A inflação permanece muito alta e deve atingir 10,5% em outubro, acumulada doze meses, o que sugere maior persistência do ciclo de alta de preços. Além disso, a possibilidade de mudança na regra do teto de gastos aumentou a incerteza fiscal e depreciou a nossa taxa de câmbio nas últimas semanas, o que elevou a nossa projeção de IPCA para 9,4% em 2021 e 4,1% em 2022.
As projeções de inflação acima do centro da meta exigem uma postura mais firme da autoridade monetária. Acreditamos que banco central precisará levar a taxa Selic para 10,25% até o início do próximo ano, patamar restritivo.
O aumento da taxa básica de juros possui vários canais de transmissão para a atividade econômica. Um canal tradicional é o aumento do custo do crédito, como mostra a Figura 1, o que deverá desacelerar a concessão de crédito e poderá elevar o comprometimento de renda das famílias com serviço de dívida.
A forte concessão de crédito nos últimos trimestres aumentou o endividamento das famílias de 49% no final de 2019 para quase 60% da renda em meados desse ano. A perspectiva de aumento do custo do crédito em ambiente de maior endividamento poderá elevar o comprometimento de renda com serviço da dívida e, consequentemente, prejudicar as decisões de consumo.
O investimento das empresas também deverá arrefecer com as incertezas fiscais, o aumento do custo de capital e a menor expansão do consumo.
Dessa forma, reduzimos nossa projeção para o PIB real de 1,1% para 0,6% em 2022, abaixo do consenso dos economistas. A perspectiva de mudança do regime fiscal com a alteração do teto de gastos está deteriorando as expectativas para a atividade econômica e o mercado de trabalho dos próximos trimestres.