O comportamento da pessoa feliz afeta todos à sua volta. O economista britânico Richard Layard, coautor do World Happiness Report, escreve em seu livro “Can we be Happier?” (2020, ainda sem tradução para o português):
“Existem muitas coisas na vida que são importantes para nós – incluindo saúde, liberdade, autonomia e realização. Mas se perguntámos por que eles são importantes, geralmente podemos dar outra resposta – por exemplo, porque eles fazem as pessoas se sentirem melhor.”
Sobre décadas de pesquisa, o economista argumenta que maximizar a felicidade geral deve ser o objetivo de qualquer sociedade ou organização.
A felicidade de todos conta igualmente, incluindo a das próximas gerações, que serão diretamente impactadas com as escolhas que faremos agora. Logo, o nosso foco deve se deslocar para aumentar o bem-estar em nossas vidas pessoais, lares, escolas, locais de trabalho e comunidades.
Construindo empresas felizes
Se concordarmos com essas afirmações, estaremos na direção de construir organizações mais felizes e, consequentemente, mais prósperas. A dualidade aqui permite uma inversão dos fatores, já que prosperidade e abundância estão diretamente conectadas com a felicidade, conforme Sonja Lyubomirsky, em “A Ciência da Felicidade” (2007).
“O negócio do negócio é o negócio” é uma frase célebre do economista Milton Friedman em um artigo para o New York Times em 1970. Seu argumento era o de que o papel da liderança é maximizar os resultados, custe o que custar, e que qualquer esforço fora dessa perspectiva deveria ser punido.
Esse tipo de pensamento, que ainda prevalece, é responsável por ações prejudiciais dentro e fora das organizações, gerando impacto negativo para o meio ambiente, a saúde e o bem-estar dos colaboradores e consumidores. Seguindo a lógica da Ciência da Felicidade, é um fator gerador de infelicidade.
Assim pontua Alexander Kjerulf em seu livro “Leading With Happiness” (2017):
“Pense por um segundo em como seria viver em um mundo onde os líderes empresariais colocassem a felicidade em primeiro lugar. Imagine que os negócios se tornariam uma força geral para o bem, maximizando não apenas os lucros, mas também a vida das pessoas.”
Segundo o autor, suas pesquisas se fundamentam em líderes motivados principalmente por fazer o bem, com clara visão do que desejam melhorar no mundo e, em vez de apenas aumentar lucros para o acionista, desejam criar mais felicidade em quatro domínios específicos:
- Para si próprios;
- Para seus funcionários;
- Para seus clientes;
- Para a comunidade/o mundo.
E Kjerulf conclui:
“Esses líderes criam organizações sustentáveis – não apenas ambientalmente, mas também econômica, social e psicologicamente. A vida de seus funcionários é melhor e mais feliz por trabalharem lá. A vida dos clientes é melhorada pelos serviços ou produtos da empresa. E o mundo é, de certa forma, um lugar melhor porque a empresa existe.”
E não ignore o primeiro beneficiado: esses líderes estão mais felizes porque sabem que sua liderança está tornando as coisas melhores, não piores. Finalmente, líderes felizes criam melhores resultados para suas organizações, porque a felicidade tem uma longa lista de efeitos positivos nos resultados financeiros.
Um dos mais influentes dinamarqueses do século 20, Knud Ejler Løgstrup, foi professor de ética e filosofia da religião na Universidade de Aarhus. Ele defendia que nós afetamos todas as pessoas com as quais interagimos e temos a responsabilidade de cuidar bem delas, impactando-as positivamente, assim a felicidade assume um papel definitivo no sentido da vida.
Por que devemos ser gentis com nossos semelhantes independentemente de condições, circunstâncias, gênero e raça? Porque isso os deixa felizes e, por consequência, nos torna mais felizes. Essa lógica pode ser aplicada nas mais diversas áreas da vida.
Vale ressaltar que, no World Happiness Report, a Dinamarca é sempre um forte concorrente a encabeçar a lista, e o estilo de vida do dinamarquês, o chamado Hygge (ligado ao conforto e ao afeto) está entre os mais copiados do mundo.
Segundo dados do The Global Gender Gap Report de 2018, a Dinamarca está entre os países que possuem melhores índices, para citar um exemplo, de igualdade de gênero.
Empresas felizes desempenham melhor e seus colaboradores são mais produtivos, criativos, comprometidos. Isso é o que mostra a edição 2020 do estudo anual Diversity Matters (diversidade importa), da McKinsey.
A pesquisa traz informações sobre como a diversidade étnico-racial, de gênero e de orientação sexual na América Latina e especificamente no Brasil pode afetar os resultados corporativos. Foi realizada com 3.900 colaboradores de 1.300 das maiores empresas do Brasil, do Chile, do Peru, da Argentina, da Colômbia e do Panamá. Entre os dados mais interessantes estão:
- Mulheres em posições executivas têm uma probabilidade 26% maior de alcançar resultados financeiros superiores aos executivos de companhias da mesma área.
- Diante do cenário de crise (a pesquisa foi realizada durante a pandemia da covid-19), o desenvolvimento de produtos e serviços para diferentes públicos torna-se essencial, e precisa disseminar valores humanos. A inovação torna-se questão de sobrevivência.
- A promoção de ambientes de trabalho inclusivos tem se provado efetiva para motivar e estimular a criatividade dos colaboradores.
- O estudo mostra que colaboradores de empresas que adotam a diversidade relatam níveis muito mais altos de inovação e colaboração do que seus pares de outras empresas. Esses colaboradores têm maior probabilidade de:
- 152% – afirmar que podem propor novas ideias e tentar novas formas de fazer as coisas;
- 77% – concordar que a organização aplique ideias externas para melhorar sua performance;
- 72% – reportar que a organização melhora consistentemente sua forma de fazer as coisas;
- 64% – afirmar que colaboram, compartilhando ideias e melhores práticas.
“A correlação entre performance financeira e ambiente diverso pode mudar a visão até dos mais céticos em relação às práticas de inclusão de diferentes grupos”, diz Heloisa Callegaro, sócia da McKinsey.
Durante o Fórum Internacional de CEOs em 2020, promovido pelo grupo Gestão RH, Ana Karina Bortoni Dias, ex-sócia da consultoria McKinsey, atualmente CEO do Banco BMG, declarou: “Se os líderes não assumirem práticas que promovam felicidade, pelas razões certas, que seja então pelo impacto porque no resultado final, no lucro das empresas”.
À frente de uma organização tradicionalmente masculina, as escolhas da CEO vêm movimentando o debate em torno de ações voltadas à inclusão de todos os públicos.