A conquista foi do Einstein. Além de elevar a régua dos padrões e processos de qualidade e segurança da organização, a iniciativa estimulou outras instituições do setor a seguirem caminho semelhante.
Em 1999, a presença do então presidente Fernando Henrique Cardoso e de outras autoridades federais, estaduais e municipais na cerimônia que se realizava no Einstein era indicativa da importância daquele momento: a entrega da acreditação da Joint Commission para o hospital, o primeiro fora dos Estados Unidos a conseguir tal feito. Só depois disso, a Joint Comission virou “International” (JCI), passando a certificar serviços de saúde de qualquer lugar do mundo.
Para o Einstein, era como receber a medalha de ouro por vencer uma maratona que começara anos antes e mobilizara praticamente todos os seus setores. O compromisso com a qualidade da assistência e a segurança do paciente já era premissa fundacional, mas o que se vislumbrava à época era alinhar a organização com os melhores padrões reconhecidos globalmente. Assim o Einstein submeteu-se à auditoria da Joint Commission, que ajudava os melhores hospitais norte-americanos a rever e redesenhar seus processos assistenciais a fim de torná-los mais seguros, eficientes e centrados no paciente.
Desde a primeira auditoria, outras oito (de recertificação) se seguiram, a mais recente em agosto de 2024. Ao longo desses 25 anos, o Einstein promoveu múltiplas transformações não apenas em seus processos e procedimentos, mas também na sua cultura organizacional, de forma que a excelência tornou-se presente nos mínimos detalhes. Tão presente que, como observa Claudia Laselva, nossa diretora de Serviços Hospitalares e de Práticas Assistenciais, as auditorias de recertificação nem geram mais aquele estresse de se preparar ou ajustar processos para receber os auditores.
“Não precisamos nos preparar para a auditoria porque esse é o nosso normal, a nossa rotina”, diz ela. Chegar a esse ponto não é algo que acontece da noite para o dia. É uma construção que começa na alta liderança e vai permeando todos os setores e profissionais de todos os níveis.
Esse “nosso normal” chegou até a surpreender os próprio auditores no processo de recertificação realizado na época da pandemia de Covid -19, quando a crise sanitária já tinha levado nosso profissionais ao limite. Na reunião em que nos comunicaram a excelência dos resultados mesmo nesse contexto desafiador, os auditores choraram emocionados. E nós também”, contou.
Os requisitos da JCI evoluem ao longo do tempo, incorporando ao seu referencial as melhores práticas das instituições que são auditadas a cada três anos. Na primeira auditoria do Einstein, foram 350 requisitos mensuráveis avaliados. Nesta última edição, 1.200. Eles estão organizados nos 13 capítulos do “Manual de Padrões de Acreditação da JCI para Hospitais – Incluindo Padrões para Hospitais e Centros Médicos Acadêmicos”.
O não cumprimento de alguns requisitos, como não ter os indicadores de segurança do paciente dentro das metas internacionais, leva à perda da acreditação. O contexto externo também eleva o nível das exigências. O controle do descarte das sobras de morfina aplicadas nos pacientes, por exemplo, tornou-se mais rigoroso por causa da crise de abuso de opioides e o risco de criminosos tentarem se apropriar desses restos de alguma forma a fim de vendê-los aos usuários dependentes.
Além dos benefícios que colheu (inclusive em termos de reputação internacional), o pioneirismo do Einstein naquele final dos anos 1990 inspirou outras organizações a seguirem caminho semelhante.
Considerando os principais organismos internacionais e nacionais, hoje o Brasil tem 71 hospitais com acreditação da Joint Comission International, 22 da Accreditation Canada/Qmentum e 379 com a ONA 3 (Organização Nacional de Acreditação nível 3, que é o nível máximo e o que mais se aproxima das anteriores).
É verdade que esses processos têm custo e exigem muito trabalho – aspectos nem sempre viáveis para muitas instituições. De qualquer forma, se pensarmos que o país tem cerca de 6.700 hospitais, seria desejável intensificar a busca de acreditações. No final da linha, quem ganha é o paciente.