O presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, entra em seu segundo ano de mandato com a difícil missão de convencer os americanos de que o país está no caminho certo. Para que isso aconteça, boa parte dos desafios a serem vencidos estão concentrados na agenda econômica.
Segundo uma pesquisa recente do jornal The Wall Street Journal, os eleitores estão entrando no ano de mau humor, pessimistas em relação à economia e com pouca confiança na liderança do presidente Biden e seu partido, incluindo os aspectos fiscais e a inflação, a maior em 40 anos.
Pesquisa elaborada pela CNBC/Change Research aponta tendência semelhante: as frustrações sobre a economia são as principais culpadas por trás da queda de popularidade de Biden, já que quase todos os grupos demográficos apontaram ser o problema número um.
A economia era a principal prioridade para homens e mulheres, em todas as faixas etárias, eleitores latinos e brancos, e aqueles com e sem educação universitária. Os entrevistados negros, que nomearam o racismo como sua principal prioridade, disseram que a economia está em segundo lugar.
O índice de aprovação do presidente Biden está agora em 44%, abaixo dos 46% em setembro e 51% em abril. Chama a atenção o fato de que em um dos melhores anos para diversos setores, e para o mercado de ações em especial, o governo não tenha conseguido surfar nessa onda.
Os principais indicadores das bolsas de valores encerraram em 2021 com altas expressivas. O Dow Jones Industrial Average subiu 18,73%, o Nasdaq Composite cresceu 21,4% e o S&P 500 fechou o ano passado com valorização de 26,89%. Além disso, amplos investimentos foram realizados para amenizar os efeitos da pandemia, cerca de US$1,9 trilhão, e muito capital político foi direcionado para aprovação do pacote trilionário de infraestrutura. A taxa de desemprego está em 3,9%. Mas apesar dos números favoráveis, o presidente e seu partido ainda não conseguiram convencer os eleitores americanos de que as coisas estão realmente melhores do que há 12 meses.
As disputas internas entre os democratas já atrasaram a próxima série de prioridades econômicas de Biden, incluindo o projeto Build Back Better de US$1,75 trilhão. Aprovado na Câmara em novembro, a proposta enfrenta desde então um grande revés no Senado. O outro Joe, o senador Manchin, democrata de Virgínia Ocidental, disse que votaria contra o projeto.
Com um Senado dividido igualmente e todos os 50 republicanos se opondo, a decisão de Manchin praticamente condenou uma das mais importantes propostas que Biden esperava que fosse parte de um grande legado para o país.
O projeto de lei previa investimentos significativos para enfrentar questões ambientais e as mudanças climáticas, subsídio à pré-escola, expansão de créditos fiscais para crianças, garantia aos trabalhadores americanos de quatro semanas de licença remunerada e ampliação da oferta de moradias acessíveis e assistência de saúde a idosos.
Os democratas podem tentar aprovar elementos separados do projeto de lei que Manchin apoia ainda em 2022, mas mesmo esse caminho ainda parece incerto.
Outra importante questão é a inflação incrivelmente alta para padrões americanos. O indicador fechou 2021 em 7%. Antes considerado um fenômeno transitório, virou o inimigo a ser abatido o mais rápido possível. O Banco Central americano (Federal Reserve) é uma instituição independente, mas vem sofrendo pressões para agir de forma mais contundente. Uma elevação na taxa de juros é esperada para ocorrer até março. Outras estão no radar. O objetivo é interromper o ritmo de elevação dos preços.
Mas aqui também existem desafios. Biden fez três indicações para assentos vagos no Conselho de Governadores do Federal Reserve. A grande questão é como Sarah Bloom Raskin, Lisa Cook e Philip Jefferson, se confirmados pelo Senado, poderiam influenciar nas decisões.
Os três indicados já enfatizaram a importância de administrar um mercado de trabalho aquecido para obter ganhos para os trabalhadores e maior igualdade racial. Isso poderia ser um indício de que os três novos governadores resistiriam a continuar elevando a taxa de juro assim que a inflação começar a ter um comportamento mais moderado. Uma série de altas sucessivas pode trazer a inflação para os patamares anteriores, mas esfriar o ritmo de crescimento da economia em um ano crucial para o presidente e seu partido.
Com uma agenda delicada com foco em controle inflacionário sem abrir mão do crescimento, consertar as cadeias de suprimentos e levar as pessoas de volta ao trabalho em segurança, o governo Biden começa seu segundo ano na Casa Branca em posição precária.
Em um Senado igualmente dividido e uma maioria estreita na Câmara, os democratas podem perder o controle do Congresso nas eleições de meio de mandato em novembro se não começarem a entregar resultados que toquem mais efetivamente o eleitorado. A tarefa é bastante desafiadora dado um cenário onde o saldo na conta do capital político anda baixo e o tempo é um ativo escasso.