No início de 2017 cheguei a pensar que, depois do tumulto do governo Dilma Rousseff 2, o Brasil escolheria um presidente mais calmo, mais institucional. Alguém com comportamento semelhante, por exemplo, ao de Geraldo Alckmin.
Rapidamente, porém, me dei conta de que não era por aí. Naquele momento, apenas duas narrativas estavam postas: a de Bolsonaro, o “anti-tudo”, e a de Lula/PT. O centro ficou emparedado nessa disputa e optou por Bolsonaro, apesar de Fernando Haddad, o “poste” lulista, lembrar mais um tucano progressista do que um antigo simpatizante de Stalin.
Em 2021, novamente emerge o sentimento de que o Brasil precisa de alguém mais institucional, menos personalista, e que renegue a polarização Bolsonaro x Lula. Tal sentimento já se manifestou por meio de certo saudosismo do governo Temer e no desejo de que o ex-presidente saia candidato em 2022.
Na sequência, o nome do senador Tasso Jereissati também foi apontado como potencial candidato. Ele mesmo, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, admitiu que seria pré-candidato nas prévias do PSDB.
Qual a viabilidade de surgir um “Joe Biden” no cenário brasileiro atual?
No momento, o desejo de que um candidato alternativo se apresente está fragmentado em muitas opções, mas nenhuma se mostra poderosa o suficiente para chegar ao segundo turno das eleições.
Os prognósticos continuam a manter Lula e Bolsonaro na disputa como favoritos. Um candidato de terceira via é potencialmente viável, mas isso dependerá de algumas variáveis.
A primeira refere-se à capacidade de Bolsonaro e de Lula de atrair apoios no eleitorado de centro. A segunda reside no eleitorado em potencial do candidato que se apresentar como alternativa centrista, para poder conter uma eventual desidratação do centro em direção aos polos. Ambas as questões serão respondidas com o tempo. E as respostas dependerão do andamento da pandemia.
Para surgir um Biden brasileiro é necessário que o centro tenha uma concertação política capaz de estruturar uma unidade mínima, conte com uma narrativa que quebre a polarização e disponha de um nome com viabilidade eleitoral. Mesmo que hoje não existam tais variáveis, a pandemia e suas consequências nos campos sanitário e econômico potencializam a imprevisibilidade do cenário eleitoral.
Além disso, a sucessão de 2022 será diferente da de 2018, quando tivemos um forte apelo anti-establishment, a partir do desmonte do sistema político promovido pela Operação Lava-Jato.
Assim, a imprevisibilidade da sucessão poderá abrir espaços para o surgimento de novos caminhos agora bloqueados. Embora a conjuntura americana seja diferente da brasileira, vale lembrar que até meses antes da eleição o hoje ex-presidente Donald Trump era o favorito contra Joe Biden.