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Eduardo Yuki

Desafios de 2022

Indicadores sugerem fraco desempenho da economia brasileira no último trimestre de 2021, e cenário para este ano é desafiador

Juros

O Banco Central sinalizou que pretende aumentar ainda mais a taxa Selic neste primeiro trimestre de 2022 | Foto: Getty Images

Os principais bancos centrais ao redor do mundo devem reduzir seus estímulos ao longo dos próximos trimestres diante da persistência da pressão inflacionária. Nos EUA, a redução da taxa de desemprego e o forte aumento da inflação levaram o Fed a anunciar uma nova redução no volume de compras de ativos financeiros, o que sugere que o programa será encerrado em março. Além disso, a nossa projeção de crescimento do PIB real de 3,5% neste ano sustenta a expectativa de que o ciclo de normalização da taxa de juros poderá ser iniciado
também já em março.

Na China, a reunião do governo para determinar a agenda econômica mostrou uma disposição da autoridade em adotar medidas adicionais para sustentar a atividade econômica, mas com diligência. Priorizou-se a necessidade de estabilidade da economia, com política monetária “flexível e apropriada” e a “continuidade de política fiscal proativa”. Em relação ao mercado imobiliário, foram sinalizadas medidas específicas nas cidades para o desenvolvimento do setor. Com essas diretrizes, nossa expectativa para o crescimento econômico chinês está em torno de 5,0% em 2022.

No Brasil, indicadores proprietários e setoriais sugerem um fraco desempenho da atividade econômica no quarto trimestre do ano passado. A estagnação deverá persistir neste semestre, com os efeitos defasados do aumento da taxa Selic sobre a demanda doméstica. Dessa forma, estimamos que o PIB real apresentará expansão de apenas 0,2% em 2022. A recuperação do mercado de trabalho deverá perder tração nos próximos meses, o que manterá a taxa de desemprego em torno de 12,5% ao longo do ano, acima do patamar pré-pandemia, com ajuste sazonal.

A ociosidade do mercado de trabalho ajudará no processo de desinflação nos próximos meses. Incluindo as perspectivas de melhora no regime de chuvas e a estabilização do preço do petróleo no mercado internacional, estimamos que o IPCA passará de 10% em 2021 para 4,7% em 2022. O Banco Central sinalizou que pretende aumentar ainda mais a taxa Selic neste trimestre para ancorar as expectativas em patamar mais próximo do centro da meta.

Apesar disso, mantivemos nossa expectativa de que a taxa de juros encerrará o ano em 10,25%. As contas externas seguem equilibradas. O saldo comercial diminuirá de US$ 61 bilhões em 2021 para US$ 51 bi neste ano, patamar ainda elevado. Assim, o déficit em conta corrente, estimado em 2,2% do PIB, poderá ser financiado pelo ingresso líquido de capitais, permitindo a manutenção do dólar em torno de R$ 5,60 no final do ano, salvo aumento de incerteza fiscal.

As contas públicas foram beneficiadas ao longo dos últimos trimestres pela recuperação da atividade no segundo semestre de 2020, pelo forte aumento da inflação e por fatores não recorrentes. Estimamos que esses elementos não estarão presentes na mesma magnitude neste ano, o que prejudicará o resultado fiscal. Assim, somando o aumento do custo de financiamento, estimamos que a dívida pública subirá de 81% do PIB em novembro de 2021 para 85% do PIB no final de 2022.

Em suma, o cenário econômico para esse ano é desafiador. A incerteza fiscal e a elevação da taxa de juros prejudicarão o desempenho da atividade econômica brasileira, proporcionando uma importante desinflação no médio prazo. Que venha 2022.

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Eduardo Yuki é Superintendente Executivo de Economia do Banco Safra. Atua há mais de vinte anos no mercado financeiro. Possui mestrado em Teoria Econômica pela Faculdade de Economia e Administração (FEA), da USP.

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