A atividade econômica mundial está arrefecendo, o que permite o início do ciclo de redução da taxa de juros em diversos países. Nos EUA, a renda pessoal disponível cresceu apenas 1,1% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, a preços constantes, levando a uma moderação no consumo das famílias.
A estabilização das encomendas das empresas reduziu a demanda por trabalhadores nos últimos meses e, consequentemente, desacelerou os salários. A contenção dos custos de produção tem ajudado a reduzir a inflação ao consumidor, inclusive em serviços, o que deve levar o banco central americano (Fed) a iniciar o ciclo de redução da taxa de juros em setembro.
Na Alemanha, as encomendas para a indústria continuaram deteriorando nos últimos meses e a taxa desemprego do país atingiu 6,0%, maior
patamar desde maio de 2021. O modesto desempenho da atividade da zona do Euro levou o Banco Central Europeu (BCE) a iniciar o ciclo de
normalização da taxa de juros em junho.
Na China, a retração do mercado imobiliário mantém a confiança do consumidor em patamar historicamente baixo e prejudica as vendas no varejo, o que tem contribuído para a ausência de inflação. Isso levou o banco central a reduzir a taxa de juros em julho.
O desaquecimento da demanda nas principais economias colabora para o processo desinflacionário mundial.
No Brasil, a atividade econômica continuou em expansão no segundo trimestre. O arrefecimento da inflação e os efeitos defasados da redução da taxa de juros, além do pagamento de precatórios no final do ano passado, ajudaram a impulsionar o consumo das famílias ao longo dos últimos meses.
A melhora da confiança do empresário antecipou a expansão dos investimentos, especialmente em máquinas e equipamentos. Nesse ambiente, o mercado de trabalho permaneceu resiliente e a taxa de desemprego atingiu 6,9% em junho, na série com ajuste sazonal.
Banco Safra estima expansão do PIB real em torno de 2,5% neste ano.
Estimamos expansão do PIB real em torno de 2,5% neste ano.
As contas externas permaneceram saudáveis. O saldo comercial continua robusto e acumulou superávit comercial de US$ 96 bilhões nos últimos
doze meses. O volume exportado seguiu firme, com destaque para expansão de petróleo, minério de ferro, carne bovina, café e açúcar.
Assim, a conta corrente apresentou déficit de apenas 1,4% do PIB em junho, patamar historicamente confortável. Apesar disso, incertezas sobre o ambiente internacional e local pressionaram a taxa de câmbio recentemente.
A inflação arrefeceu: o IPCA acumulado em doze meses passou de 4,6% no final do ano passado para 4,2% em junho deste ano, incluindo os
efeitos adversos do evento climático El Niño sobre os alimentos. A média dos principais núcleos de inflação tem oscilado em patamar consistente com a meta.
Mas, a recente desvalorização cambial deverá pressionar os preços de bens transacionáveis nos próximos meses, o que levará o IPCA para 4,1% neste ano.
No âmbito fiscal, o resultado primário do setor público consolidado acumulado em doze meses apresentou déficit de 2,4% do PIB em junho,
incluindo o elevado pagamento de precatórios atrasados e compensações a Estados e municípios em dezembro do ano passado. Excluindo esses dois efeitos pontuais, o déficit fiscal ficou em torno de 1,5% do PIB no período. É importante destacar também que houve antecipação de
pagamento de alguns benefícios, como o 13º salário de aposentados e pensionistas.
Assim, após a expansão das despesas do governo central no primeiro semestre, haverá contenção na segunda parte do ano. O Banco Central do Brasil interrompeu o ciclo de redução da taxa Selic em 10,50% a.a., patamar considerando restritivo pela própria autoridade monetária.
A combinação de restrição monetária e aperto fiscal nos próximos meses deverá arrefecer gradualmente o consumo das famílias, beneficiando o processo desinflacionário no médio prazo.