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Marcus Nakagawa

Marcus Nakagawa

Os desafios do ‘E’ do ESG

Movimentos sustentáveis urgem por “corridas” que precisamos acelerar cada vez mais, pois as questões ambientais estão na pauta empresarial cada dia mais

Foto de pôr do sol com árvores em frente a prédios espelhados, alusivo às questões ESG

Precisamos atender as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das futuras gerações atenderem às suas necessidades | Foto: Getty Images

O Acordo de Paris foi fortalecido na COP26 com a meta de chegarmos ao aquecimento de 1,5ºC até 2030, comparado aos tempos pré-industriais. Para quem está começando agora a compreender o aquecimento global (ou como os especialistas chamam, emergência climática), chegamos até este momento devido aos Gases de Efeito Estufa (GEE) que o nosso atual estilo de vida trouxe como consequência. Ou seja, todo este modelo de produção, consumo e descarte com a base de combustíveis fósseis.

Óbvio que, se não tivéssemos todos estes processos ao longo dos séculos, não teríamos as melhorias da qualidade de vida de algumas populações e o avanço tecnológico que temos hoje, lembrando sempre que nem todos os habitantes do planeta aprimoraram a sua qualidade de vida, que se enquadra no S do ESG.

Segundo o World Resources Institute, já com o aquecimento global de 1,5º C, teremos várias mudanças no clima com 14% da população global exposta a ondas de calor, pelo menos uma vez a cada cinco anos, e se chegar a 2ºC este número sobe para 37%. A quantidade de 4,8 milhões de km² de gelo permanente (permafrost) derreterá com 1,5ºC e com 2ºC serão 6,6 milhões de km². Os recifes de corais, que são os ecossistemas de muitos peixes e a base para a multiplicação de vários outros animais marinhos, diminuirá de 70% a 90% a 1,5ºC e a 99% se chegarmos a 2ºC. Fora a quantidade de catástrofes naturais como temporais, inundações, secas, furacões, entre outros que continuam aumentando e afetando todo um planejamento de cultivos e criações de animais.

Podem parecer números inimagináveis ou em um tempo longo demasiado, porém, todas estas mudanças já estão interferindo nas atividades de produção e investimentos das empresas e governos. A base do desenvolvimento sustentável é exatamente esta, como colocado no Relatório Nosso Futuro Comum (https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/5987our-common-future.pdf), elaborado pela Comissão Mundial sore o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987, o qual já confirmava que precisamos atender as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das futuras gerações atenderem às suas necessidades. É desta maneira que necessitamos pensar urgentemente!

Uma das formas é realizarmos a gestão do carbono, um dos principais Gases de Efeito Estufa que gera o aquecimento global. Na última reunião da COP foram definidas algumas regras para esta compra e venda de carbono global, gerando a oportunidade de negócios, não necessariamente a diminuição das emissões, pois permite ainda alguns países e empresas a emitirem e depois compensarem.

No entanto, existe uma campanha chamada “Race to Zero” (https://unfccc.int/climate-action/race-to-zero-campaign), ou seja, traduzindo literalmente, uma corrida para o zero. A ideia é que este movimento global engaje lideranças de países, estados, cidades, empresas e investidores para zerar as emissões líquidas dos gases de efeito estufa até 2050. Lançada no Dia Mundial do Meio Ambiente, esta coalizão conta com iniciativas de líderes representando 733 cidades, 31 regiões, 3.067 empresas, 173 dos maiores investidores e 622 Instituições de Ensino Superior.

Coletivamente estes atores representam cerca de 25% de emissões de CO2. O formulário de inscrição para este movimento busca as informações em torno de quatro áreas principais para aprimoramento: a criação de planos verificáveis; acompanhamento de ação e medição de impacto; encorajar uma política positiva para garantir a integridade; e apoiar os membros e responsabilizá-los por seus compromissos.

No caso do Brasil, quatro estados, doze cidades e mais de cem empresas assinaram este compromisso nos primeiros meses do movimento. Os estados de Pernambuco, Pará, Minas Gerais e São Paulo estão na campanha. Outros atores do ecossistema também fazem crescer este movimento como o Green Building Council Brasil (GBC Brasil), que possui uma certificação de construção Net Zero, no qual busca reduzir as emissões de carbono em construções novas ou já existentes. Já existem projetos registrados em várias cidades do país, dois bons exemplos são o Centro Sebrae de Sustentabilidade, em Cuiabá, MT, e a Sede da Geotérmica em Tamboará, PR.

Também no nosso país, o ImPacto NetZero (https://www.impactonetzero.com/) é um chamado para a mobilização que a Klabin e a Rede Brasil do Pacto Global da ONU para empresas e organizações de todos os tamanhos, e também pessoas físicas, se comprometam a reduzir suas emissões de carbono até 2050.

Estes movimentos e os nossos desafios urgem por “corridas” que precisamos acelerar cada vez mais, pois as questões ambientais, o E de Environmental do ESG estão na pauta empresarial cada dia mais. E se não dermos um foco para resolver estes problemas do mundo perderemos todas as corridas.


Marcus Nakagawa é professor da ESPM e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental

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