O ano de 2021 começa com as nossas esperanças renovadas depois de um ano tão complexo e desafiador, agravado pela pandemia. Tomamos um fôlego para seguir adiante, mas continuaremos analisando fatos e dados, interpretando informações e tomando decisões num horizonte de tempo cada vez mais estreito.
Inexoravelmente, seguiremos a nossa jornada coletiva de tornar este planeta um lugar melhor para nós, nossos filhos e as gerações vindouras.
Felizmente, já sabemos o que fazer: Desde 2000, o Pacto Global da ONU tem atuado como uma iniciativa voluntária para fornecer diretrizes para a promoção do crescimento sustentável e da cidadania, por meio de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras, que já somam mais de 14 mil membros, em 70 redes locais, que abrangem 160 países.
As organizações que fazem parte do Pacto Global estão comprometidas a seguir no dia a dia de suas operações os 10 Princípios universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e práticas anticorrupção.
Em 2015, os 193 países-membros da ONU estabeleceram, por unanimidade, a Agenda 2030. Ela contempla 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, que se desdobram em planos de ação para serem cumpridos até 2030.
Se formos bem-sucedidos, seremos capazes de erradicar a pobreza extrema, garantir condições para que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade, e preservar as gerações futuras da severidade dos efeitos adversos sobre a mudança do clima.
Confesso que não consigo visualizar propósito tão nobre quanto esse hoje no mundo.
Lamentavelmente, não temos toda a atenção e concentração da humanidade neste sentido. E por que tamanha inércia?
O historiador Yuval Harari, em seu livro “Notas sobre a pandemia e breves lições para o mundo pós-coronavirus”, parece ter encontrado a chave da questão: As pessoas precisam confiar nos especialistas, os cidadãos precisam confiar nos poderes públicos e os países precisam desenvolver confiança mútua em torno de propósitos maiores. Ou seja, ao fim e ao cabo, precisamos confiar mais em nós mesmos.
Nos últimos anos, em diversas regiões do planeta, políticos com visão de mundo restrita minaram a confiança da sociedade na ciência, nas instituições e na cooperação internacional. Hoje, enfrentamos uma carência de líderes políticos que possam – construtivamente – articular e financiar ações globais coordenadas.
As empresas já têm evoluído bastante. No entanto, podem e devem continuar contribuindo de forma decisiva ao investirem mais (e melhor) em educação, pesquisa e desenvolvimento para sustentabilidade empresarial, considerando o seguinte:
I) Habilidades de gestão de causa e efeito para questões ambientais ligadas direta e indiretamente ao seu negócio;
II) Ampliação da consciência sobre rigor ético, cidadania empresarial e igualdade de condições para competir no mercado;
III) Atuação equilibrada entre governança e gestão para a administração coerente de conflitos de interesses;
IV) Generosidade para o desenvolvimento de talentos que floresçam sem quaisquer preconceitos, distinções ou restrições; e
V) Mentalidade disciplinada para conciliar todos os fatores anteriores com geração de valor econômico consistente para a sociedade.
Líderes inspiradores, engajadores e exemplares serão os catalisadores destas mudanças e promotores desta nova mentalidade.
De um lado, mobilizando a sociedade para dizer que o relógio está andando e que 2030 está logo ali. De outro, demonstrando coerência em suas ações, agindo pelo exemplo e não hesitando ao menor sinal de críticas ou retaliações.
Saber o que não fazer é essencial para preservar energia, atenção e concentração no que deve ser feito. Tal como em “Há Tempos”, do saudoso Renato Russo, que diz: “Disciplina é liberdade/ compaixão é fortaleza/ ter bondade é ter coragem (…).”
Que em 2021 tenhamos a disciplina necessária para acelerar a nossa jornada rumo à Agenda 2030.
*Carlos Alberto Bezerra de Moura é contador e Vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da BRF, uma das signatárias do Pacto Global desde 2007.