close

Agência Estado

Ministros da Fazenda em fase de teste

Com quem conversa, Lula vem dizendo que já tem o perfil, mas não ainda o nome para a Fazenda. Com isso desencadeou uma corrida pelo cargo

ministros de lula

Se voltar ao Planalto, Lula quer ter no comando da economia um político muito afinado com ele, e muitos querem o cargo | Foto: Getty Images

O ex-presidente Lula deflagrou uma corrida no PT e partidos aliados ao afirmar que, se vencer a eleição, vai colocar um político no Ministério da Fazenda — que, tudo indica, não será mais da Economia, numa reconfiguração que deve recriar também as pastas de Planejamento e Desenvolvimento Industrial, por exemplo. Essa volta ao antigo organograma permitiria fazer um mix de políticos, técnicos e representantes do setor produtivo em sua equipe econômica, dentro do estilo Lula de ouvir vozes diversas e depois decidir sozinho.

A sinalização do perfil político mostra, antes de tudo, a preocupação de quem já governou no presidencialismo à brasileira, que contrapõe, nas principais decisões de governo, um presidente da República eleito com milhões de votos a um Congresso superpoderoso, eleito num sistema fragmentado de partidos e interesses. Depois  de Bolsonaro, então, os poderes do Legislativo aumentaram ainda mais, numa conjuntura de omissão e incapacidade de um presidente acuado politicamente que entregou tudo — inclusive a dinheirama do orçamento secreto — aos que lhe garantiram que não sofreria um impeachment.

Lula sabe que seu ministro da Fazenda tem que ser um hábil negociador com a turma do outro lado da Praça dos Três Poderes. Sem isso, vai ficar difícil governar e aprovar, num Legislativo sempre de maioria conservadora,  planos como o de votar rapidamente a reforma tributária e revisar a trabalhista, entre outras medidas no horizonte.

Para isso, o ex-presidente, se voltar ao Planalto, quer ter no comando da economia um político muito afinado com ele. Até porque ninguém imagina que não venha a ter ascendência total sobre  esse  personagem. Depois de governar dois mandatos, Lula acredita saber mais sobre a condução da economia brasileira do que boa parte dos PHDs que batem em sua porta.

Mas também não nomeará um neófito para a Fazenda. Os nomes que entraram na bolsa de apostas petista, e que se movimentam nesse sentido, são de políticos experientes, como ex-governadores e ex-ministros. O mercado chegou a se animar com a perspectiva de ver no comando da economia lulista o governador Rui Costa, da Bahia, de irrepreensível comportamento fiscal. Logo, logo, cresceu o olho dos colegas, e entraram no páreo Paulo Câmara  (PE) e Wellington Dias (PI).  Câmara vem sendo bombardeado no PT por ser do PSB, mas o fato é que Lula gosta muito dele. Foi o principal artífice da aliança com os socialistas.

A corrida dos governadores, por sua vez, atiçou as bancadas federais do partido. Por que não um deles? Entraram na roda, inclusive com o beneplácito de Lula, que passou a enviar parlamentares também — assim como fez com Guido Mantega e outros que não estão no páreo — para representá-lo em eventos com empresários e investidores. Entre eles, o deputado Alexandre Padilha (SP) e o senador e ex-governador Jaques Wagner (BA).

Padilha, ex-ministro da coordenação política de Lula e da Saúde de Dilma, reúne qualidades de hábil articulador  e executivo competente. É da geração mais jovem do PT, o que pode ser bom e também ruim para fazer seu nome transitar. Tem boas chances de ser ministro, talvez não ainda da Fazenda. Caso que, por outras razões, é semelhante ao de Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo e coordenador do programa de governo do petista. Certamente será ministro num governo petista, mas não da Fazenda, dizem observadores da psicologia petista.

Wagner, ex-ministro de uma dúzia de pastas e duas vezes governador da Bahia que elegeu e reelegeu o sucessor, surge no alto da lista de apostas. Não é apenas um aliado leal de Lula, que o chama de “Galego” — é seu amigo há décadas. Seu problema, porém, pode ser a falta de apetite para se sentar na cadeira, conhecida como uma espécie de “máquina de moer carne” na Esplanada. Há poucos meses, por exemplo, recusou uma candidatura promissora para voltar ao governo da Bahia.

Com quem conversa, Lula vem dizendo que já tem o perfil, mas não ainda o nome para a Fazenda — até porque tem que se eleger antes. Mas botou na rua um bando de possíveis candidatos ao posto,  que nos próximos meses vão conversar com integrantes do PIB, participar de eventos com gente do mercado, rodar o país e, sobretudo, trocar cotoveladas. Ministros da Fazenda em fase de teste.

Abra sua conta


Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra