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Ilton Caldeira

Eleitor dos EUA escolhe que tipo de inflação prefere enfrentar

A decisão dos eleitores nas eleições americanas é baseada no que eles acham que poderá dar algum alívio imediato ao bolso e mais estabilidade a médio prazo

Analise eleicoes eua

Eleitores estão indo às urnas em número recorde para optar por duas visões econômicas contrastantes de Donald Trump e Kamala Harris | Foto: Getty Images

Os Estados Unidos se aproximam da reta final da eleição, a mais acirrada disputa política da história do país. A questão que mais paira na mente dos eleitores é a inflação. O aumento do custo de vida tem sido motivado por diversos fatores como por  exemplo: as interrupções na cadeia de suprimentos desde a pandemia, escassez de mão de obra e gastos do governo via incentivos, entre outros. Isso desperta profundas ansiedades econômicas.

Agora os eleitores, que têm ido às urnas em número recorde no período de votação antecipada (o dia oficial esse ano é 5 de novembro), podem optar por duas visões econômicas contrastantes. Uma é a política protecionista de Donald Trump, do Partido Republicano. A outra é a continuação e potencial expansão da agenda Build Back Better, lançada pelo presidente Joe Biden, tendo como herdeira e vice-presidente Kamala Harris, ambos do Partido Democrata.

Durante sua primeira presidência, Donald Trump tinha uma plataforma econômica que, em grande parte, era caracterizada pelo protecionismo. Essas políticas foram projetadas para proteger as indústrias americanas da concorrência estrangeira. Trump impôs tarifas. Essas tarifas visavam importações, principalmente as com origem na China. Esse movimento tinha como objetivo revitalizar a manufatura americana.

Trump argumentava e segue batendo na tecla de que essas medidas protegem empregos e indústrias nacionais e que reduzem a dependência dos mercados globais. O Republicano também pressionou muito durante seu governo anterior pela desregulamentação e defendeu cortes de impostos, que, ao menos no discurso, teriam potencial de aumentar os investimentos e o crescimento econômico.

Para os eleitores que temem a inflação, as políticas protecionistas de Trump podem parecer atraentes. Elas oferecem uma narrativa que é simples. Trazer de volta a produção para a América. Reduzir a dependência de importações. Criar uma economia mais autossuficiente.

Os defensores dessa visão argumentam que a estabilização de preços se daria a longo prazo. No entanto, os críticos discordam, enfatizando que tarifas e restrições comerciais podem aumentar os custos. Isso geralmente acontece quando as empresas repassam os preços mais altos de importação e produção para os consumidores.

Tendo como base comparativa o primeiro mandato de Trump, essas medidas não reduziram a inflação. Alguns argumentam que elas pioraram as pressões inflacionárias em vários setores. Por quê? Porque elevaram o preço de segmentos dependentes de matérias-primas ou bens manufaturados no exterior.

Na outra ponta do espectro está o plano Build Back Better e sua possível ampliação em uma administração Harris. O pilar do plano é um enorme investimento em infraestrutura, energia verde, e programas sociais.

Os defensores do Build Back Better afirmam que os investimentos em energia renovável são importantes. A melhoria do transporte também. A modernização da infraestrutura crítica é necessária. Tudo isso pode tornar a economia dos EUA mais forte diante dos desafios futuros. Medidas como subsídios para creches podem ajudar. Reformas educacionais também. Créditos fiscais para famílias com baixa renda são importantes. Eles podem reduzir os desafios financeiros e a disparidade de renda para muitos americanos.

Apesar das pressões fiscais significativas para esses programas, a aposta é que a produtividade econômica possa aumentar. O aumento da eficiência da cadeia de suprimentos também pode ser um resultado e a promoção de crescimento sustentável a longo prazo.

No entanto, os críticos são rápidos em mostrar os riscos. Os gastos do governo, analisam, podem jogar mais combustível para alimentar a inflação, injetando grandes quantias de dinheiro na economia. Isso aumenta a demanda mais rápido do que a oferta pode acompanhar. Esse movimento já foi amplamente constatado na prática, em tempos recentes, com as políticas de incentivo econômico durante a pandemia de Covid.

A decisão dos eleitores que estão se apresentando para chancelar suas escolhas é baseada no que eles acham que poderá dar algum alívio ao bolso no curto prazo e mais estabilidade a médio prazo. A opção por qual tipo de programa econômico e de qual perfil de inflação isso representa poderá ser um fator determinante sobre quem sairá vencedor e em quais bases será moldado o futuro econômico do país.


Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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