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Claudio L. Lottenberg

Medicina tem um futuro promissor no metaverso

A medicina no metaverso tem potencial para resultar num sistema de saúde muito superior e em resultados muito melhores para o paciente

Telemedicina

O setor de saúde já tem condições de começar a fazer uso dos recursos tecnológicos para ampliar e melhorar o atendimento | Foto: Getty Images

Data de 1632 o famoso quadro “Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp”, do pintor Rembrandt Harmenszoon. A cena mostra um grupo que acompanha atentamente o procedimento realizado pelo Dr. Tulp, na Guilda de Cirurgiões de Amsterdã. Este parece se dirigir a um público além daquele grupo mais próximo, enquanto expõe tecidos e tendões da mão do corpo sobre a mesa. Hoje, quase 400 anos depois do quadro ter sido criado, um procedimento como o ali retratado não precisaria necessariamente ser feito com um corpo. Aulas de anatomia de realismo crescente, e muitos outros procedimentos médicos, vão acontecer no chamado metaverso.

Tecnologia e medicina há muito tempo estão integradas, mas essa integração vai ganhar um impulso muito maior com a chegada do metaverso. É preciso primeiro tentar entender um pouco melhor o que isso seria – e a principal dificuldade é que seu surgimento está no início, seus contornos ainda não são claros.

Começando pela evolução da internet: o avanço mais evidente e próximo é a velocidade 5G de conexão. Isso deverá tornar mais eficiente não só o uso de realidade virtual, mas também da realidade aumentada e de inteligência artificial. Esses quatro elementos, atuando em conjunto, vão criar um ambiente imersivo, com um grau mais profundo de interação do que o disponível com os recursos de hoje.

A telepresença, então, será mais que uma simples possibilidade, ou mesmo uma experiência já realizável, mas ainda não tão satisfatória. As reuniões virtuais, por meio da convergência daqueles quatro fatores, serão mais que reuniões por aplicativo de teleconferência. Serão, isso sim, cada vez mais similares ao estarem todas as pessoas numa mesma sala – estejam em cidades, países ou mesmo continentes diferentes.

E isso se estenderá à medicina – indo além da telemedicina que conhecemos hoje. Para tratamentos que não exijam exame físico presencial, o uso de realidade virtual poderá ser um recurso para uma experiência mais completa. Levar esse tipo de tecnologia a regiões distantes, onde infraestruturas médicas sejam de mais difícil acesso, vai proporcionar acesso a serviços de saúde a pessoas que muitas vezes precisam ir buscá-los em cidades vizinhas. Com internet mais rápida e em um ambiente mais imersivo, os resultados de testes e exames que precisem ser feitos presencialmente serão transmitidos com muito mais rapidez.

Claro que, na questão do acesso, serão necessários investimentos e políticas públicas para que todos possam dispor desses recursos. Não se pode permitir que as desigualdades existentes no acesso à saúde estejam também no metaverso. Com a otimização de custos que essa nova realidade permitirá fazer na área da saúde, mais investimentos poderiam ser feitos em expandir o alcance para populações e regiões menos assistidas.

Também é preciso superar uma barreira cultural: muitas pessoas ainda não sentem que uma consulta remota atenda suas expectativas – e isso se manifestou durante a pandemia. Embora a telemedicina tenha conquistado espaço entre as pessoas, há quem ainda resista à novidade. Campanhas educativas poderão mudar a percepção do público à medida em que ficar claro que, com a agilidade da internet rápida e com a facilidade com que médicos poderão trabalhar em conjunto no metaverso, os tratamentos poderão ser mais ágeis e resolutivos. O paciente será o grande beneficiado.

Essa realidade quase paralela, para a qual diversas atividades econômicas já se preparam (e na qual algumas já atuam), ainda é incipiente. O setor de saúde, no entanto, já tem condições de começar a fazer uso dos recursos tecnológicos para prestar atendimento às pessoas. Questões técnicas e de segurança de dados terão, sem dúvida, que ser encaminhadas, e o desafio do acesso igualitário também exigirá esforços de todos os atores envolvidos. Mas a medicina no metaverso tem potencial para resultar num sistema de saúde muito superior e em resultados muito melhores para o paciente. E tudo isso não em algum futuro insondável. Já está acontecendo.

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Claudio L. Lottenberg é mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), presidente do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

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