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Nelson Rosamilha

Gerenciando projetos inovadores

Levantamentos mostram que a maior causa de falhas no lançamento de novos produtos é a falta de preparação. Logo, a questão é ‘como’ e não ‘se’ a empresa vai inovar

Lâmpada acesa em destaque com equipe em reunião ao fundo, alusivo a projetos inovadores

Estimativas das universidades de Harvard e Toronto apontam que a taxa de falha de lançamento de novos produtos no mundo chega a 80% | Foto: Getty Images

Falar em inovação dentro de uma empresa nos dias atuais é um assunto corriqueiro, mas também de ansiedade. Pesquisas de mercado no mundo todo mostram que cerca de 70% a 90% dos novos produtos não deslancham. Segundo a professora Inez Blackburn, da Universidade de Toronto, a taxa de falha de lançamento de novos produtos no setor de supermercados, por exemplo, é de 70 a 80%. Já de acordo com o professor Clayton Christensen, da Harvard Business School, a cada ano mais de 30 mil novos produtos de consumo são lançados e 80% deles falham.

Ao mesmo tempo, a empresa que não inova tende a ter um ciclo de vida curto. Todo produto ou serviço tem um ciclo de vida no mercado, que passa pelo nascimento, crescimento e declínio. Nessa última fase, a empresa se vê diante da perspectiva de que esse produto caia no abismo ou que seja construída uma ponte para atingir a maturidade e até voltar a escalar novos picos. E, para atingir a segunda opção, é necessário investir em projetos inovadores para novos produtos ou por inovações incrementais. Uma sondagem realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2020, apontou que cerca de 73% das empresas realizam atividades ou investimentos em inovação.

Então, a questão não é se a empresa deve inovar, mas como ela vai inovar. Em artigo publicado na Harvard Business Review, as autoras Joan Schneider e Julie Hall afirmam que a maior causa de falhas no lançamento de novos produtos é a falta de preparação.

Por isso, é importante um bom gerenciamento dos projetos inovadores. Porém antes de discutir sobre como gerenciar projetos inovadores, é necessário entender sua jornada dentro da empresa.

O primeiro passo é definir o tipo de estratégia de inovação. Se será através de inovação fechada, inovação aberta ou inovação sustentável. Essa estratégia é definida pela liderança da empresa: CEOs, diretores sêniores, vice-presidentes, entre outros.

Na estratégia fechada, a mais tradicional, a empresa cria um novo serviço ou produto e cria uma patente para ele, mantendo sua exclusividade. É um tipo de estratégia mais segura, porém pode envolver investimentos elevados.

No caso da inovação aberta, a empresa divide com o público aquilo que está sendo construído, de modo que o compartilhamento de conhecimentos possa atrair melhores resultados ou resultados mais rápidos com menor investimento. Nesse caso, a empresa não terá a patente da inovação, mas poderá construir serviços agregados em cima desse produto.

Já a inovação sustentável é aquela que vai se preocupar em conciliar fatores mitigadores de consequências ecológicas ou prover algum retorno para a sociedade, por exemplo. São projetos em geral um pouco mais desafiadores, mas podem agregar capital de imagem à empresa.

As empresas possuem recursos limitados como consequência se faz necessário priorizar os investimentos que devem ser feitos para realizar o planejamento estratégico. Esta realização se dá através de projetos inovadores e projetos não inovadores. Este conjunto de projetos compõem a carteira de portfólio.

Mais de três quartos das empresas têm projetos demais em andamento para os recursos limitados disponíveis. Não estabelecer prioridades sobrecarrega o pipeline de desenvolvimento e gera falhas.

Então, todo o processo de inovação demandará que se faça escolhas. É um processo decisório que deve levar em conta a tríade de: estratégia, portfólio e mercado.

Dentro da gama de ideias inovadoras que vão surgindo, a empresa precisa selecionar aquela que mais se alinha com a carteira de produtos atuais. O portfólio tem que ter uma forte relação com os demais produtos da empresa. No mercado de produtos de limpeza, por exemplo, as grandes empresas como P&G e Unilever mantêm no mercado suas marcas já tradicionalmente conhecidas, como os detergentes Ariel e Omo, mas esses produtos estão sempre ganhando novas versões de forma incremental. A Apple realiza as inovações do iPhone, cujos modelos têm seus próprios ciclos de vida, mas cada novo lançamento também contribui para estender a vida útil geral da marca iPhone.

A extensão da vida útil de um produto por meio do aprimoramento de recursos e do lançamento de novos modelos tornou-se um componente importante do portfólio de inovação de produtos da maioria das organizações. Essa tendência tem colocado maior pressão sobre a velocidade no mercado e redução nos tempos de ciclo de inovação de produtos. 

Neste cenário a gestão de projetos precisa se adaptar. Normalmente a gestão de projetos atua com entregas com começo, meio e fim. Porém, projetos de inovação de produtos possuem ciclos de inovação mais frequentes e com entregas mais rápidas para atender o mercado.

Então, é preciso conhecer seu mercado, avaliando quem são os seus consumidores e as “dores” que o mercado tem e metrifica-las. Fazendo isto, você tem a oportunidade como gestor de escolher qual o melhor método que atende o mercado e como assegurar se o seu produto está realizando os resultados esperados (esta é uma outra história…). Em termos práticos, a empresa direciona a inovação, que é traduzida em iniciativas de inovação que farão parte de nossa carteira de projetos. Esta carteira necessita ser priorizada em função das restrições de recursos disponibilizados pela organização. A escolha da estratégia de gestão de projetos de inovação depende do contexto do mercado, cliente e negócio que devem ser previamente estudados e medidos. Quando você conhece o contexto do mercado, do negócio e do cliente ai, você pode escolher qual o melhor método, framework ou prática de gestão. Com esta análise, é possível determinar a abordagem de projetos: Stage-Gate, Concurrent Engineering, Integrated Product Innovation, Lean, Agile ou Lean Startup.  Ademais, o ciclo de vida do produto exige a continua entrega de projetos inovadores.


Nelson Rosamilha é coordenador dos MBAs em Gerenciamento de Projetos e Metodologias Ágeis e Logística e Supply Chain da Trevisan Escola de Negócios. É formado em processamento de dados pelo Mackenzie com MBAs na Califórnia, Pensilvânia e Tel-Aviv com ênfase em Administração, Telecomunicações e Gerenciamento de Projetos, mestre em Administração de Empresas pela PUC-SP.

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