Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia de covid-19, em 11 de março de 2020, já se passaram quase dois anos. Esse período foi marcado por diversas ondas da doença (o número delas varia, a depender da fonte) e por severos impactos tanto na saúde quanto na economia, sentidos no mundo todo.
Duas manifestações bastante diretas na vida dos brasileiros são os aumentos da inflação e do desemprego. O IPCA (índice oficial de inflação, acompanhado pelo Banco Central para tomar decisões sobre os rumos da taxa básica de juros, a Selic) encerrou 2021 em pouco mais de 10% – o resultado mais alto dos últimos anos. Pela estimativa da Instituição Fiscal Independente (IFI), vinculada ao Senado Federal), a inflação deste ano deve chegar a 5,2%, abaixo do visto em 2021 – mas ainda acima da meta com que trabalha a autoridade monetária (3,5%).
Restrições logísticas criaram restrições de oferta. Fornecedores repassam às empresas e aos prestadores de serviços os novos preços. E estes, por fim, os repassam aos consumidores. Essa dinâmica se manterá por um tempo que não há como medir com maior precisão.
Com a economia andando devagar, também há temores sobre o mercado de trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) já avaliou que o fim da crise no mercado de trabalho gerada pela pandemia ainda não está à vista. A abertura de vagas não deverá ganhar impulso suficiente ao menos até 2023. No Brasil, a organização estima que 2022 transcorra com 14 milhões de pessoas sem emprego e que, em 2023, esse contingente de pessoas tenha um recuo modesto, para 13,6 milhões.
Olhando para a saúde, a diretora-geral adjunta para Medicamentos, Vacinação e Fármacos da OMS, Mariângela Simão, disse em entrevista recente que o mundo ainda não saiu do “modo emergencial”. A variante ômicron se tornou, ou está a ponto de se tornar, predominante no mundo. O vírus em circulação aumenta o risco de que surjam novas variantes – e ainda não há como imaginar o grau de severidade das novas cepas no corpo humano.
No entanto, já sabemos que, até o momento, as variantes do coronavírus deixaram um legado de sequelas para muitas pessoas que foram infectadas: a chamada covid longa, ou seja, a persistência de sintomas mesmo após a pessoa estar curada. Levantamento da Universidade Johns Hopkins estima que cerca de um terço das pessoas infectadas pelo coronavírus apresenta o fenômeno. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, há cerca de 23,4 milhões de casos confirmados. Isso certamente continuará a pressionar os sistemas público e privado de saúde brasileiros.
Ainda assim, o avanço da imunização permite assumir algum otimismo. Novas vacinas contra covid-19 continuam em desenvolvimento, enquanto as já aprovadas são testadas e aperfeiçoadas para enfrentar novas variantes. Além disso, já temos alguns medicamentos (comprovados cientificamente, vale ressaltar) para tratar a doença com sucesso, e outros tantos que devam estar disponíveis em um futuro próximo.
Este é o caminho a ser trilhado para que alguma volta à normalidade seja possível. Mas não é o único: empresas, organizações sociais, países e mesmo cada um nós têm de incorporar os novos hábitos de convivência e compartilhamento de espaços sociais para desacelerar a transmissão. Só com condições seguras para a retomada da atividade econômica, a economia voltará a crescer e a gerar empregos. E só com um sistema de saúde (público e privado) forte, as pessoas afetadas pela covid longa vão receber a assistência que precisam, pelo tempo que for necessário – até que, finalmente, a pandemia se torne apenas uma lembrança para todos nós.