close

Agência Estado

Liberalismo tomou Doril e sumiu

Ao intervir mais uma vez na Petrobras, o governo mostra que abandonou de uma vez o liberalismo da campanha eleitoral de 2018

Petrobras

Plataforma da Petrobras: ministro Paulo Guedes diz que estatal não é problema dele | Foto: Getty Images

A cena de uma entrevista do ministro da Economia, Paulo Guedes, lá de Paris, onde estava para reunião com a OCDE, talvez tenha sido o sinal mais emblemático do que está acontecendo no governo Bolsonaro. Na ocasião, Guedes, que não fora nem ouvido nem cheirado na substituição do presidente da Petrobras, mandou “boa sorte” ao novo comandante da companhia, Adriano Pires, e disse aos jornalistas: “A Petrobras não é problema meu”.

Na viagem, tentando de todas as maneiras convencer seus interlocutores de que é liberal, o ministro voltou a defender a privatização da empresa, embora não agora.  Mas, mesmo em Paris,  é difícil explicar que a maior estatal do Brasil não é problema do ministro da Economia. Dificilmente alguma autoridade ou investidor tenha acreditado nisso. Até porque, ao mesmo tempo, no Brasil, o candidato à reeleição Jair Bolsonaro passava mais uma vez com seu trator por cima do liberalismo de Guedes.

Não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira. Do ano passado para cá, o candidato Bolsonaro já esburacou o teto de gastos, reduziu impostos, aumentou subsídios e renúncias fiscais e tentou driblar a Lei de Responsabilidade Fiscal dezenas de vezes, sem indicar fonte de recursos compensatórios.

No caso específico do combustível, demitiu dois presidentes da Petrobras e deve agora, junto com Pires e com o Centrão, dar um jeito de frear os aumentos ao menos para o diesel e para o gás de cozinha. A hipótese mais provável agora é a criação, pelo Congresso, de um fundo de estabilização, que supostamente seria financiado com dividendos da Petrobras mas vai acabar no colo do Tesouro.

Desnecessário mencionar que Paulo Guedes e sua equipe são contra essa solução, assim como também não apóiam o reajuste de 5% que Bolsonaro quer dar ao funcionalismo federal. Mas isso não significa nada nos tempos atuais. Bolsonaro está pouco ligando para o ponto de vista técnico e fiscal. Diferentemente de boa parte de seus secretários, que já debandaram, Guedes não deixará o Ministério da Economia. Mas perdeu a agenda.

O liberalismo que, na campanha eleitoral de 2018, encantou setores do empresariado e do mercado, foi parar na lata de lixo do governo Bolsonaro. Além das promessas não cumpridas, como as privatizações, seus princípios foram sendo descartados ao longo do caminho. A pergunta que muitos fazem agora é o que Jair Bolsonaro apresentará às elites econômico-financeiras do país para que elas votem nele de novo em 2022…

Abra sua conta


Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra