Quando estudamos Física na escola, aprendemos que Trabalho é uma grandeza que mede a transferência ou a transformação da energia. No atual cenário da economia americana, o mercado de trabalho tem sido essa energia que segue empurrando uma possível recessão para um momento futuro e ainda incerto.
A economia dos EUA adicionou 517 mil empregos em janeiro. A taxa de desemprego caiu para 3,4%, a mais baixa nos últimos 54 anos. Os números de fevereiro não devem repetir um desempenho tão forte, mas ainda assim podem sinalizar uma trajetória positiva.
Demissões anunciadas pelas grandes companhias do setor de Tecnologia na verdade têm sido compensadas pelas contratações em companhias de médio e pequeno porte. Essas empresas estão enxergando nesse movimento oportunidades para terem em seus quadros profissionais altamente treinados, capazes de ajudar a impulsionar novos negócios, principalmente os relacionados com soluções para geração de energia limpa.
Com dados econômicos tão fortes, estamos menos próximos de uma recessão do que as previsões iniciais para 2023 apontavam.
Mas o ambiente econômico segue delineando um cenário altamente incomum, onde boas notícias são ruins e notícias econômicas ruins são boas. Isso por causa da alta taxa de inflação persistente.
É verdade que estamos mais distantes do pico de inflação de 9,1% registrado em junho de 2022. Mas com um um índice de 6,4% no acumulado em doze meses até janeiro, a inflação está longe da taxa de 2% considerada saudável pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos.
Isso tudo importa porque as boas notícias econômicas, como o forte desempenho do mercado de trabalho, tornam a missão do Fed de reduzir a inflação mais complexa. Tudo indica que a autoridade monetária seguirá aumentando as taxas de juros até que a inflação ceda, mas flertando com as chances de uma recessão.
Para a população, de maneira geral, um mercado de trabalho ainda resiliente tem sido o porto seguro para buscar uma negociação salarial, recompondo as reservas financeiras e compensando a perda de poder de compra dos últimos meses.
Para muitos americanos, contas bancárias mais gordas foram um lado positivo da pandemia. Mas os cerca de US$2,7 trilhões extras em economias com gastos mais baixos, estímulo do governo ou ambos estão desaparecendo.
Cerca de 64% dos americanos, aproximadamente 166 milhões de pessoas, estavam vivendo de salário em salário no fim de 2022, de acordo com uma pesquisa elaborada pela Pymnts, que acompanha o segmento de meios de pagamentos nos EUA. Isso é um aumento de 61% em comparação com o ano anterior.
Para os trabalhadores com renda mais alta, os contracheques não estão indo tão longe quanto costumavam. Mais da metade (51%) dos profissionais que ganham mais de US$100 mil por ano relataram viver de salário em salário.
Estamos ainda no início de 2023, mas os temas relacionados a emprego, geração de renda e oportunidades de trabalho são fundamentais no cenário atual. Eles nos ajudam a entender as questões de base e as possíveis decisões de política econômica agora e seus efeitos para 2024, ano de eleição presidencial para os americanos.