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Agência Estado

Mitos e verdades (científicas) sobre a felicidade

Executivos que ganham mais de US$ 10 milhões por ano relatam níveis de bem-estar pouco maiores do que profissionais com salários suficientes apenas para tocar a vida

Pessoas felizes de Fiji correndo no mar

Com renda média abaixo de US$ 15 mil dólares ao ano, os habitantes de Fiji foram considerados os seres mais felizes do planeta | Foto: Getty Images

Cientistas de importantes universidades do mundo se debruçaram nos últimos anos em estudos sobre a felicidade. Todos eles, por caminhos diferentes, comprovam que o bem-estar duradouro é uma condição interna criada pelo próprio indivíduo.

Para a ciência, a felicidade, esse conceito abstrato por trás de quase toda escolha humana, é muito mais independente das condições “externas” do que sempre se acreditou.

Não são as circunstâncias objetivas da vida que definem se somos felizes, mas a forma como pensamos e lidamos com o que está dado.  

Professora da universidade da California, PhD por Stanford, Sonja Lyubomirsky é referência mundial no tema. Em seu livro “A Ciência da Felicidade” ela mostra do que é composto seu objeto de estudo.

Em cima de anos de observação (e reunião de outras pesquisas), ela afirma que 50% da felicidade do indivíduo advém da herança genética, 10%, das condições do meio, e 40%, da forma como pensamos. Logo, é passível de ser aprendida.

A conclusão de Lyubomirsky é simples, mas provocadora. Podem faltar alguns genes favoráveis e sobrarem adversidades, ainda assim a pessoa experimentar um estado pleno de felicidade? A resposta da pesquisadora é sim.

Norte-americanos que ganham mais de US$ 10 milhões por ano relatam níveis de felicidade pouco maiores do que os funcionários que empregam com salários suficientes apenas para tocar a vida.

A casa em que você mora, a marca do carro que você dirige, seus bens de consumo em geral incrementam sim o seu coeficiente de felicidade. Mas apenas dentro da proporção esperada, de 10%.

Quanto custa a felicidade?

Uma pesquisa de Angus Deaton, economista da Universidade de Princeton, indica que, nos Estados Unidos, o custo da felicidade é de aproximadamente US$ 75 mil por ano.

Abaixo desse patamar, mais dinheiro se traduz em muito mais felicidade. Acima, o aumento na percepção de felicidade começa a se estabilizar e, muitas vezes, decrescer.

Outro exame de dados de 150 países do Banco Mundial, realizado por economistas da Universidade de Michigan, também concluiu que os níveis de felicidade não são tão sensíveis ao aumento de renda. De acordo com a 80000hours.org, dobrar sua renda pode torná-lo apenas 5% mais feliz do que antes.

Uma das explicações sobre ganhos de renda não trazerem ganhos proporcionais de bem-estar, vem de um conceito da psicologia chamado de “adaptação hedônica”. Em um resumo bem simplista, as pessoas se acostumam muito rapidamente aos ganhos, eliminando o efeito do desejo alcançado pela renda maior no momento da conquista.

A conclusão da ciência é que a renda média que atende às necessidades da base da Pirâmide de Maslow, as fisiológicas e de segurança, é suficiente para uma vida feliz.  

No entanto, acima do patamar de doença ou fome, as determinações pessoais do que é ou não suficiente se baseiam em nossas comparações com os outros.

Os habitantes de Fiji, por exemplo, com uma renda média abaixo de US$ 15 mil dólares americanos ao ano, foram considerados em 2014 os seres mais felizes do planeta, de acordo com uma pesquisa WIN/Gallup.

Não existe, aos olhos da ciência, uma quantia que estabeleça e mantenha o estado emocional. E é fato que os que vivem na pobreza têm menos probabilidade de se sentirem felizes, por estarem expostos a fatores de estresse e ansiedade, geradores de infelicidade.

Mas dentro das numerosas exceções investigadas pelas dezenas de pesquisas sobre o assunto, observam-se exemplos de indivíduos que encontraram o estado de felicidade sustentado, mesmo dentro de situação financeira limítrofe.

Concordamos sobre o que é felicidade?

Os pesquisadores Ed Diener e Laura King reforçam que tornar-se mais feliz é muito mais do que sentir-se bem. Pessoas felizes são mais sociáveis, enérgicas, caridosas, cooperativas e mais queridas pelos outros.

Costumamos pensar o contrário, que as pessoas ficam mais felizes porque têm a sorte de terem mais amigos, serem mais amadas ou mais populares.

Indivíduos mais felizes estabelecem mais relacionamentos interpessoais e maior rede de apoio, o que incrementa expressivamente a qualidade de vida, independentemente dos contextos sociais. E acaba levando a maiores sucessos profissionais, dentro de qualquer ramo de atuação.

Pessoas felizes mostram mais flexibilidade e criatividade em seus pensamentos. Por isso são mais produtivas, líderes mais agregadores e melhores negociadores. Costumam ser mais resilientes, são mais saudáveis e vivem mais.

Felizes impactam positivamente nos lucros das empresas. Organizações que investem em bem-estar e estímulo positivo na vida de seus colaboradores, segundo o Center for Positive Organizational Scholarship, da Universidade da Califórnia, têm equipes com desempenho expressivamente maior. 

São equipes três vezes mais criativas, com superação de metas quase 40% acima de grupos não felizes e bem-sucedidos em quase todas as tarefas a que são designados.

Em outra pesquisa da consultoria Right Management, o nível de produtividade e desempenho dos funcionários que passam a se declarar mais felizes aumentou em até 50%.

Dados adicionais publicados na “Harvard Business Review”, pelo pesquisador e palestrante Shawn Achor, mostram ainda que a felicidade gera uma ampla gama de resultados profissionais e de negócios rentáveis:

  • As pessoas têm 23% mais energia em meio ao estresse
  • A precisão nas tarefas aumenta em 19%
  • Os colaboradores têm 40% mais chances de serem promovidos

A pesquisa de Achor destaca que quando seu cérebro está feliz, ele “tem um desempenho significativamente melhor do que no negativo, neutro ou estressado, gerando incremento na inteligência cognitiva”.  Além disso, a saúde melhora e a longevidade é estendida. Analogamente ao cérebro, podemos considerar a felicidade como um órgão que pode se desenvolver aprimorando a funcionalidade e, como um músculo, atrofiar se não receber o treinamento necessário.


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