close

Regina Nunes

Gestão de riscos e cenários de estresse

Ao fim da pandemia teremos organizações mais digitalizadas e eficientes, mas para serem vencedoras no longo prazo é necessário uma gestão integrada e holística de riscos

Homem com guarda-chuvas em tempestade

Empresas brasileiras se movimentam para incorporar temas ASG em seu planejamento estratégico e relatórios de gestão, mas ainda há muito a ser feito | Foto: Getty Images

Disrupções são matérias cada vez mais presentes em gestão de riscos e devem sempre ser consideradas como parte do planejamento estratégico de longo-prazo das organizações. Não quero dizer que as companhias estarão preparadas para conter todos os impactos dos chamados “cisnes negros”, mas quanto maior a acurácia do mapeamento de riscos, com a realização de análises de cenários, mais aptas estarão as companhias para responder de forma célere quando e se os eventos inesperados acontecerem.

E quando incluímos o ambiente de volatilidade da economia brasileira, com choques de câmbio e instabilidade política, a cultura de retroalimentação, adaptabilidade e aprimoramento contínuo torna-se fundamental no âmbito da gestão de riscos. Inclusive, no cenário de pandemia atual, enxergo os planos de continuidade de negócios e os testes de estresse como pontos de enorme relevância.

Os modelos aplicados na gestão de riscos, sejam eles de crédito, mercado, liquidez etc., são usualmente construídos sob premissas de normalidade e projetados nos cenários base, otimista e adverso. Contudo, em um cenário de crise gerado por fatores inesperados e/ou em ambientes de alta volatilidade, vejo os testes de estresse como a ferramenta mais adequada para a visão integrada de riscos. Esses testes devem focar nos impactos e na capacidade de absorção de cada evento, enquanto suas causas devem ser tratadas no âmbito dos planos de continuidade dos negócios.

Um desafio importante nessa modelagem está na necessidade de rápida adaptação. Em minha visão, já estamos vivenciando a fase de retomada da atividade econômica e precisamos criar os novos cenários “normais” ou de “caso-base”; isso tudo em meio a mudanças constantes de condições macroeconômicas globais e ameaças de novas ondas de Covid19 e suas variantes.

Cabe destacar também que, como parte da gestão de riscos, a constante e tempestiva avaliação do perfil e da matriz de riscos é o que vai possibilitar a identificação de possíveis impactos negativos no negócio, e contribui para o desenvolvimento e acompanhamento da efetividade de ações mitigatórias.

A estrutura de governança corporativa é também uma aliada forte para a perenidade e desempenho da gestão de risco de longo-prazo das organizações. Destaco aqui o papel do Conselho de Administração e seus órgãos de assessoramento, Comitê, para suportar e elevar a cultura de riscos das companhias. Isto é fundamental para trazer o alinhamento dos negócios com o apetite a risco definido, o processo de tomada de decisões e a correta definição de papeis e responsabilidades na identificação, tratamento e administração dos riscos.

A disseminação de valores e cultura deve também transcender à toda a cadeia de suprimentos e clientes. Na era do capitalismo atual, todos os stakeholders, contrapartes, devem ser considerados. Além disso, a face do tema ASG (Ambiental, Social e Governança) deve ser parte crucial de todo planejamento estratégico. Transparência, tolerância zero com corrupção, pagamento justo de impostos, proteção ao meio ambiente, relação ética e justa com empregados e fornecedores, diversidade, segurança cibernética, remuneração responsável dos executivos são apenas exemplos de temas que precisam ser constantemente analisados.

As empresas brasileiras têm se movimentado para incorporar cada vez mais temas ASG em seu planejamento estratégico e relatórios de gestão. Ainda há muito a ser feito, é necessário quantificar melhor a temática ASG para um melhor controle na tomada de decisão, mas avanços estão sendo feitos e o tema está ganhando tração.

Ao fim dessa pandemia, acredito que teremos organizações mais digitalizadas, ágeis e com melhora na eficiência operacional. Enxergo a gestão de riscos como uma matéria integrada e holística, portanto devemos seguir conjugando os sete verbos essenciais para tanto: identificar, mensurar, avaliar, monitorar, reportar, controlar e mitigar. Os bons profissionais da área de risco sempre devem conjugar um 8º verbo, o verbo aprimorar. Sob esse dicionário, certamente as organizações serão efetivas em se adaptar para serem vencedoras e sustentáveis no longo-prazo.


Regina Nunes é consultora e membro independente de conselhos de administração no Brasil e na Espanha e sócia fundadora e CEO da RNA Capital. Foi presidente da S&P Global Ratings Brasil, líder do Cone Sul e colíder da América Latina

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra