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Eduardo Yuki

Ciclo de aperto dos juros termina em maio com Selic a 14,75%

Enfraquecimento da atividade econômica e diminuição da pressão inflacionária nos próximos meses apoia a expectativa do Banco Safra sobre a tendência para os juros

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O auge do consumo já passou, e tendência de esmorecimento da atividade econômica deve se tornar mais evidente nos próximos meses | Foto: Getty Images

O Banco Central afirmou na ata do último Comitê de Política Monetária que “dados mais recentes oferecem sinais incipientes de que alguma moderação do crescimento, em linha com o cenário-base, possa estar se iniciando, em particular no setor de bens e em setores mais sensíveis a crédito”.

Mas, sugeriu “parcimônia nas conclusões”, pois são indicadores de alta frequência e “no passado também houve dados que sugeriam desaceleração, percepção que foi revertida em meses subsequentes, refletindo apenas volatilidade nas séries, sem alteração na tendência de crescimento, que mostrou notável resiliência.”

Os dados do IBGE referentes à atividade econômica no mês de dezembro passado mostram retração em relação a novembro. O comércio varejista ampliado, ajustado sazonalmente, recuou 1,1% em relação a novembro, após a queda de 1,4% no mês anterior.

Assim, as vendas no varejo caíram 2,1% ao longo do quarto trimestre do ano passado, com destaque negativo para aqueles itens mais sensíveis ao crédito, como material de construção e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação.

O fraco desempenho do comércio ampliado no último trimestre de 2024 prolonga a relativa estagnação observada entre abril e agosto do ano passado, que havia sido quebrada por altas em setembro e outubro, completamente revertidas em novembro e dezembro. Assim, é valido caracterizar o desempenho do comércio desde o segundo trimestre como de tendência de fraqueza, a despeito da volatilidade do indicador observada em alguns meses.

A estagnação do comércio ampliado no semestre passado transmitiu-se à produção industrial, que acumulou retração de 1,2% nos últimos três meses do ano passado, com ajuste sazonal. Em particular, a indústria de transformação recuou 1,8% no período, com destaque negativo para a queda de 4,8% na produção de bens de consumo.

A importação também declinou nos últimos meses, diante do fraco desempenho do comércio ampliado e da produção industrial. O volume importado caiu 8,5% no quarto trimestre, com destaque para a retração de combustíveis, bens de consumo não duráveis e bens de capital. Ou seja, encontramos sinais significativos da “moderação” esboçada pela autoridade monetária.

A Pesquisa Mensal do Serviço apontou retração de 0,5% no setor em dezembro, acumulando queda de 0,5% no quarto trimestre de 2024. O indicador mostrou relativa estagnação do setor em julho e agosto, seguidos por dois meses de expansão, e retração em novembro e dezembro, reforçando as indicações de acomodação da atividade econômica.

O arrefecimento do comércio, da indústria e dos serviços já impactou a contratação de trabalhadores. O Caged apontou criação de apenas 23 mil vagas formais de emprego em dezembro, com ajuste sazonal. A média mensal do quatro trimestre ficou em 63 mil, abaixo da média de 130 mil vagas no terceiro trimestre e 158 mil vagas no segundo semestre.

A evolução mais fraca dos indicadores de atividade no segundo semestre de 2024 não incorpora ainda os efeitos esperados dos aumentos recentes da taxa de juros promovidos pelo Banco Central. A política monetária possui defasagem temporal e acreditamos que o aperto monetário impactará a atividade com mais força a partir de meados de 2025.

Assim, após a forte expansão da safra de soja no primeiro trimestre, esperamos retração da atividade já na virada do segundo semestre, podendo se estender a seguir.

O auge do consumo já passou, até pelo menor impulso fiscal no segundo semestre de 2024, e a tendência de esmorecimento da atividade econômica como consequência da política monetária mais contracionista deve se tornar mais evidente nos próximos meses.

Há expectativa de que deterioração da demanda doméstica ajude a moderar as pressões inflacionárias na segunda parte do ano, na medida que não se traduza em desvalorização cambial por dúvidas sobre a resiliência fiscal em um ambiente de menor atividade. O enfraquecimento da inflação apoia nossa expectativa de que a autoridade monetária encerrará o ciclo de aumento da taxa Selic em 14,75% a.a. em maio, patamar historicamente restritivo.


Eduardo Yuki é Superintendente Executivo de Economia do Banco Safra. Atua há mais de vinte anos no mercado financeiro. Possui mestrado em Teoria Econômica pela Faculdade de Economia e Administração (FEA), da USP.

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