A América Latina poderá estar vivendo uma fase de maior predominância de governos de esquerda desde o início do século. Existem hoje na região cinco governos de países relevantes apoiados por forças de esquerda: México, Argentina, Chile, Peru, Bolívia e Venezuela. As atenções, porém, vão estar voltadas para a potencial expansão da presença da esquerda na região a partir da provável eleição de Gustavo Petro, na Colômbia, e da eventual eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil. Caso tais vitórias se concretizem, a maioria esmagadora do PIB latino-americano estará sob a influência de modelos de esquerda.
Seria a onda esquerdista produto de um movimento coordenado? Ainda que os resultados combinados das eleições sejam interpretados como um fenômeno estrutural, cada país vive sua realidade específica. O Brasil, apesar de ter alguma influência regional, quase não é influenciado pelos acontecimentos regionais. A troca da direita pela esquerda ou pelo centro e vice-versa se dá mais pelo fracasso de uma escolha e do que pela virtude da outra. Boa parte do eleitorado busca a alternativa viável que está disponível no momento. Em que pese as narrativas de escolhas ideológicas, a maior parte do eleitor da região vota pensando mais no bolso e no emprego do que na ideologia.
Admitindo que a onda rosa, como foi chamado o fenômeno no início do século, se consolide na região, quais as consequências para o Brasil? Basicamente depende do resultado em nosso pais. Com Lula haverá uma tentativa de recuperar seu protagonismo internacional. Para isso poderá estimular a narrativa de que o subcontinente está mandando uma mensagem para o mundo de que a região busca um “novo” modelo. Sem Lula no poder a onda rosa perde consistência.
Interessante destacar que, pelo aspecto econômico a nossa dinâmica prosseguirá sendo a mesma e, basicamente, distante dos vizinhos. Enquanto a Argentina – que foi tradicional cliente do Brasil – estiver em crise – será tratada de acordo pelos agentes do mundo privado. Já os demais países continuarão a ser objeto de esforços pontuais e específicos.
Por outro lado, considerando que a qualidade institucional do Brasil é bem melhor do que a dos demais países e, em prevalecendo uma abordagem pragmática para a economia, podemos terminar nos beneficiando com a migração de investimentos para o país. Diferentemente de outros países da região, o novo presidente – seja ele quem for – terá que se amparar em um maioria de vários partidos em um Congresso predominantemente centrista.