Considere a seguinte situação. Desenha-se um experimento com o propósito de avaliar a aversão de indivíduos a risco. É proposto o seguinte exercício: um jogo de pôquer. Cada jogador recebe um cacife composto por 50 feijõezinhos. Aí um observador registra tudo e tira as conclusões.
Agora suponha uma pequena alteração. O jogo é o mesmo. São também os mesmos jogadores. Entretanto, no lugar dos feijõezinhos, o cacife passa a ser composto por dinheiro de verdade. Um cacife suficientemente dispendioso para deixar os jogadores se sentido incômodos, em que pese estarem refestelados em confortáveis poltronas. Será que de fato pode-se qualificar a alteração como pequena? Será que as anotações apontarão os mesmos resultados daqueles anteriores?
A aposta com os feijõezinhos representa as pesquisas de opinião. Em outras palavras, tentam responder como se comportariam os indivíduos se os feijõezinhos fossem por eles vistos como grãos reluzentes de ouro. O cacife composto pelo dinheiro, contudo, não necessita de nenhuma associação. Nesse caso a ação dos jogadores não será descrita pelos verbos conjugados no condicional, mas sim no presente do indicativo.
Isto não significa que as pesquisas de opinião não têm validade. Bem desenhadas, com amostras representativas, podem ser aproximações úteis da realidade. Mas, há um aspecto que não se pode negar. Feijõezinhos não são grãos reluzentes de ouro. As respostas não são espontâneas, ou ao menos, não há como negar que são respostas condicionadas pelo próprio instrumento de pesquisa.
Essa falta de espontaneidade é, sem dúvida, um problema. A boa notícia é que hoje há recursos bem mais poderosos capazes de monitorar o comportamento dos indivíduos em suas escolhas sem a necessidade de colocá-los sob as lentes de um anunciado binóculo.
A IA – Inteligência Artificial permite obter informações relevantes sem que se proponha aos indivíduos exercícios onde se inicia a atividade com a seguinte frase “imagine que…”. Não há essa necessidade. É possível capturar tais comportamentos a partir das manifestações espontâneas das pessoas.
Muitos são os recursos que compõem o conjunto desses sistemas denominado IA. Certamente o mais importante é a técnica chamada: NLP – Natural Language Processing.
Para não ficar apenas no plano das ideias cita-se aqui uma aplicação recorrente desse método. A FIA e o IBEVAR criaram a plataforma V+ com o propósito de avaliar periodicamente o monitoramento da demanda do consumo de bens. Pesquisas trimestrais e em datas especiais (Natal, Black Friday, Dia da Mães, etc) são conduzidas pela V+ por meio de NLP. O grau de acerto tem sido muito superior aos métodos tradicionais de previsão.
O que a aplicação dessas técnicas aponta para o consumo de bens nesse segundo trimestre? Os dados divulgados no começo de abril apresentam as informações divididas em grandes categorias.
Considerando essas categorias e comparando com o primeiro trimestre de 2022 observa-se queda acentuada para: linha branca, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, telefonia e cine e foto. Recuperação pequena, a partir de um patamar muito rebaixado, para: informática e moda.
Em termos gerais, as projeções indicam uma queda de 6% no segundo trimestre de 2022 em relação ao mesmo trimestre de 2021 e de 2,3%, comparando com o primeiro trimestre de 2022. Tais previsões são explicadas principalmente pelo aumento da inflação.
Esses resultados, infelizmente, não são animadores. Porém, o lado positivo, para o mundo dos negócios, resultante desses levantamentos é a possibilidade cada vez mais clara de que é possível apoiar os processos decisórios valendo-se de métodos potentes fornecidos pela IA. É possível observar o comportamento das pessoas jogando pôquer, isto é, apostando dinheiro de verdade.