Os Jogos Olímpicos causam sempre um bem-vindo efeito colateral no sentido de inspirar a prática de esportes entre cidadãos comuns como um dos caminhos possíveis para ter uma vida mais ativa e saudável. Mas a jornada de atletas como Simone Biles e Gabriel Medina, que brilharam em Paris depois de superarem quadros de depressão, também remete à pergunta: como colher apenas os benefícios das práticas esportivas para a saúde física e mental? Mesmo para quem não é ou não pretende ter a atividade esportiva como profissão, é fundamental ter claro qual é o objetivo e buscá-lo de forma planejada. Alguns têm em mira apenas a saúde ou simplesmente assegurar um belo “shape”, outros desejam aprimorar ou até dar um salto de performance na modalidade adotada.
Além de sua importância para a prevenção de doenças, como as cardiovasculares, e controle de enfermidades crônicas, como hipertensão e diabetes, atividade física – os esportes entre elas – jogam a favor da nossa saúde mental. São, inclusive, recomendados para o tratamento de ansiedade e depressão. Exercícios físicos liberam neuro-hormônios como a dopamina e a serotonina, com reflexos positivos na sensação de satisfação e felicidade, no bom-humor, na capacidade cognitiva (memória, atenção) e no alívio do estresse.
Mas, como tudo em nossa vida, é preciso equilíbrio. Um amador que queira performar como atletas de alto rendimento sem planejamento e preparo adequado poderá tornar o esporte uma fonte de estresse, lesões e desprazer. Em casos extremos, como lembra a Dra. Luciana Janot, cardiologista do Centro de Reabilitação e Medicina Esportiva do Einstein, podem ocorrer quadros de compulsão que levam ao overtraining (treinamento em excesso), podendo desencadear a síndrome de deficiência energética, quando o aumento desmedido da intensidade e frequência das atividades resulta em alterações do humor e do sono, perda exagerada de peso, aumento de lesões osteo-articulares e queda de rendimento.
Crianças e adolescentes exigem atenção especial, porque muitas vezes os esportes tornam-se foco de estresse por conta da pressão dos pais, que neles projetam suas expectativas e fantasias sobre desempenho físico e rendimento esportivo. Da mesma forma, adultos devem ter claros seus objetivos e a forma de chegar a eles. O sedentário não vira maratonista de uma hora para outra. O exímio nadador ou ciclista não se torna um triatleta em poucos meses.
Para que a prática esportiva do amador leve aos benefícios desejados de saúde ou de alta perfomance, ela precisa estar integrada em uma rotina que contemple horas para o descanso para o corpo, noites bem dormidas, alimentação saudável e adequada para os gastos energéticos e bons planos de treino que distribuem cargas e intensidades das atividades. Quem não tem o suporte de um educador físico ou treinador profissional pode encontrar orientações, informações mais básicas e alguns aplicativos, com o cuidado de buscar fontes confiáveis e descartar as promessas de milagres. Além disso, é sempre importante uma avaliação médica.
Para aqueles que têm metas audaciosas, como competir em provas ou superar marcas, é ainda mais importante contar com orientação de um profissional e até de equipes multiprofissionais, incluindo médicos do esporte, nutricionistas e, conforme a necessidade, psicólogos também.
Já o cidadão comum, que só quer mais saúde e bem-estar, pode abraçar o esporte sem ambições maiores, escolhendo uma modalidade que lhe seja prazerosa e sempre combinando com os demais ingredientes da receita de vida saudável: alimentação equilibrada, sono repousante, combate do estresse, não fumar nem consumir drogas e evitar excesso de álcool.
Vale qualquer caminho – esporte ou outra atividade física – para escapar da tentação e dos perigos do sedentarismo. Como observa a Dra. Luciana, os especialistas o classificam como “o novo tabagismo a ser combatido”. E a dose do “remédio” antissedentarismo pode ser calculada com base nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS): entre 150 e 300 minutos de atividades moderadas ou de 75 a 150 minutos de atividades mais intensas, distribuídos ao longo da semana. Até “snacks” de atividade ajudam, como a cada hora de trabalho sentado levantar-se e fazer um minuto de polichinelo ou de flexões.
Ao abordarem seus problemas de saúde mental, atletas como Simone Biles e Gabriel Medina mostraram que são seres humanos e que mesmo profissionais do esporte têm suas fragilidades. E seres humanos que não almejam o status de atleta olímpico podem simplesmente estabelecer seus objetivos – ambiciosos ou não –, fazer um planejamento adequado e seguir com tranquilidade e segurança para subir ao pódio de uma vida melhor: o pódio da saúde e do bem-estar.