Toda vez que a inflação se manifesta de forma generalizada e o remédio mais utilizado, o aumento de juros forte por um longo período, se materializa, as questões sobre as dores causadas por ambos na economia e na vida das pessoas reaparecem.
Conter a inflação e preservar o poder de compra é uma missão sagrada para os bancos centrais mundo afora. Não é por acaso que em 2022 as autoridades monetárias nos Estados Unidos, Europa e Brasil fizeram fortes elevações nas taxas básicas de juros com o objetivo de desaquecer a economia e trazer as pressões sobre preços para padrões considerados mais normais, digamos assim.
A inflação prejudica a todos, mas é sempre mais cruel com a população mais pobre, que não possui reservas financeiras ou mecanismos de proteção contra a perda do poder de compra. Mas, se com a elevação de juros a inflação fica mais controlada, o crescimento econômico e a geração de empregos ficam ameaçados. Se esse cenário se mantiver por meses, um país pode entrar em recessão.
Muitos especialistas em economia defendem que a inflação persistente é algo mais incômodo de se conviver por muito tempo do que uma recessão. Sob essa ótica, a elevação dos juros seria um mal necessário e mais palatável.
Nos Estados Unidos os dados mostraram que tanto a produção industrial quanto as vendas no varejo caíram de forma bastante acentuada. Esses setores são dois importantes setores que são acompanhados com lupa pelos economistas pelos sinais antecedentes que emitem sobre o que vem à frente. No momento, os números apontam que uma recessão estaria próxima.
Mas isso não é uma unanimidade. Muitos ainda acreditam na possibilidade de um pouso suave, com inflação retrocedendo sem necessariamente uma recessão instalada. Mas, com um mercado de trabalho ainda mostrando força e com a demanda por mão de obra aquecida, o Federal Reserve, o Banco Central americano, teme que aumentos salariais para atrair ou reter trabalhadores ainda gerem pressões inflacionárias via consumo e por repasse de parte dos custos ao produto final em todos os setores.
Antes da zona do Euro e dos Estados Unidos, o Brasil fez a lição de casa e iniciou um ciclo de alta na taxa básica de juros, o que foi fundamental para preservar em um ano turbulento as bases da economia.
Em 2022 o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 5,79%, acima da meta do Banco Central, mas abaixo da inflação acumulada nos EUA (6,5%) no mesmo período, pela primeira vez desde 2007. Mas o maior risco ao Brasil é manter o cenário de juros altos por um longo prazo, desestimulando o crescimento das cadeias produtivas.
Para os mercados emergentes de maneira geral, uma recessão mais duradoura nos Estados Unidos poderia arrastar a Europa junto, ampliando os riscos. Uma redução nos fluxos de capital ocasionada por um menor apetite por risco pode impactar economias menos poderosas, prolongando a manutenção de juros mais elevados com o objetivo de evitar uma saída expressiva de capitais e pressões sobre a taxa de câmbio.
Se as cadeias de suprimentos globais permanecerem mais estáveis, com o fim da política de Covid Zero na China, o mercado de trabalho nos Estados Unidos perder um pouco do seu ímpeto e as questões energéticas no mundo forem se equalizando nos próximos meses, pode ser que um quadro de recessão, se ocorrer, seja breve.
Mas para que pelo menos parte desse cenário aconteça de fato, ainda será necessário combinar com os russos.