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Claudio Felisoni de Angelo

Menos discurso, mais razão

O governo precisa descer do palanque e deixar de tentar baixar os juros gritando palavras de ordem contra as decisões do Banco Central

Curva de juros

Mais do que discursos, política de redução de juros depende de medidas efetivas | Foto: Getty Images

Na matemática, a inclinação de uma função é dada pela primeira derivada. Porém, para conhecer mais precisamente o seu comportamento, sempre é útil ter em conta a derivada segunda. Ela será capaz, por exemplo, de comunicar se a referida função é côncava ou convexa em relação à origem.

Essa ideia me veio à mente observando a discussão a respeito da taxa básica de juros. Que ela é muito alta todos sabemos. Nenhuma novidade. Na verdade, 13,75% ao ano é a maior taxa real de juros do mundo. O movimento de majoração da taxa começou em dezembro de 2021. A partir daí, em todas as reuniões do Banco Central a taxa foi sendo continuamente aumentada até atingir o patamar atual em agosto de 2022.

Deve-se notar que a inflação, em razão das necessárias medidas para amenizar os efeitos da pandemia, começou a acelerar rapidamente a partir de setembro de 2020. Praticamente mês após mês, a derivada segunda da evolução dos preços expandiu-se. Ou, como se convenciona dizer, passou a subir a taxas crescentes. Com o processo de aumento da taxa básica, o IPCA acumulado em doze meses passa a registrar um comportamento de queda somente a partir de agosto de 2022.

Ou seja, o Banco Central foi obrigado a elevar a taxa continuamente para debelar ou mitigar as pressões inflacionárias. Subindo a taxa básica, chegamos aonde chegamos.

A elevação da taxa básica passa a mensagem para os tomadores de decisão que o Banco Central não aceita uma elevação da inflação e está buscando controlar os preços e a economia de forma mais rigorosa. Isso pode resultar em um aumento do custo do crédito e um desestímulo ao consumo, o que pode afetar o crescimento econômico no curto prazo. No entanto, a medida é necessária para evitar uma escalada descontrolada da inflação, o que pode levar a um desequilíbrio econômico ainda mais grave no futuro.

Esse eventual descontrole tornou-se ao menos mais plausível pela atitude dúbia do governo em relação ao controle fiscal. É aí que retomamos novamente a comparação com a ordem das derivadas. Como nem sempre basta a primeira derivada, não é suficiente igualmente muitas vezes considerar apenas o nível da taxa de juros. Dado esse parâmetro, é importante também o movimento para cima ou para baixo da referida taxa. Se a taxa é reduzida, isso significa que o Banco Central aceita o argumento do governo de que o controle fiscal não precisa ser tão rigoroso. Em outras palavras, o governo precisa descer do palanque. Gritando palavras de ordem, em discursos aparentemente apaixonados, pode-se conseguir votos, entretanto, a realidade sempre se mostrará como efetivamente é.

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Claudio Felisoni de Angelo é professor e coordenador de Projetos da FIA Business School, ligada à Fundação Instituto de Administração da USP. Preside o conselho Laboratório de Finanças e Programa de Administração de Varejo da FIA. É professor titular do Departamento de Administração de Empresas da FEA/USP e presidente do IBEVAR - Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo.

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