A inflação ao consumidor subiu ao redor do mundo nos últimos trimestres, impulsionada pelo forte aumento do preço das commodities na esteira da recuperação das condições de consumo das famílias.
Enormes estímulos fiscais impulsionam a demanda por bens desde meados do ano passado. Esse rápido aumento da procura por produtos, especialmente industrializados, ocorreu em um momento em que a cadeia de insumos ainda estava desorganizada pelos efeitos da pandemia, gerando escassez circunstancial de produtos e, consequentemente, majoração de preços.
Além disso, os principais bancos centrais mantêm suas taxas de juros próximas de zero e continuam comprando ativos financeiros. Esse excesso de liquidez contribui para o aumento de preços, inclusive de ativos financeiros e commodities internacionais.
O clima adverso (seca) também tem prejudicado safras ao redor do mundo desde o ano passado. Isso levou a um extraordinário aumento do preço de grãos. O preço do milho, por exemplo, subiu 110% nos últimos doze meses no mercado americano.
Por fim, não podemos deixar de mencionar que a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) está restringindo sua oferta de petróleo para reduzir o estoque acumulado no auge da pandemia, o que tem pressionado o preço dos combustíveis.
Assim, a inflação americana sobre 12 meses saltou de 0,3% em abril do ano passado para 5,0% em maio desse ano, maior nível desde 2008.
Figura 1. Inflação americana pressionada pelas commodities.
Olhando para frente, existem elementos que poderão reduzir a pressão inflacionária mundial no próximo ano, como:
- i. Desaquecimento do ritmo de expansão da atividade global com menor estímulo fiscal e início do processo de normalização da política monetária em diversos países;
- ii. Reestabelecimento da cadeia de suprimentos, ampliando a oferta efetiva dos bens aos consumidores;
- iii. Amenização de condições climáticas, beneficiando a próxima safra de grãos, gerando queda do preço de produtos alimentícios em 2022;
- iv. Aumento da produção pela Opep.
Esperamos que alguns desses fatores devam se realizar, como implícito, por exemplo na estabilização dos preços das commodities agrícolas (variação próxima de zero), o que permitiria a inflação americana voltar para cerca de 2,5% até o final do próximo ano.
No Brasil, a variação do IPCA em 12 meses atingiu 8,1% em maio, em decorrência da forte pressão do preço das commodities, desvalorização cambial do ano passado e aumento do preço (regulado) de energia elétrica. Enquanto isso, aqueles segmentos mais dependentes da mobilidade e exclusivamente da demanda doméstica continuaram com inflação reduzida.
Figura 2. Inflação de alimentos deve desacelerar nos próximos trimestres.
Acreditamos que essa dinâmica mudará no segundo semestre de 2021. Por um lado, o arrefecimento do preço das commodities ajudará a desacelerar a inflação de bens comercializáveis, como produtos alimentícios. Por outro lado, a redução do isolamento social impulsionará a procura por restaurantes, lazer e educação, o que deverá acelerar a recuperação do mercado de trabalho e estimular um aumento dos preços de serviços. Essa mudança de composição é compatível com nossa projeção de IPCA em 6,4% nesse ano e 3,3% em 2022.
Figura 3. Inflação de serviços deve acelerar nos próximos trimestres.
Portanto, o comportamento da inflação deverá mudar daqui em diante, com aumento da proeminência do setor de serviços. Fatores externos que pressionaram os preços nos últimos trimestres devem arrefecer e, mesmo com a inflação de serviços voltando a subir nos próximos trimestres, essa combinação permitirá que a variação do IPCA diminua em 2022, levando-a a níveis próximos do centro da meta do ano que vem.