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Agência Estado

Felicidade no trabalho: o ‘S’ do ESG ganha selo do Inmetro

Acaba de ser homologada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) a escala cidadã ECOK, que mensura e certifica as práticas sociais nas empresas

Comemoração no trabalho

Certificação do Instituto Olga Kos é fundamentada em 20 indicadores, 37 requisitos e tem cinco importantes variáveis: arquitetônica, atitudinal, comunicacional, metrologia e programática | Foto: Getty Images

O conceito ESG de impactos Ambiental, Social e de Governança já tem práticas consolidadas nas grandes corporações, que comprovadamente aumentam a performance dos negócios, enquanto reduzem efeitos negativos em questões ambientais e de governança corporativa. Indicativos como reputação e solidez garantem resiliência e competitividade e são adendos comuns às empresas que incorporam estes critérios. 

No mercado financeiro, o ESG surgiu como uma forma alternativa de mensuração do impacto de investimentos sustentáveis para os resultados dos negócios. A sigla emergiu em 2004, dentro de um grupo de trabalho de “Princípios para Investimentos Responsáveis” ligado à ONU. O crescimento das demandas de mudanças climáticas e inseguranças sociopolíticas foram os grandes motivadores para a adoção do ESG; tratava-se de gestão de riscos mesmo. A pauta ética, embora fundamental, não é a força motriz para a larga disseminação do conceito; é performance mesmo e gestão de riscos. O economista James Gifford, que liderava o grupo de estudos, resumiu: “O termo foi criado, especificamente, para focar em questões materiais. A ideia foi reverter a lógica do que, na época, era chamado investimento ético, para se concentrar em fatores relevantes para os investidores”.

Uma daquelas raras experiências capitalistas em que o aumento do lucro está comprovadamente atrelado ao investimento ético. Assim sendo, a ideia de que “o negócio do negócio é o próprio negócio”, citação do empresário americano Alfred Sloan, atribuída ao economista ganhador do prêmio Nobel M. Friedmann, por representar muito bem sua teoria de que “o retorno ao acionista (lucro) deveria ser o principal objetivo de uma companhia”, continua válida em 2022, contudo adicionando um importante vetor de geração de valor: todas as partes interessadas estão sendo inseridas no processo, do cliente externo ao interno, do acionista ao planeta. 

O “S”

A chamada felicidade corporativa é uma ciência com comprovações de estudos realizados pelas mais relevantes universidades do planeta, mas o conceito em si do ser feliz remete a preconceitos e quando são aplicados erroneamente atribui-se a ideias de alegria. Cria-se salas de descompressão, promove-se “gourmetização”, ou seja, fomentam-se prazeres! E eles fazem bem, mas passam, são efêmeros. Felicidade corporativa engloba características de liderança positiva, de propósito, de alinhamento de valores e necessidades, da criação de ambientes positivos internos, inclusão, equidade, diversidade, de fomentar a benevolência e o voluntariado fundamentado. 

O “primo pobre” do ESG é exatamente aquele responsável por 75% (Shawn Archor, o grande potencial) dos resultados de qualquer empreendimento, a pessoa. E ser feliz é preditor de sucesso (Sonja Lyubomirsky Universidade da Califórnia). Pessoas têm deficiências físicas e mentais, diferem em gênero, raça, características físicas e quanto mais eclético um ambiente se apresenta, melhor elas performam (Gallup, 2021). O bem-estar subjetivo bem lastreado em conhecimento conduz o indivíduo à resiliência, a lidar com adversidades e a se mostrar mais apto a lidar com a imprevisibilidade. Embora sejamos todos nós, pessoas tão diferentes umas das outras, respondemos de forma uníssona ao mesmo porquê existencial: estamos aqui para sermos felizes (dados do relatório mundial da felicidade Gallup, ONU). E toda felicidade é uma decisão interna que se manifesta em coletividade, logo estamos aqui para sermos e fazermos outros felizes. 

Buscando impulsionar a letra “S”, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) reconheceu a escala cidadã ECOK, do Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural. A metodologia foi desenvolvida ao longo de dez anos e certifica se a empresa é realmente social. A certificação é fundamentada em 20 indicadores, 37 requisitos e tem cinco importantes variáveis:

  1. Arquitetônica – eliminação de barreiras físicas;
  2. Atitudinal – percepção do outro sem preconceitos, estigmas, estereótipos, e discriminações nas relações institucionais;
  3. Comunicacional – eliminação de barreiras na comunicação interpessoal, escrita e virtual;
  4. Metrologia – programas de capacitação e treinamento contemplativos, eliminando obstáculos pedagógicos para os colaboradores;
  5. Programática – eliminação de atravancos presentes nas políticas institucionais.

A Agenda 2030 da ONU e o desenvolvimento sustentável têm no bem-estar percebido humano a sua base. A felicidade das pessoas passa a fazer parte desse mesmo “lucro”, deixando de ser uma questão ideológica ou filosófica, é lucro gerado pelo bom gerenciamento dos novos “P’s” mundo corporativo: Planeta, Pessoas, Prosperidade, Parcerias e Paz. Aparentemente, encontramos a fórmula perfeita para vivermos eternamente felizes na nossa amada Terra, certo? Romantizar às vezes é preciso, mas não estamos longe disso.

Índices crescentes de ansiedade, depressão, burnout e outras tantas síndromes patológicas psicológicas mostram que as organizações estão longe da criação de estruturas adequadas para a saúde mental de todos os envolvidos. E eu não disse das doenças mentais, mas da saúde em si. Fomentar um ambiente saudável não é o mesmo que remediar ou apoiar as consequências dos fatores que levam à baixa imunidade mental. Em treinamentos e palestras nas empresas deparo-me frequentemente com o paradoxo do bem-estar. Mesmo aqueles profissionais responsáveis pela gestão de pessoas ainda estão enraizados demais em checklists e feedbacks operacionais, num modelo ultrapassado de gestão que trata mais do que previne e raramente potencializa o bem-estar para obter mais resultado. É uma forma de miopia por repetição, ou como escreveu Caetano Veloso: “Cego de tanto vê-la”. 

A criação de uma metodologia aplicada às questões sociais é um grande passo em direção à sua relevância. “Não basta uma empresa ter rampa de acesso e banheiros adaptados para cadeirantes ou ter mulheres em cargos de gestão para ser inclusiva. Para obter a certificação de empresa inclusiva, a companhia precisa alcançar, no mínimo, um patamar de 75% dos critérios estabelecidos” explica Natália Mônaco, coordenadora do departamento de pesquisa do Instituto Olga Kos. 

Assim como nas questões ambientais com o marketing de causa, o chamado “greenwashing”, empregar uma pessoa com deficiência não caracteriza uma empresa como inclusiva. Segundo Wolf Kos, presidente do Instituto, “só é efetivo o que se pode medir”. Daí a importância da metodologia de aferição. “O que queremos com esse selo é que as empresas queiram adotar o caminho do conhecimento, porque só assim elas mudam de atitude“. 

Embora o novo selo de certificação de inclusão social traga variáveis significativas para o bem-estar subjetivo, principalmente através das métricas que envolvem a comunicação, atitude e cultura corporativa, o ponto forte está principalmente fundamentado nas necessidades das pessoas com deficiência e o intuito não é parar por aqui. De qualquer forma, sabemos que ambientes inclusivos e diversos (McKinsey, Diversity Matters 2021) aumentam a percepção de felicidade coletiva. A certificação já é um marco de contribuição ao desenvolvimento humano sustentável.


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