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Ilton Caldeira

Países ricos apostam em imigrantes qualificados para evitar colapso econômico

A questão imigratória deve ganhar relevância em 2023, com regras que facilitam a contratação de estrangeiros para suprir falta de mão-de-obra

Imigrantes trabalho

Estados Unidos temem catástrofe econômica por impacto da falta de mão-de-obra no mercado | Foto: Getty Images

A imigração tornou-se uma questão fundamental em 2022 nas principais economias do mundo e deverá seguir como tema central em 2023. Em uma recente declaração, o Secretário de Trabalho dos Estados Unidos, Marty Walsh, apontou o real tamanho do problema que se aproxima: “teremos uma catástrofe econômica iminente se não colocarmos mais trabalhadores em nossa sociedade e se não fizermos isso pela imigração”.

Walsh, que é o responsável pela condução das políticas públicas  voltadas ao mercado de trabalho na maior economia do mundo, faz o alerta olhando para os dados demográficos do país. Os números referentes à população em idade ativa nos EUA são preocupantes. Com as aposentadorias de baby boomers que devem acelerar nos próximos anos, agravadas por um pico previsto para 2025 de novos profissionais formados em áreas técnicas e no ensino superior, a equação não parece nada promissora.

O Secretário Walsh, filho de imigrantes irlandeses, defende a necessidade urgente de uma solução bipartidária no Congresso americano para uma reforma imigratória ampla, que diminua os entraves burocráticos e amplie a imigração de profissionais  qualificados para os Estados Unidos.

O sistema legal de imigração americana reserva uma quota anual de 140 mil Green Cards para profissionais estrangeiros nas mais diversas áreas. Mas algumas estimativas apontam que os Estados Unidos teriam atualmente uma necessidade de mais de 3 milhões de profissionais qualificados para preencher vagas em aberto, em um mercado de trabalho extremamente apertado.

Embora as taxas de imigração tenham aumentado nos últimos meses, com as regras em vigor hoje seriam necessárias mais duas décadas para que as deficiências atuais sejam compensadas. Mesmo assim, poderá não ser suficiente para equilibrar um mercado de trabalho que envelhece rapidamente, deixando mais alguns milhões de vagas à espera de novos ocupantes.

O problema é que a escassez de mão-de-obra também está contribuindo com a pressão nos preços de bens e serviços. Para competir e garantir a contratação de talentos e manter as atuais equipes, muitos empregadores estão oferecendo aumentos de salários e repassando esses custos aos consumidores.

Além da questão do envelhecimento da mão-de-obra e crescente movimento de aposentadorias, o acelerado declínio populacional é outro fator a ser considerado. A urbanização das cidades, no mundo todo, à partir dos anos de 1960, alterou o perfil da força de trabalho, por exemplo, com mais mulheres atuando ativamente no mercado, e promovendo ajustes no planejamento dos casais, tornando economicamente mais racional para as famílias urbanas terem menos filhos.

O caso americano sempre ganha atenção e as manchetes mundo afora, principalmente quando se olha para a crise na fronteira sul dos EUA. Mas a questão imigratória no mundo todo passa pelo perfil do candidato a imigrante. A corrida no mundo todo é por mão-de-obra qualificada, que possa promover um crescimento econômico mais acelerado com soluções inovadoras  capitaneadas por investimento maciço em pesquisa e desenvolvimento.

Nessa disputa, alguns países estão sendo mais ousados. No início de novembro, por exemplo, o Canadá anunciou um plano arrojado para receber 1,5 milhão de novos imigrantes até o fim de 2025.

A Alemanha que sofre faz anos com falta de mão-de-obra, vinha colocando suas esperanças na imigração de profissionais dentro da própria União Europeia. Mas com novas iniciativas, e a criação de mais opções de vistos de residência, a aposta agora é atrair profissionais de fora da Europa.

A escassez de mão-de-obra na principal economia da Zona do Euro afeta quase todos os setores do mercado de trabalho alemão, sendo mais sensível nas áreas de pesquisa, profissões técnicas voltadas para a produção industrial e no setor de saúde. Assim como nos demais países, as previsões indicam para sérios problemas econômicos se não houver uma rápida solução para a falta de profissionais qualificados.

Tudo indica que a questão imigratória poderá ser um tema de ainda mais relevância em 2023, a depender do apetite dos competidores pela busca de talentos e dos respectivos parlamentos nacionais com a aprovação das regras que possam trazer segurança aos empregadores e profissionais candidatos a imigrante.

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Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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