Desafios de marketing: salve suas economias e o planeta

A virada de ano trouxe consigo impactos diversos na economia e na perspectiva dos consumidores sobre o futuro. Tivemos a posse do novo Presidente da República e, logo na sequência, a depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília. Em seguida, todos foram surpreendidos pelas fraudes e posterior pedido de recuperação judicial da Americanas. Neste cenário turbulento, temos ainda o impacto da inflação acumulada e as incertezas do cenário político-econômico. Diante destas circunstâncias, é natural que os consumidores busquem novos hábitos, os quais podem ser uma oportunidade para as marcas.

Como efeito do contexto atual de choques econômicos, guerras, impasses políticos, inflação e escassez de produtos, os compradores estão com menos dinheiro e mais ávidos por soluções que proporcionem maior equilíbrio e permitam lidarem melhor com maiores restrições. Relatório da Euromonitor, com as 10 principais tendências de consumo para 2023, destaca a tendência do “Compradores Cauteloso”, os quais estão dedicando extrema atenção para suas atividades de consumo. Por outro lado, temos uma outra tendência de consumo destacada no mesmo relatório que é denominada de “Ecoeconômicos”, os quais aliam a necessidade de economizar com aspectos relacionados à sustentabilidade, conjugando a economia dos seus recursos com opções que podem ajudar a salvar o planeta.

Neste contexto desafiante, os consumidores se movem num compasso em que ora são direcionados e pressionados a reduzir seus custos, e economizar, e ora se dobram a seus impulsos de gratificação instantânea. Nesse caso, voltam-se ao consumo de soluções que expandem seu poder de compra e sua visão de um futuro melhor, e sua felicidade, aliviando as pressões do dia a dia mais austero, e procurando gerar um impacto positivo no planeta.

Tendência Global de economizar

Num contexto de aumento de preços e de fuga do endividamento, as pessoas se vêem confrontadas com decisões entre menor consumo, alternativas de menor custo, abdicar totalmente da compra. Por exemplo, os “Compradores Cautelosos” pretendem manter ou diminuir gastos (90%), manter ou aumentar seu consumo de marcas próprias (82%) e manter ou aumentar a visita a lojas de desconto (89%). Neste cenário os consumidores passam a rever as suas compras e decisões de consumo em relação a inúmeras categorias de produtos. Em suma, a essencialidade de categorias e produtos é colocada à prova, assim como as barganhas por preço ganham importância na decisão de compra.

Realizar trocas por produtos mais baratos significa que produtos de marca própria ganham espaço na cesta de compra em certas categorias. Neste cenário de troca de marcas e experimentação surgem oportunidades para as empresas. Aquelas organizações que se anteciparem a este movimento dos consumidores, apresentando produtos que tragam simultaneamente economia e também atributos valorizados pelos novos consumidores terão vantagens competitivas.

Por outro lado, a existência de compradores mais cautelosos incentivam a migração para o comércio eletrônico, influenciando as margens das organizações que adotam estratégias presenciais. Estes consumidores entendem que economizar é preciso, então partem para ponderação ainda mais intensa sobre fidelidade de marcas, os custos de frete, tempo e despesas de deslocamento na balança.  Assim, lojas mais econômicas passam a atrair cliques e entrar no percurso de compras dos consumidores. Neste cenário, o crescimento de redes como Assai e Oxxo trabalham na questão das economias de custo e também na economia de tempo para acesso à loja. Apesar da busca por oportunidades de compra com alto custo/benefício, os clientes ainda estão motivados para encontrar opções que tragam atributos valorizados.

Impacto na sustentabilidade como critério de diferenciação

A dualidade da necessidade de economizar e também adquirir produtos que tenham atributos que conectem com valores dos consumidores abre espaço para empresas que tenham sucesso na construção de propostas que combinem estes dois aspectos. Isso significa que a diminuição do consumo, advinda da elevação da incerteza futura, e da elevação dos preços dos bens, energia e habitação, está abrindo possibilidades e oportunidades para a busca por decisões mais sustentáveis, que salvem as economias e o planeta.

Para que esta equação funcione, é necessário que as propostas das empresas sejam construídas a partir de inovações que ao mesmo tempo tragam benefícios de custo e também de impacto positivo no planeta. Por  exemplo, bens duráveis energeticamente eficientes e que apresentam com maior longevidade podem obter a preferência dos consumidores que compram pensando no fluxo financeiro relacionado ao produto no longo prazo.

Em outras searas, esta dinâmica de mercado voltada para a redução do consumo, tem estimulado atividades mais ambientalmente amigáveis como consertos, compras de segunda mão e aluguel, o que impacta positivamente o planeta. Diante disto ganham força modelos de negócios circulares, como serviços de revenda e aluguel que reduzem desperdício e fornecem maior acessibilidade de categorias aos consumidores.

Em suma, é importante estar atento às inovações tecnológicas, de processos, de insumos e matérias primas que permitam à empresa competir tanto em custos como em atributos que sejam valorizados por consumidores conscientes dos desafios que o planeta enfrenta. O segmento de mercado que é impactado por estas escolhas estratégicas cresceu muito e tende a crescer nos próximos anos, principalmente pela força das novas gerações que estão muito mais antenadas com este tipo de proposta.