Em uma economia complexa aquelas pessoas, ou instituições, com recursos financeiros excedentes, poupança, precisam ser conectados com outros indivíduos ou organizações com planos de investimentos. Esse é o papel e a importância da intermediação financeira.
Do mesmo modo que as pessoas em uma sociedade se distinguem em função da cesta de bens e serviços que consomem, também se diferenciam no uso dos recursos que geram. Tais diferenças se dão não apenas entre pessoas, mas também, é claro, em diferentes momentos do tempo para os mesmos indivíduos. Essa complexidade requer um sistema de resolução onde os ofertantes de fundos os colocam a disposição daqueles que desejam atender seus planos de investimentos.
Muitos são os instrumentos financeiros destinados a mobilização de recursos. Como em qualquer mercado, cumpre a esse sistema realizar suas atividades de modo eficiente. Em outras palavras, é sua tarefa ligar poupadores e investidores, de forma rápida, transparente envolvendo o menor risco possível.
Não há dúvida que o sistema financeiro brasileiro é um dos mais eficientes da economia nacional. Certamente as próprias dificuldades monetárias obrigaram as instituições ligadas a esse mercado a se prepararem em razão das mudanças drásticas e repentinas na gestão da economia nacional. Sim, com o propósito de conter a inflação, durante as últimas décadas, o governo lançou vários e sucessivos planos econômicos: Plano Cruzado I e II (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor 1 (1990), Collor 2 (1991) e Real (1994). Todos, evidentemente produziram significativas alterações no sistema financeiro exigindo a adaptação das instituições a ele vinculadas.
Muitas métricas podem ser relacionadas de modo a atestar o dinamismo do setor financeiro nacional. Tomemos inicialmente o número de pessoas com contas bancárias. Esse número vem crescendo ao longo dos últimos anos. Mas a partir de 2018, com a maior digitalização do setor, a expansão assumiu uma velocidade ainda maior. Considerando o sistema como um todo a quantidade de indivíduos com algum produto ou serviço do sistema financeiro registrou um crescimento de 50% entre 2018 e 2020. Hoje são pouco mais de 180 milhões de pessoas com algum tipo de relacionamento bancário. Ou seja, quase 85% de toda a população brasileira.
Essa inclusão é alentadora para o desenvolvimento do País por dois importantes motivos. Em primeiro lugar porque ao aproximar os indivíduos do sistema financeiro se ampliam as possibilidades para disseminar princípios de educação financeira. Tais direcionadores são essenciais para melhor qualificar os indivíduos em relação à administração de seus ganhos. O outro aspecto é a captação de recursos de forma a aumentar a capacidade de financiamento das atividades produtivas. Ou seja, a maior disponibilidade dos recursos financeiros oferecidos pela expansão da rede de captação (bancarização) potencializa as operações de financiamento.
Vejamos então sob o ângulo de uma outra métrica o desempenho do sistema, isto é, da concessão de crédito. A participação do crédito no PIB vem aumentando continuamente. O volume total de crédito, que representava 26% do PIB em dezembro de 2002, atingiu 45,2%, em dezembro de 2010 e 54% em dezembro de 2021. O número de tomadores classificados pelo Banco Central como microempresas quase triplicou no período 2012 a 2021. O número dos microempreendedores individuais (MEI) cresceu, de 2016 para 2021, 58%.
Tomando agora apenas o período de janeiro de 2020 a dezembro de 2021, período crítico da pandemia, os dados do Banco Central mostram que as concessões de crédito recursos livres para pessoa jurídica, saldo em moeda corrente, se expandiram 75%. Nesse mesmo período a inflação acumulada foi de 14% (IPCA), o que resulta em um crescimento real da ordem de 53%.
Em que pese o fato de que em 2022 deve-se esperar um mercado de crédito menos ativo, devido ao comprometimento de renda das famílias, nível de endividamento, os dados históricos mostram claramente o importante papel articulador do sistema financeiro nacional percebido, de um lado pelo aumento das pessoas vinculadas a esse processo e, de outro, em razão da ligação entre poupadores e investidores.