversos em relação aos objetivos almejados podem ocorrer dentro ou fora de uma organização, significando que o local e o global influenciam suas ações, onde quer que ela esteja situada. E só uma cultura moldada pela previsibilidade é capaz de sobreviver em meio a instabilidades e incertezas.

Mas para ser eficaz nesse cenário, terá que operar como um conjunto de ferramentas focados em resultados. Assim, de um lado, sua estrutura deve aparar arestas, como um guarda-chuva, e de outro, aliviar os efeitos de determinados danos, como se fosse um amortecedor ou para-choque.

Contudo, é preciso ficar claro que não existe um modus operandi padrão e racional, como dois e dois são quatro, apoiado em algum tipo de reengenharia. Da mesma forma, a cultura não prescreve regras para lidar com viés inconsciente, nem estipula paradigmas milagrosos de gestão de pessoas.

Mas ela é imprescindível para respaldar iniciativas institucionais inspiradas em habilidades, hábitos e comportamentos que facilitem o desenvolvimento de técnicas motivacionais e de treinamento, com foco em desempenho e ganhos de competitividade.

Na prática, impõe-se a necessidade de criação de um método flexível capaz de operacionalizar valores, crenças e pressupostos, buscando alinhar as atitudes e comportamentos dos colaboradores à dinâmica funcional da cultura. E dada sua posição de destaque na hierarquia de organizações de ponta, o RH é o facilitador estratégico na implementação e condução de mudanças culturais disruptivas.

Por fim, passada a fase crítica da pandemia, a empresa que não se deu conta de que são as pessoas que fazem a diferença, não assimilou corretamente o aprendizado do lockdown. Mas ainda há tempo de fazer a lição de casa, empoderando pessoas para acelerar resultados. Portanto, bola para frente.

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@maronisilva é jornalista, escritor, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, sócio-diretor da Textocon, Comunicação & Cultura Organizacional, autor dos livros Magazine Luiza – Negócio e Cultura e O lado místico do comércio, além de coautor de Gestão de Pessoas no século XXI: Desafios e Tendências para além de modismos.

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