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Ilton Caldeira

O velho dragão se apresenta para uma nova audiência

O calendário eleitoral nas duas maiores economias do continente coloca um pouco mais de pimenta na equação da inflação para 2022

Inflação nos EUA e no Brasil

Sete em cada dez americanos veem a inflação como um problema muito grande para o país, muito pior que a pandemia | Foto: Getty Images

A inflação sempre foi um tema desconfortável de se abordar e um incômodo de conviver, em qualquer parte do planeta. Investidores e a sociedade em geral sentem a necessidade de proteger e, na medida do possível, recompor o poder de compra o quanto antes.

Nos Estados Unidos a inflação foi apontada como a principal preocupação que o país enfrenta atualmente. Sete em cada dez americanos veem a inflação como um problema muito grande para o país (70%), seguido pela acessibilidade a cuidados de saúde (55%) e crimes violentos (54%). Os dados foram revelados por uma pesquisa do Pew Research Center realizada entre 25 de abril e 1º de maio.

A pandemia de coronavírus foi mencionada por apenas 19% dos americanos como a principal preocupação. Esses números dão a dimensão de como a percepção dos riscos que afetam a vida do cidadão comum sofreu uma mudança rápida e radical em poucos meses.

O dado mais recente sobre o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em Inglês) revela uma inflação acumulada em 12 meses até abril de 8,3%. Uma novidade para boa parte dos americanos e algo muito distante da meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano.

Nos últimos quarenta anos o país debelou o dragão e navegou com certa previsibilidade no campo econômico. Mas agora, mais da metade da população do país, que nunca viveu sob um cenário de preços em constante ascensão, se deparam com um desafio inédito: ampliar a geração de renda e buscar opções de investimentos capazes de ajudar a preservar o poder de compra.

Esse temor para as novas gerações não é exclusividade dos habitantes das terras do Norte. No Brasil, os mais jovens, apesar de nunca terem se livrado por completo da ameaça de inflação que tanto castigou seus pais e avós, não conviviam há muito tempo com o risco de verem o índice oficial de inflação se consolidar na casa de dois dígitos.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do Brasil, está em 12,13% no acumulado em 12 meses. Mesmo com o Banco Central praticando sucessivas altas na taxa básica de juros Selic, o indicador de preços segue distante do centro da meta de 3,5%.

Mas diferentemente dos Estados Unidos, onde o mercado de trabalho segue aquecido, com mais vagas que profissionais dispostos a ocupar os postos disponíveis, o que tem gerado uma elevação nos salários como forma de atrair e reter talentos, as opções para incrementar renda no Brasil, via mercado formal de trabalho, se mostram pouco promissoras no momento.

O Fed resolveu agir de forma mais firme para tentar debelar o curso inflacionário no país. No início de maio, a taxa básica de juros foi elevada para o intervalo entre 0,75% e 1%, uma alta de 0,5 ponto percentual. A última vez que a autoridade monetária promoveu um movimento com essa magnitude foi em maio de 2000.

O calendário eleitoral nas duas maiores economias do continente coloca um pouco mais de pimenta na equação para 2022. Isso sem contar com os conflitos armados ao redor do mundo embaralhando as cadeias de produção e de distribuição. Os próximos meses podem nos apresentar, com maior frequência, cenários denominados como “novo normal”.

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Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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