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Claudio Felisoni de Angelo

O certo e o incerto

Diminuir a incerteza é, sim, sempre muito bom. Porém, é preciso ter em conta que ela é parte da vida

Bolsas asiáticas

“Os homens preferem geralmente o engano, que os tranquiliza, à incerteza, que os incomoda” (Marquês de Maricá) / Foto: Getty Images

Recentemente assisti uma palestra de um empresário brasileiro bastante conhecido. Muitas ideias foram colocadas que suscitaram minha reflexão sobre a gestão das empresas. Uma em particular provocou-me um pouco mais e suscitou o presente artigo.

Disse ele: “Meu pai sempre me dizia: respeite rigorosamente todas as leis. Entretanto, caso, por alguma razão, um dia você tenha que desobedecer a um sinal de trânsito, é melhor que você não observe o vermelho do que cruze uma via no azul de modo desatento”.

Infelizmente, no caso das situações que se vive em cidades como São Paulo é, por incrível que possa parecer, mais prudente desobedecer ao sinal vermelho do que ficar parado exposto ao oportunismo de algum assaltante.

Mas, a lição que o pai do referido empresário desejou passar ao filho era outra. Quando alguém cruza um farol vermelho, muito provavelmente o faz com algum cuidado, pois sabe que está fazendo algo que não deveria. Entretanto, se o sinal está verde, a atenção ao cruzar uma rua ou avenida é muitíssimo menor.

Desse exemplo o pai do empresário retira a seguinte lição. Deve–se procurar reduzir ao máximo o advento do acaso. Ou seja, quando alguém cruza o farol no vermelho, fica atento às possibilidades que possam surpreendê-lo. Em outras palavras: está no controle. Porém, se o sinal é verde, o indivíduo segue sem atenção. Está sob os desígnios da incerteza.

Embora a conclusão seja absolutamente correta, a incorporação da lição sem um contraponto, pode levar a um outro problema. As decisões são sempre tomadas em condições incertas. O que se pode discutir é o tamanho desse desconhecimento. As variáveis que determinam o futuro devem ser caracterizadas como probabilísticas e não determinísticas.

Diminuir a incerteza é, sim, sempre muito bom. Porém, é preciso ter em conta que ela é parte da vida. Um esforço desmesurado para se apropriar do incerto é, ao mesmo tempo, ineficaz e inútil. A areia que se comprime na palma da mão escapa entre os dedos quanto mais se aperta: “Os homens preferem geralmente o engano, que os tranquiliza, à incerteza, que os incomoda, disse o escritor, filósofo e político brasileiro Marquês de Maricá.

Portanto, assim como a gravidade exerce seu poder independentemente da vontade dos indivíduos, é essencial reconhecer que os riscos são sempre inerentes a qualquer processo de escolha. A centralização, como resposta a tentativa de mitigar riscos, pode eventualmente resolver alguns problemas, mas cria outros ainda maiores. A verdade desconcertante é que o futuro é desconhecido, mas, como disse o escritor Victor Hugo: é a oportunidade para os valentes.

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Claudio Felisoni de Angelo é professor e coordenador de Projetos da FIA Business School, ligada à Fundação Instituto de Administração da USP. Preside o conselho Laboratório de Finanças e Programa de Administração de Varejo da FIA. É professor titular do Departamento de Administração de Empresas da FEA/USP e presidente do IBEVAR - Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo.

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